Se eu fosse um desejo realizado

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Sam acordou, mas permitiu-se alguns minutos de preguiça na cama antes de começar o dia.

Imediatamente as atividades programadas vieram à sua cabeça e ela bufou, levemente irritada por não conseguir desvencilhar-se do trabalho. Hoje era um daqueles dias que seriam tomados de reuniões importantes e cansativas com acionistas para apresentação dos lucros trimestrais, além de um almoço com a sua avó – compromisso que lhe trazia mais medo do que qualquer coisa no mundo corporativo. A cabeça deu uma pontada já lhe dando indícios de como passaria o dia.

Não havia dormido muito bem, apesar de ter dormido a noite inteira. Normalmente sofria com insônia e precisava recorrer ao seu fiel medicamento, mas a noite anterior lhe trouxe um sono inexplicável que não se lembrava de sequer ter conseguido terminar a leitura do seu livro da vez.

Espreguiçou-se ainda de olhos fechados. É, não poderia enrolar mais. O dever a chamava.

Com um bocejo, levantou-se. Sentiu um incômodo no tornozelo direito e percebeu que não conseguia colocá-lo completamente no chão. Estranhava a claridade anormal do seu quarto, mas provavelmente não conseguiu fechar as cortinas na noite anterior, então relevou seu gesto de desatenção. Andou preguiçosamente até a porta de seu banheiro privativo, mas ao tocar o local onde deveria estar a porta, encontrou apenas a parede.

Hã?

Abriu os olhos.

Onde estava? Que quarto era aquele?

Esfregou o rosto, deu dois tapinhas nas bochechas e ainda continuava naquele cômodo estranho. Era um sonho, certo? Só poderia ser! Lembrava-se claramente de ter ido para sua casa, entrado em seu próprio quarto, tomado um banho em seu próprio banheiro e deitado em sua própria cama... Espera! Por quê tudo ali era tão... rosa?

Estava tão confusa!

A decoração aparentava ser de uma adolescente patricinha muito fã da Barbie e em nada assemelhava-se à decoração minimalista e elegante de sua casa. Era um quarto relativamente grande. Sem muitos móveis e organizado. E rosa. Tinha rosa por toda parte: na roupa de cama, nos ursos de pelúcia, nos quadros espalhados pela parede, nos objetos em cima da escrivaninha, nas roupas que conseguia ver. O que não era rosa, era branco.

Será que estava vivendo uma paralisia do sono? Tinha visto algo do tipo no tiktok há alguns dias! É isso! Com certeza era alguma dessas experiências bizarras e sobrenaturais que acabaria assim que voltasse para a cama e fingisse estar acordando novamente. Certo, só precisava recomeçar o dia como se fosse pela primeira vez.

Correu novamente para a cama e ignorou o arrepio ao notar o tom rosa bebê do edredom. Por precaução, cobriu todo o corpo e fechou com força os olhos, tentando regular a respiração e fingindo que não estava começando a desesperar-se para tentar voltar ao estado de leveza pré-despertar. Calma, Sam, com certeza isso é efeito colateral do zolpidem...

Um.

Dois.

Três.

Descobriu a cabeça e olhou ao redor.

Tudo estava igual a antes.

Finalmente deixando o sentimento de desespero fluir, gritou. Tão alto que tinha certeza de que toda a Tailândia seria capaz de lhe ouvir.

A porta, então, foi aberta segundos depois e um casal de meia idade entrou no quarto de forma atrapalhada e portando expressões assustadas.

– Querida? O que aconteceu? Está tudo bem com o seu pé?

Se eu fosse vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora