Extra: uma (não) conversa sobre dor

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Eles mentiam, fingiam, e até o final fariam de tudo pra negar; as brigas não teriam fim, e nenhum dos dois perguntariam, nenhum dos dois iriam explicar, nenhum daria o braço a torcer em começar a ter uma conversa decente.

E assim o barco continuou seguindo. Com dois péssimos mentirosos, dois homens que mascaravam seus sentimentos com fingimentos e ego infantil.

Desconhecidos no mesmo navio; se trombando de vez em quando apenas para seguirem caminhos diferentes logo depois. Agora acreditavam que não valia nem mais a pena falar um com o outro.

Ambos amantes condenados. Condenados pela maldição de amar, condenados pelo ego, condenados pelo orgulho, condenados a serem almas gêmeas; condenados a si pertencerem e condenados pela insegurança.

Inseguros pelos sentimentos; inseguros sobre o porquê de olheiras profundas num rosto moreno, ou sobre o emagrecimento repentino de um loiro.

Maldito sejam os céus que os colocaram no caminho um do outro; maldita seja a roda da fortuna que entrelaçou seus destinos e maldito seja sabe se lá quem quer que tenha amarrado ambos juntos tão fortemente ao ponto de a vivência do outro se tornar mais preocupante que a sua própria autoconservação, malditos sejam os amantes, maldito sentimento.

Sanji estava sentado perto do jardim de Robin, as luzes da academia ainda estavam ligadas; e provavelmente ficariam assim a noite toda; Brook estava em algum canto tocando uma sinfonia qualquer.

Ah sim, aquela música; Sanji se lembrava, se lembrava de tudo.

'Era madrugada e o sol não havia nascido ainda quando aportaram em uma ilha com clima bem agradável, era raro encontrar algo daquele tipo; os nativos foram bem receptivos com eles também, por isso todos estavam de bom humor já pela manhã.

Zoro não era de acordar cedo, e provavelmente caia de sono num canto qualquer do navio; todos tinham saído para explorar e conhecer o local, com exceção dele, de Brook e Sanji, que sairia para comprar especiarias quando acabasse de lavar as louças e anotar o que faltava.

Sanji cantarolava a melodia que o esqueleto tocava com entusiasmo, Zoro entrou na cozinha sem muito cuidado.

– To com fome. – disse sem cerimônia e se sentando na mesa.

– Bom dia Marimo de merda; eu dormi bem também que bom que perguntou. – Sanji disse sarcástico, não deixaria o cabeça de mato acabar com sua manhã.

– ... Bom dia, eu vi seu rosto antes de acordar, sei que dormiu como um anjo. – Zoro disse, não tinha muitos escrúpulos quando sozinhos.

– Suas tentativas de flertes são bem engraçadas. Deixei seu café da manhã quase tarde tampado em cima da bancada. – Sanji respondeu ainda cantarolando enquanto verificava alguns temperos que faltavam.

Zoro comeu rápido; e sem que o cozinheiro precisasse pedir ou xingar o moreno já lavava as coisas que tinha sujado; era algo que em algum momento tinha se tornado um costume. A presença constante de Zoro na cozinha, os pratos lavados em conjunto; as comidas preferidas feitas sem que fosse pedido. Como um casal recém casado.

– ZORO! – Sanji largou a caderneta onde anotava e gritou, assustando aquele que foi chamado por um breve momento. – Dança essa comigo.

Zoro tinha dois pés esquerdos; ele nunca tinha dançado uma música ensaiada, mas Sanji o quebrava de toda e qualquer maneira. O brilho insistente naquele olhar azul cujo o mar sentiria inveja, os cabelos que brilhavam mais que os raios de sol de uma manhã de verão, o entusiasmo e aquele rosto que o colocava sob efeito de um feitiço que Zoro definitivamente não queria sair.

– Eu não posso. – Zoro respondeu tentando se desvincular do encanto que o atraia cada vez mais pra perto. Sanji sabia ler esse tipo de expressão de Zoro como se lesse um livro aberto.

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