Madrugada do 2 de Novembro

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  Enquanto viva eu aprendi muitas coisas, uma delas é de que não se pode enganar a morte, fugir dela e até mesmo evitá-la a todo custo; cedo ou tarde ela te acha, então, bom, eu espero que voce aproveite a vida da melhor maneira possível, antes que seja tarde demais para se arrepender de tudo o que voce não fez.

  Antes de morrer eu conheci um lugar muito especial. Me lembro de passar ali todos os dias, desde quando  eu era uma garota de 8 anos de idade. Minhas bonecas nunca me pareceram atrativas demais para que eu passasse horas a fio com elas em um quarto brincando sozinha. Eu gostava de coisas inexplicáveis, coisas que me deixassem com fios soltos na cabeça e com nós nos cabelos de tanto fazer tranças enquanto escutava histórias de toda e qualquer pessoa que estivesse disposta a contá-las para mim.

  Na madrugada do 1 de Novembro eu corria pelas ruas vazias da cidade o mais rápido que podia. Eu havia saído de casa horas aatrás na intenção de achar mais histórias por aí. Eu não corria de medo, eu ria enquanto o vento soprava nos meus cabelos fazendo nós que talvez  minha mãe fosse reclamar de ter que me ajudar a desembaraçar depois. Aos poucos fui diminuindo meus passos,a té que pude finalmente ver novamente o Jardim dos Mortos bem na minha frente. Aquele era meu lugar de consolo e de felicidade. Desde que eu tinha 8 anos  eu dava um jeito de fugir durante a madugada do 1 de Novembro para chegar até ali. Era lá onde as melhores histórias estavam junto com pessoas incríveis e surpreendentes. Passei pelos portões enferrujados de um antigo azul muito bonito, mas que agora estavam cobertos de cascas e machados de cor-de-cobre. Enquanto eu cruzava a linha entre os mundo eu pude ver corpos gasosos de pessoas, algumas estavam com vestidos de tons belíssimos, outros com fardas militares e outros com roupas tão antigas que eu sequer poderia me lembra dos nomes dos livros de história onde apareciam.

  Uma moça chamada Elizabeth de 16 anos de idade acenou para mim com seu vestido rosa bebe antigo balançando no graciosamente fazendo par com seu sorriso encantador e doce. Mais a frente eu fiz posição de sentido para um homem fardado do ano de 1980 carregando uma arma bem mais antiga que ele próprio, ele me disse " Descansar soldado!" e eu ri. Mais a frente encontrei um homem com roupas sociais dos anos de 1900, ele sorriu e abaixou seu chapéu me cumprimentando alegremente,eu sorri de volta envergonhada. 

  Eu passei por muitas pessoas, chegando cada vez mais fundo no Jardim até encontrar um velho sentado em um banco de ferro e madeira fumando um cachimbo. Eu o havia encontrado mais uma vez, eu sorri de felicidade pura quando pude ve-lo mais nitidamente.


-Senhor Albert voce ainda fuma? - Eu perguntei me sentando ao seu lado.


-É claro. Posso ter morrido mas tenho certeza de que meu cachimbo sempre continuará aceso não importa quanto tempo se passe.


-É claro que vai. Seu cachimbo é incrível mesmo.


-Ora, só o cachimbo que é incrível huh? -  Disse ele com um tom risonho olhando para mim com seus olhos gentis enquanto segurava o cachimbo nos dedos e me entregava seu chapéu com uma flor vermelha belíssima como presente - Nós sentimos sua falta Marina, é relamente uma pena que voce só possa nos visitar uma vez no ano.


-É realmente péssimo; ninguém tem habilidade o suficiente para me contar histórias tanto quanto todos voces. 


-Ninguém mesmo?


-Ninguém. É muito raro encontrar histórias tão boas quanto as suas. Eu gostaria  de escrever um livro com todas as histórias que voces me contam e mostra para as outras pessoas suas aventuras e histórias mirabolantes e incríveis.


-Ah querida, com certeza seria incrível, mas algumas coisas devem permanecer com os mortos. Já imaginou se todos soubessem das histórias de como o Soldado Marcos invadiu a base inimiga e roubou todas as anotações? O mundo certamente adoraria essas histórias.


-Sem dúvidas.


  O Antigo Relógio bateu uma hora da manhã fazendo com que as pessoas sorrissem e fossem conversar umas com as outras alegremente. O 2 de Novembro era o único dia em que Marina podia conversar com os mortos e ouvi-los, fazendo-os dar risadas e dançarem até que o sol raiasse e depois disso.

-Bem, acho que voce gostaria de ouvir algumas histórias não é? Vamos andar um pouco, quem sabe encontramos algo fascinante como no ano passado? E então, o que me diz senhorita Marina? Aceitaroa que eu te guiasse em um passeio?


-Certamente senhor Albert. - Eu estendi minha mão para segurar a dele mais uma vez, assim como da última vez no ano passado. Ele me guiaria de novo até as mais belas fantasias e contos de terror, eu certamente estava pronta para que o Jardim dos Mortos me encantasse mais uma vez.

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