One Shots - Wenclair

Nobody's perfect

Então é assim que acontece quando nos apaixonamos? Nós ficamos nervosos perto da pessoa, com a sensação de ter borboletas no estômago, com vontade de agradar a todo momento, sempre sorrindo por nenhum motivo?

Porque... se for assim, acho que eu estou apaixonada. Eu estou apaixonada, estou apaixonada pela minha melhor amiga.

Não, ela não é minha melhor amiga, ela não pode ser resumida a apenas isso. Wednesday Addams jamais gostaria de ser resumida apenas a isso.

Ela é mais que apenas minha melhor amiga. Ela é a pessoa que eu confiaria a minha vida, ela é a pessoa que eu ligaria caso o mundo estivesse desmoronando, ela é a pessoa que eu admiro, ela é... a minha pessoa. Ela particularmente acharia muito nojento o modo como estou toda boba apaixonada falando sobre ela.

Ela é simplesmente o motivo dos meus sorrisos no meio do trabalho, é a lua, ela ilumina os meus dias, mesmo que indiretamente, faz sentir-me mais forte, me cura. Mas ela também é meu sol de verão, aquele que me traz boas lembranças e a sensação de casa, a sensação de pertencimento a algum lugar.

Nas matilhas, as pessoas não se apaixonavam, elas simplesmente casavam porque seus pais concluíram que elas eram perfeitas uma para a outra. Mas em Nevermore, as pessoas sonham em se apaixonar, elas sonham que um dia sentirão um amor tão grande por uma pessoa que seriam capazes de buscar a lua por ela.

Uma vez eu li, em um dos muitos livros que há na biblioteca de Nevermore, que há uma crença dos deuses gregos que quando nós fomos feitos, fomos feitos completos, com quatro braços e quatro pernas, e uma única cabeça com duas faces. Nós também dividíamos os pulmões e o coração. E éramos completos, éramos suficientes. E os deuses, por medo que nós parássemos de temê-los, nos separaram. E desde então vagueamos pelo mundo em busca da nossa outra metade.

Eu acredito muito nesta crença, porque o ar se esvai de meus pulmões toda vez que a vejo e meu coração entra num ritmo desenfreado todas as vezes que ela sorri para mim.

Creio que cada um tem sua crença do que é a sua metade, sua metade pode ser um esposo ou uma esposa, um filho ou uma filha, um pet, um quadro ou até algum objeto usado para fins de prazer e alívio sexual. Realmente, sem julgamentos.

Minha metade é a Wednesday. Wednesday Friday Addams, a garota que viveu aventuras tenebrosas durante sua vida inteira, a herdeira dos Addams, a escritora mais brilhante da Terra, a garota prodígio, a garota que tem alergia a cores, a garota que tem um maxilar afiado, a garota que veste-se para matar, a garota genial que consegue responder a qualquer pergunta feita, a garota que expira poder, a garota que consegue desestruturar qualquer pessoa com apenas um olhar.

Minha metade é ela, a garota que fez metade do meu antigo quarto colorido virar cinza, a garota que aprecia um bom crime e um bom assassinato, a garota que usou o "chachepuz" que eu fiz para ela, a garota que cheira a lar, a garota que tem um sardas estupidamente sexys, a garota que tem um sorriso que poderia iluminar uma cidade inteira, mas guarda apenas para mim, a garotas que tem olhos num tom tão escuro de castanho que quase são pretos, a garota que conseguiu abrir-se para mim mesmo tendo inúmeras barrreiras.

Mas... e se eu não for a metade dela? E se, a metade dela for outra pessoa? Então esse sentimento todo vai ser quebrado... como uma promessa? Ele vai se tornar um papel amassado? Ele vai ser a maior mentira na qual já acreditei? Ele vai ser o tom de azul mais escuro que já me permiti ver?

E então aqui estou eu, escrevendo uma carta à ela, expondo tudo o que sinto, na esperança de que ela me corresponda.

Jericho, 13 de janeiro de 2023.

Querida Wednesday, você deve estar se perguntando o por quê de ter escrito isso para você em vez de simplesmente te falar pessoalmente. Bom... fiz isso porque sei que não conseguiria falar isso para você ao vivo, você é intensa demais para uma lobinha medrosa como eu.