Palavras que borbulham como chocolate quente

15 0 0
                                    

Caleb cumpriu com sua fala e voltou no dia seguinte a biblioteca para se encontrar com Raissa, ação que se repetiu por dias, sempre estava lá antes mesmo dela chegar. Romulo nunca notava quando ele entrava lá, e sempre se assustava quando o via conversar com sua filha no fim do corredor.

"Por que ainda não está na esscola?", a menina preocupada perguntou ao seu amigo.

"Estou tendo aulas particulares em casa já que falta pouco para o fim do ano."

"Ser de uma família rica deve ser bom, queria trocar de lugar com você por alguns dias, só para ver como é!"

"Se te contasse sobre o lugar de onde venho, não acreditaria."

"Pois conte, adoraria saber como é a capital. O Rio de Janeiro tem muitas confeitarias e parques de diversões?"

Edrey riu com a pergunta inocente da garota e se levantou da mesinha para pegar uma folha de papel por perto, mesa a qual agora havia duas cadeiras. Enquanto desenhava um mapa de sua cidade natal, Raissa o admirava concentrada.

"Gosta do que vê?", o menino perguntou vendo que ela o olhava de canto.

"Não, esse mapa está horroroso, seu talento para desenho consegue ser mil vezes pior do que o meu, o qual já é terrível."

Ao olhar novamente para o papel, os dois riram do conteúdo totalmente incompreensível. Romulo chegou à mesa com duas xícaras, já acostumado de que Edrey estaria lá.

"Aproveitem o chocolate quente, é a melhor coisa em uma tarde de outono."

Enquanto o pai de Raissa se afastava, o jovem teve uma grande ideia.

"Ei, quer uma indicação de um livro bom? Vem comigo."

Raissa, com sua personalidade extremamente curiosa, topou sem pensar. A biblioteca era grande e Caleb a estava levando para a seção de livros antigos, longe do início da loja.

"Você disse que não gosta da literatura portuguesa, mas acho que deve dar uma chance ao Os Lusíadas."

"Por que? Já li o começo e achei bem chato."

"Você não chegou nem ao capítulo dois, leia um pouco mais!", o garoto falava enquanto se aproximava com o livro.

Os dois ficaram em silêncio, encarando um ao outro naquela seção afastada. Os olhos dos dois entraram em consenso sobre o que fazer. Um beijo entre jovens apaixonados se iniciava, ficando cada vez mais feroz. O barulho dos corpos se chocando contra as prateleiras se tornava mais alto, começando a chamar a atenção das pessoas na loja.

"Acho que chega por aqui", Raissa diz com o rosto corado.

"Você não achou que eu vim para cá para te mostrar Os Lusíadas, certo?"

Com a expressão de indignação da garota, Edrey não conseguiu segurar o riso. O relógio da biblioteca sinalizava quase cinco horas da tarde, momento em que ele se despedia.

"Está na hora. Até amanhã!"

"Ei, deixa eu ir com você. Pedi ao meu pai que me deixasse sair mais cedo hoje!", a jovem exclamava com um sorriso radiante.

Opostamente, no rosto de Edrey se formava uma expressão preocupada.

"Tem um motivo para que eu não possa te levar ainda, algum dia deixo você vir comigo."

"Tudo bem, mas posso ver seu relógio de bolso?"

"Como?"

"Esse relógio que fica na sua calça, quero vê-lo."

O sutil menino da biblioteca (One Shot)Onde histórias criam vida. Descubra agora