Se eu fosse um desastre ambulante

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Mon estava radiante!

Sentia-se a própria Branca de Neve ao abrir a janela e encontrar os animais prontos para lhe darem amor, carinho e ajuda nos afazeres domésticos. Depois de tanto tempo lutando para conseguir o emprego dos sonhos, finalmente seu trabalho duro na faculdade foi recompensado com a aprovação num processo seletivo para a vaga como trainee de Publicidade em uma das empresas mais influentes de Bangkok, a Diversity Pop.

Claro que o prestígio no meio empresarial não foi, nem de longe, o motivo mais importante para candidatar-se à vaga. Seu principal interesse tinha nome, sobrenome, um título real e o sorriso mais gentil do mundo.

Samanun Anuntrakul.

A CEO.

Sendo uma mulher com dupla cidadania e muitos anos vividos na Inglaterra, seu país natal, possuía muita dificuldade na comunicação com seus irmãos de sangue tailandeses, principalmente nos primeiros anos de vivência na Tailândia que coincidiram com o seu período escolar. As diferenças culturais e o bullying sofrido por umas queridas alguns anos mais velhas tornaram sua adaptação mais difícil do que havia imaginado. Exceto por uma coisa.

A honorável tataraneta do rei.

Apesar de não ser rica, sua família sempre teve uma condição de vida confortável; e o emprego de sua mãe como professora em uma das escolas de elite da cidade proporcionou o acesso à educação de alta qualidade e a pessoas da alta sociedade, como filhos de políticos, grandes empresários e a integrantes da família Real. Proporcionalmente ao número de zeros nas contas bancária, o instinto de maldade fazia com que Mon fosse a alvo número um dos bullies, passando pela xenofobia e indo até o fato de ser bolsista.

E apenas a Samanum não lhe dirigia insultos. Na verdade, nas duas únicas vezes que se encontraram, ela foi gentil a ponto de 1) pegar seu lápis que havia caído no chão e 2) balançar à cabeça em cumprimento quando foi a sua vez de ter o gesto retribuído por uma Mon completamente ansiosa e atrapalhada. As pessoas podem dizer que são pequenas interações cotidianas que não deveriam impactar tanto a vida de alguém – e até que elas podem estar certas –, mas foram o suficiente para criar uma admiração incontestável entre a princesa e a plebéia.

A falta de amigos no período da adolescência também pode ter sido um fato importante para o sentimento exageradamente intenso de carinho que foi desenvolvido por Samanun, visto que Mon só possuía Nop, um nerd que conheceu ao mudar-se para o país e que (in)felizmente era também o seu vizinho que tentava a todo custo uma aproximação amorosa e só conheceu Yuki, sua maravilhosa melhor amiga, durante a faculdade.

– Você não vai acreditar no que acabou de me acontecer!

Mon segurava o celular a frente do seu rosto ao mesmo tempo em que dançava pelo quarto, a felicidade não conseguindo ser contida em seu corpinho magro. Do outro lado da tela, Yuki tinha a feição confusa, não compreendendo o porque dos movimentos esquisitos feitos pela amiga.

– O Nop finalmente entendeu que você só gosta dele como amigo e te deixou em paz?

Com a dança sendo interrompida bruscamente, Mon respirou fundo e sentou-se na sua cama.

– O quê? Não! É uma notícia melhor ainda!

A feição da outra então iluminou-se.

– Ele vai me ressarcir de todo do dano psicológico que me causou ao ter que presenciar as tentativas frustradas dele te conquistar?

Suspiro.

– Não tem nada a ver com ele, por deus! Eu consegui o emprego, Yuki! Acabei de receber a ligação da responsável pelo RH e tenho que estar amanhã lá na Diversity Pop!

Se eu fosse vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora