Achei este num pequeno cofre pessoal, havia diversos deles no chão, a maioria não havia nada. Este sobreviveu por algum milagre, os novos deuses devem ter me abençoado com tamanha sorte. Oh, é daquela mulher que lemos agora pouco sobre. Achamos um desfecho, haha! Tomara que tenha descoberto o que aconteceu a ela.
Quando acordei, não sabia o que estava acontecendo. Meu corpo doía, via uma luz diretamente em meu rosto, pessoas de lá para cá tocando meu pescoço e boca com instrumentos.
Eu desmaiei, mas ainda ouvia o que os outros diziam. Tinha uma criança bem animada que sempre falava comigo, algumas pessoas que iam e vinham na sala e ela, Eleanor. Vinha constantemente me visitar, conversava comigo, me contava as coisas, mesmo sabendo que não podia falar.
Quando acordei, senti algo em meu rosto, cobria meu nariz até pescoço. Não sentia minha língua, sequer meu rosto ou dentes. Não mentirei que entrei em desespero, tentei arrancar aquela coisa de mim. Uma jovem gritou para mim, correu para me impedir.
Ela me explicou o que aconteceu. Chorei, muito. Imagine acordar sem os dentes, língua e não poder falar, comer e respirar naturalmente? Mal dormi aquela noite. Mas Eleanor veio a me visitar enquanto isto. Conversamos bastante. Parece que nos conhecemos a anos, mas apenas me lembrava de seu nome.
Contou-me as histórias de nossas aventuras e batalhas de guerra. De nossas traquinagens pelo quartel e nossas escapadas. Porém, depois da guerra acabar, nos separamos. Ela não sabe o me ocorreu neste meio tempo afastadas. Após horas, convenci que deveria voltar para casa e deixar-me ali.
Durante a madrugada, continuei sentindo constantemente. Uma fome insaciável. Minha pele parecia borbulhar. Meu estômago se revirava a todo momento e apenas queria poder degustar uma simples fruta.
Me vi sobre a pia inconscientemente diversas vezes na noite. Suava frio e tremia. Talvez fosse o choque que me deixou assim. Mas não sentia que eu era eu mesma. Minha mente poderia estar pregando uma peça em mim. Ela poderia estar assustada tanto quanto eu.
Mas sinto que minha pele não é minha. Senti meu estômago jogar fora o que não tinha, vomitei. Me dei conta que um compartimento abriu e jogou-o fora, aquela criança pensou em tudo, porém foi apenas água jogada fora.
Vi em meus olhos. Estavam negros, não verdes como sempre foram, por um único momento. Minhas costas doíam, meus músculos pareciam gritar. "A máscara", foi o que pensei. Minhas unhas se quebraram tentando arrancá-la.
Joguei-a ao chão com o resto de energia que tinha e me deitei ao seu lado. Meus ossos se moviam sozinhos e comecei a sufocar. Não respirava sem ela. Em um momento que vi tudo se apagar, abri os olhos após consegui puxar o ar finalmente.
Os pulmões que pareciam congelados voltaram, senti meu coração acelerar e respirava como antes, pensei haver esquecido da sensação. Meus ossos não dançavam mais, porém ao tocar meu rosto percebi algo de errado.
Duas protuberâncias ósseas, saiam em meia-lua onde minha mandíbula se apoia em meu crânio. Tinha pontas, dentes acredito. Não possuía nariz, mas conseguia respirar ainda sim. Mas possuía marcas no que surgiu.
Não sei o que acontecera depois, pois mal me lembro. Apenas sei que quando voltei ao banheiro, coloquei de volta a máscara, me limpei meus dentes da carne e após aquilo se desfez. Sentia-me satisfeita. Sentia-me viva.
Toda noite fazia o mesmo, mas fingia não saber o que acontecia, pois me sentia bem. Meu corpo não colapsou mais como aquela noite. Ainda quero entender o que está acontecendo comigo e o que levou-me a isto. Pelo menos, me sinto viva.
Nossa. Isso foi estranho, sinto pena dela. Toda a luta de alguém que mal se lembra de si mesma e tenta respirar. O que será que aconteceu com ela após ter tirado a máscara?No final ela disse limpar seus dentes da carne, mas ela não tava sem a mandíbula? Como mastigava e comia? Ah, que curiosidade assassina! Adoraria entender o que aconteceu com ela.
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Maquinário Tóxico
Ficción GeneralAlguns chamam-me de viajante, andarilho ou um trotador de mundos, mas acredito que sou um colecionador. Meu trabalho é juntar peças, objetos mortos que um dia já contiveram sentimentos, desde aqueles com valores incríveis quanto lixo. Meu destino d...