⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀╰► 𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐈𝐈 | SENTIMENTO CURIOSO.

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❝Você vai ter que encontrar
Aonde nasce a fonte do ser
E perceber meu coração
Bater mais forte só por você❞

Quem sabe isso quer dizer amor, Milton Nascimento.

⠀⠀⠀Naquele dia, fariam seis semanas exatas desde que Tibério conseguiu ouro suficiente e não precisou mais sofrer tanta tortura de seu senhor

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⠀⠀⠀Naquele dia, fariam seis semanas exatas desde que Tibério conseguiu ouro suficiente e não precisou mais sofrer tanta tortura de seu senhor. Após roubar um pequeno espelho da casa de uma rica família e implorar algumas fitas coloridas para Dona Marta, ele retribuiu o favor de Mãe d' Ouro. A mulher continuou o ajudando por todo esse tempo, o observando enquanto ele trabalhava e retirava apenas o suficiente da mina.

⠀⠀⠀Tibério já havia satisfeito seu patrão o suficiente para aquela semana, mas ainda insistia em ir até o lugar recluso.
Depois de uma pequena distração, ele conseguiu correr para a floresta. Tibério ia a procura dela novamente, cego de amor.

⠀⠀⠀Luzia já havia visto a chegada do homem, e se preparava para recebê-lo sorridente. A verdade era que ela nunca teve muito contato com homens tão proximamente. Ela seduzia maridos de mulheres infelizes e abusadas para as minas, e os matava soterrados, mas isso era o maior contato que ela mantinha com o sexo oposto. Tibério não ficava muito para trás nesse quesito.
Seu único contato com outras mulheres era com Dona Marta e sua falecida irmã, Tina.

⠀⠀⠀Sendo assim, não era surpresa que um sentimento curioso começasse a surgir entre eles. Os encontros de tarde mesmo sem motivos e os momentos em que suas mãos se encostavam sem querer, causando uma eletricidade por todo o corpo dos dois adultos, despertavam algo novo.

⠀⠀⠀Assim que Tibério apareceu por entre as árvores, Luzia deixou sua forma de bola de fogo e se transformou na linda mulher que havia ajudado Tibério. Ela sorriu para o garoto, que se aproximou em passos lentos.

── Você parece cansado. ── Luzia se apressou em falar, deixando seu sorriso despencar ao ver a silhueta do rapaz.

── Meu senhor está curioso sobre onde eu tô achando os ouro. ── O sotaque forte dele havia sendo perdido aos poucos, com a convivência de Luzia. Algumas palavras que ele chamava de "fala de branco" estavam agora em seu vocabulário.

⠀⠀⠀Luzia se deixou apoiar no tronco mais próximo, se sentando no barro e sujando seu vestido branco como papel, impecável. Tibério se aproximou, estendendo a mão sobre a dela. Era impossível para ele imaginar que em meio a toda a tortura que ele sofria, toda a solidão e desprezo, ele pudesse encontrar algum novo sentimento. Luzia o encarou e ele quase se cegou ao olhar o cabelo dourado reluzindo no sol. Eles sabiam que aquilo não era uma despedida, mas estava tão próxima como se fosse.

── Suncê vai embora? ── Apertou a mão em volta da dela, apreensivo.

── Não agora, mas em algum momento eu terei de ir. ── Soltou a mão da dele, acariciando seu ombro e vendo o mesmo se contrair com as mãos nas cicatrizes. ── Eu sinto muito.

── Elas não ardem. Pelo menos não quando estou com você. ── Revelou, sentindo o sentimento quebrar o seu peito.

⠀⠀⠀Esse era um dos motivos pela qual Tibério havia se apaixonado por ela, mesmo com tudo em sua volta. Nos momentos de tortura, era ela quem o ajudava, curando suas cicatrizes. Nos momentos de fome, era ela quem lhe estendia uma comida fresca como alimento. Nos momentos de angústia, era ela quem o acalmava e dizia que tudo ia ficar bem. Em todos os momentos, tudo girava em torno dela.

── Posso ti falar um negócio? ── Perguntou depois de alguns segundos em silêncio, olhando ela afagar suas cicatrizes.

── Diga-me, Tibério. O que lhe afringe? ── Repetiu a frase que havia lhe dito algumas semanas atrás, e ele riu.

── Vou sentir sua falta.

── Também sentirei sua falta, Tibério. Nunca te esquecerei. ── Era verdade. Para ela se fazia impossível esquecer o único que lhe despertara algum sentimento, tendo em vista que ela nem ao menos tinha um coração.

⠀⠀⠀Luzia voltou as carícias para a mão do garoto, fazendo ele fitar seus olhos nas íris douradas. Tibério achava a mulher uma coisa de outro mundo, e se admirava todas as vezes quando observava seu rosto delicado e angelical.
Antes que percebesse, sua mão voou para o rosto dela, afagando levemente enquanto a observava.

⠀⠀⠀Nenhum dos dois tinha experiência, e nem sabiam o que falar, fazer ou como agir naquele momento. Deixaram o sentimento falar mais forte quando Tibério alavancou seu rosto para próximo dela, dando um beijo em sua bochecha, próximo a boca.

⠀⠀⠀Nenhum dos dois se importavam com a situação que estavam; Luzia suja de barro, com os cabelos desgrenhados e Tibério sem um pouco de higiene pessoal faziam dois dias, enquanto era escravizado por seu senhor. Aquilo nem fazia sentido naquele momento, todos os problemas pareceram desaparecer quando ele encostou novamente os lábios no rosto dela, alcançando seus lábios dessa vez.

⠀⠀⠀Luzia não pensou em se afastar, a ideia nem passava por sua cabeça. Os dois não sabiam beijar, e o extinto falou por eles e Luzia lançou sua língua na direção dos lábios do garoto, que aceitou de bom grado.

⠀⠀⠀Aquele não era um beijo bonito, caso fosse olhado de longe. Na verdade, era horroroso. Luzia e Tibério pareciam se engolir em meio aquilo e se estivessem olhando seus corpos de fora, cairiam em uma crise de risos. Mas nada disso importava quando tinham um ao outro em braços.

⠀⠀⠀Eles não sabiam que aquele seria seu último fim de tarde juntos.

⠀⠀⠀Eles não sabiam que aquele seria seu último fim de tarde juntos

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𝐓𝐄𝐒𝐎𝐔𝐑𝐎 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐈𝐃𝐎, cidade invisível. [EM BREVE]Onde histórias criam vida. Descubra agora