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Narradora

Liah vestiu aquela máscara que trazia as expressões tão frias ao rosto magnífico. A máscara que aprendera usar muito bem com o homem que dizia ser seu pai.

E Vinnie ficou muito muitíssimo preocupado vendo a total indiferença de sua namorada naquela situação. Ela apenas virou-se estendendo as mãos para a sua mala pesada e saiu a arrastando pelo gramado. Os demais a acompanharam com o olhar como se dissessem: O que diabos, há com ela?

E a resposta estava logo abaixo de seus narizes. Liah não ousadia admitir o motivo para ninguém. Nem para Vincent. Muito menos para ela mesma.
Aquilo ficaria muito bem guardado em seu peito angustiado.
Os questionamentos tomaram conta de seus pensamentos.

Por que deixei que aquilo me afetasse?

Onde está a mulher que não se importava com nada além de trabalho e de meu irmão?

Seu peito ficou vazio por alguns instantes. Liah havia percebido, percebido que sempre falava para Vinnie não ligar para o que os outros dizem, e ela estava fazendo exatamente o contrário.

A noite caiu e Liah não saiu do quarto. Passou a maior parte do dia dormindo aninhada em seu namorado, que percebeu desde que chegaram, percebeu a mudança do comportamento de Liah.
Era como se ali, na frente dele, a mulher dizendo que estava tudo bem, era a mesma mulher fechada e vazia conhecera á alguns meses atrás.

Diego e seu avô bateram uma vez na porta do quarto, para perguntar se estava tudo bem. Com Liah adormecida, ele respondeu que ela só estava cansada, e que sairiam assim que ela acordasse.

Com o escuro varrendo o céu e a preocupação palpitante no peito Vincent se permitiu observar o quarto. Não era como o da casa da cidade, parecia ser um quarto de uma adolescente emo, ele pensou. Posters da Avril Lavigne, alguns surrados de Chase Atlantic, The Weeknd.
Havia também uma parede adjacente inteira de fotos.

Vincent as observou com cautela, acariciando os fios castanhos de sua namorada adormecida de vez em quando.

Tinha algumas fotos dela com Diego, a maioria, algumas em que Liah fazia poses totalmente estranhas. E ele sorriu ao ver uma em específica, uma em que Liah tinha os olhos pintados de preto e mechas azuis em meio aos fios castanhos. E os olhos dela. Ah, aqueles lindos olhos, de alguma forma, naquela foto, os olhos dela pareciam intocados pela maldade do mundo. O lembrou de quando ele falou pela primeira que a amava.
A lembrança lhe trouxe outro sorriso.

Vincent ficava bobo quando percebia, que sempre que estava com ela ou pensava nela, um sorriso ou outro estava sempre estampado no rosto.

E ela ali, dormindo por tanto tempo aninhada nele, era como um sonho. Impossível até. Impossível para ele, sua carreira lhe trouxe isso, esse tipo de problema. Por um milésimo ele ficou feliz em saber que eles enfrentaram aquilo. Mas coisas além cutucam o seu relacionamento. Coisas muito mais profundas, um buraco muito mais embaixo.
O que ela esconde?
O que era aquela vergonha que de vez em quando aparecia em seu rosto?
Eu não quero ver aquilo no rosto dela de novo. Ele pensou.
O que era?

⎯ Sabe que é coisa de psicopata, observar alguém dormir. ⎯ a voz rouca e suave de sua namorada o tirou dos pensamentos. E lá estava aquele sorriso. Acariciando a bochecha dela com os dedos, Liah piscou os olhos devagar, com um canto dos lábios curvados para cima.

⎯ Você nunca reclamou, gatinha ⎯ ela riu baixo, um riso preguiçoso. E observou pelas portas de vidro, com uma das beiradas abertas e o vento soprando as cortinas, observou o céu escuro e estrelado ⎯ Sabe que pode me contar qualquer coisa, né?

𝙄'𝙢 𝙧𝙞𝙜𝙝𝙩 𝙝𝙚𝙧𝙚 - 𝙑𝙞𝙣𝙣𝙞𝙚 𝙃𝙖𝙘𝙠𝙚𝙧Onde histórias criam vida. Descubra agora