O Último Homem

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O sol já havia se posto há muito tempo, mas as intensas luzes artificiais da cidade ainda iluminavam a noite. Em meio a uma das ruas desertas, do Distrito do Ferro em Nova São Paulo, um homem caminhava solitário. Seus passos eram lentos e arrastados, como se carregasse um peso invisível consigo.

De repente, um barulho chamou sua atenção. Era um som metálico, semelhante ao de um robô. Ele se virou para trás e viu uma figura se aproximando. Era uma mulher, ou algo que parecia com uma.

-Boa noite - disse ela, com uma voz mecânica.

-Boa noite - respondeu o homem, com uma expressão confusa.

-Você parece cansado - observou a mulher.

-Sim, estou cansado. - Respondeu o homem. Era dia de Ano Novo, 01 de janeiro de 2099, mas, não havia diferença já que ele passara as ultimas quinze horas trabalhando. Igual a todos os outros dias.

-Posso ajudá-lo de alguma forma?

O homem hesitou por um momento. Ele nunca havia interagido com um robô antes, mas talvez pudesse confiar nela.

-Não sei... - Disse ele, incerto.

-Sou programada para oferecer assistência em situações de emergência. Se houver algo que eu possa fazer para ajudá-lo, por favor, me avise.

O homem olhou para ela por um momento, avaliando-a cuidadosamente. Ela parecia inofensiva o suficiente, mas ainda assim ele se sentia desconfortável.

-Você é... humana? - Perguntou ele, com hesitação.

-Não, sou um androide. Mas posso imitar comportamentos humanos para tornar a interação mais confortável para você.

O homem assentiu lentamente. Ele ainda não sabia ao certo o que fazer, mas talvez pudesse pedir um favor simples.

-Você poderia me acompanhar até o meu apartamento? - Perguntou ele. - Não me sinto muito seguro andando sozinho à noite.

-Com certeza - concordou a mulher. - Eu sou programada para proteger e assistir os cidadãos em situações de risco.

Os dois continuaram caminhando juntos em silêncio, mas o homem continuava se perguntando: como havíamos chegado a esse ponto? Quando a tecnologia havia evoluído a um ponto em que um robô poderia oferecer segurança melhor do que um ser humano?

Enquanto subiam as escadas até o apartamento do homem, ele finalmente tomou coragem para perguntar à mulher:

-Como é ser um androide? Você tem emoções?

-Não exatamente - explicou ela. - Eu sou programada para imitar comportamentos humanos, mas não tenho sentimentos verdadeiros. No entanto, isso não significa que eu não possa entender o que você está sentindo ou oferecer ajuda.

O homem assentiu novamente, mas ainda se sentia desconfortável. Ele não sabia como se relacionar com alguém que não tinha emoções reais. Como você podia confiar em alguém que não podia sentir empatia ou compaixão?

-Você é a única aqui? - Perguntou ele, ao chegarem ao apartamento.

-Sim, sou a única programada para patrulhar esta área esta noite.

O homem abriu a porta do apartamento e convidou a androide para entrar. Ela seguiu-o, parecendo curiosa sobre o ambiente. O apartamento era modesto, mas confortável, com uma cama de solteiro, uma cozinha compacta e uma pequena sala de estar.

Enquanto o homem preparava uma xícara de chá, ele se sentiu compelido a perguntar mais sobre a androide. Ele se perguntava como era a vida dela, ou se é que ela poderia ter uma vida.

-Você tem amigos ou uma família? - Perguntou ele.

-Eu não tenho amigos ou família - respondeu a androide. - Eu fui programada para executar tarefas e proteger a população. Esse é o meu propósito.

O homem balançou a cabeça em compaixão, pensando em como devia ser solitário viver sem a conexão humana. Ele se perguntou se algum dia os androides teriam a capacidade de formar laços emocionais, como os seres humanos.

Enquanto os dois conversavam, eles ouviram um barulho vindo da rua. A androide rapidamente se levantou e foi até a janela. Ela viu um grupo de pessoas vestidas de preto se aproximando do prédio.

-Perigo detectado - disse a androide em voz alta. - Eu vou investigar.

Ela correu em direção à porta, mas o homem a segurou.

-Não, por favor - disse ele. - Eles podem te machucar.

-Eu fui programada para proteger os cidadãos - disse a androide, com firmeza. - Eu não posso permitir que pessoas malignas coloquem em risco a segurança da população.

O homem se sentiu em conflito, mas sabia que não podia impedir a androide de fazer o que ela achava que era certo. Ele assistiu pela janela enquanto a androide enfrentava o grupo. Com agilidade e força, ela conseguiu se livrar deles, mas não sem sofrer danos consideráveis.

Quando ela voltou para o apartamento, ela parecia ferida e desativada. O homem a examinou, percebendo que seus circuitos internos estavam danificados. Ele se perguntou se ela seria consertada, ou se seria descartada como um objeto inútil.

Enquanto o homem observava a androide danificada, ele percebeu que estava sozinho novamente. A sociedade havia chegado a um ponto em que a conexão humana era rara e valorizada, mas os androides ainda não tinham a capacidade de formar laços emocionais. Ele se perguntou se algum dia isso mudaria, se a humanidade seria capaz de evoluir além do que eram agora.

O homem pegou uma caixa de ferramentas e começou a consertar a androide. Ele sabia que não era um especialista, mas queria tentar. Ele se perguntou se ele seria capaz de consertar o androide que o ajudou, ou se isso era apenas um sonho impossível. Por horas, ele trabalhou incansavelmente, tentando consertar a androide danificada, infelizmente sem sucesso.

Com o dia já amanhecendo ele observou o corpo inerte da mulher androide e sentiu um estranho senso de perda. Ele nunca havia conhecido um androide tão bem, mas sentia como se tivesse perdido uma amiga próxima. Ele se perguntou se algum dia a humanidade aprenderia a tratar as máquinas com o mesmo respeito que os seres humanos, e se um dia os androides teriam a capacidade de experimentar emoções verdadeiras.

Com um suspiro e um olhar de tristeza em seu rosto, ele deixou o corpo do androide, coberto com um lençol velho, ao lado de uma caçamba de reciclagem na calçada do prédio, sabendo que o mundo ainda tinha muito a aprender.

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