introduction

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Elas se conheceram na final da Superliga de 2014. Sheilla não olhou duas vezes para Gabriela Guimarães durante o aquecimento. A outra equipe não importava. Tudo o que importava era vencer, isso é tudo que sempre importou pra ela.

'Temos uma chance de vencer se jogarmos bem como um time. Apenas se concentre no que você praticou' — ela disse a si mesma.

A ideia saiu pela culatra quando sua companheira de equipe Carol Gattaz saiu de quadra com um cartão vermelho nos pontos finais do segundo set. Elas já estavam perdendo por 1 set a 0. As probabilidades definitivamente não favoreciam o Minas agora, e todos sabiam disso. Ainda assim, Sheilla estava determinada a dar o melhor de si. Então, quando o terceiro set começou ela se empenhou ao máximo e tudo começou a se encaixar.

'É isso' — ela pensou. A bola encontrava sua mão e rapidamente era só ela, a bola e o fundo da quadra do ginásio. O jogo estava 26x25 para o Sesc-RJ, mas Sheilla não se importava, ela pediu a bola e atacou como havia feito centenas de vezes antes. Os aplausos de suas companheiras de equipe eram ensurdecedores. Enquanto ela era cercada de abraços, tudo o que ela podia fazer era sorrir pensando que o jogo ainda não havia terminado. Mas, a comemoração de sua equipe foi rapidamente destruída quando ela ouviu o apito do árbitro e viu a bandeira do assistente subir.

Bola fora e sem desvio.

O jogo terminou com a vitória do Sesc-RJ. No começo, não parecia real para Sheilla, observar suas oponentes correndo e pulando com sorrisos estampados em seus rostos. Não parecia real quando elas se alinharam para apertar as mãos. Os rostos das jogadoras do Sesc-RJ se confundiram quando Sheilla passou por elas. Ela estava pronta para acabar com isso, pronta para ir para casa.

Toda a sua equipe chorou no vestiário, incluindo o treinador. A decepção e a realidade de tudo isso se instalando. Ela não falou muito, sabendo que era melhor apenas deixá-las ir pra casa e descansar. Suas companheiras de equipe se trocaram e saíram rapidamente, mas Sheilla ficou, querendo um momento a sós antes de partir.

Ela caminhou até a pia e jogou um pouco de água no rosto, esperando que isso escondesse qualquer evidência de que ela estava chorando. Depois de secar o rosto com uma toalha, ela pegou sua bolsa e caminhou em direção à porta.

Ao estender a mão para a maçaneta, ela pôde ouvir ecos de algum tipo de comoção no corredor do lado de fora. Sheilla abriu a porta com cautela para encontrar suas companheiras de equipe Gattaz e Rosamaria em uma discussão acalorada com duas jogadores do Sesc-RJ. Gattaz estava arrasada, com o rosto vermelho — claramente de tanto gritar e chorar — e Rosamaria parecia chateada. As garotas do Sesc-RJ estavam sorrindo, dizendo algo sobre elas serem más perdedoras.

— O que está acontecendo aqui?

— Nada importante, Castro, continue andando — respondeu Rosa, com os dentes cerrados. Sheilla sabia que não devia ir embora. Gattaz parecia prestes a arrancar os dentes de alguém. 'Não adianta tentar argumentar com ela agora' — pensou Sheilla. Ela se virou para as duas garotas do time adversário.

— Escute, tenho certeza de que vocês não quiseram fazer por mal e devem estar felizes por terem vencido hoje, mas nós realmente apreciaríamos se vocês comemorassem em outro lugar — ela falou respeitosamente. As garotas ficaram paradas por um segundo, então reviraram os olhos e se viraram pra sair.

Sheilla soltou a respiração que ela não sabia que estava segurando. Ela se virou para Gattaz, mas não antes de ouvir as garotas murmurarem algo baixinho.

— Vadia.

Ficou claro que Gattaz também ouviu, porque antes que Rosa ou Sheilla pudessem impedi-la, Gattaz estava avançando em direção às meninas. Sheilla sabia que se Carol machucasse qualquer uma delas, ela poderia perder seu lugar na Seleção Nacional. Mas, antes que as mãos da mulher fizessem contato com as costas das garotas do Sesc-RJ, uma terceira jogadora abordou Gattaz. Os olhos de Sheilla se arregalaram quando ela percebeu que a garota segurando sua amiga não era outra senão a ponteira sobre a qual seu treinador havia alertado toda a equipe: Gabriela Guimarães.

make me like you | sheibiOnde histórias criam vida. Descubra agora