Capítulo 1 - Impostor

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Silvia entrou pelos corredores da universidade fuzilando qualquer um que passasse em sua frente ou que ousasse dar um simples bom dia. O motivo: alguém estava usando o laboratório de química, mas precisamente a sala nove que vinha sendo usada por ela todas as quartas-feiras pela manhã nos últimos oito anos.

Com a respiração em um ritmo ofegante, seguiu pelo corredor num indignado monólogo interior:

— Quem poderia ser aquele desavisado que estava usando o laboratório no meu horário? —  Falava sozinha com uma expressão raivosa andando apressada pelo corredor enquanto acumulava uma leve espuminha branca no canto da boca; sua pele, pálida, estava naquele momento tão vermelha, que a veia de sua testa parecia que estava prestes a explodir.

Assim que chegou na sala da coordenação, abriu a porta com a força de quem estava empurrando um trator; no entanto, desastrada como sempre, torceu o joelho caindo desajeitada em cima do estagiário que por azar estava de saída quando cruzou seu caminho, bufando de raiva, ela então disse:

— Vim aqui reclamar do uso indevido do meu laboratório.

Todos sabiam que Silvia era a professora "esquentadinha da universidade", e o reitor, coitado, era obrigado a "aguentar" os seus chiliques, pois era a única com Pós­-doutorado em química e que, por isso, recebia patrocínios milionários. Todavia, ela nem sempre era assim, geralmente o "Gremlin" aparecia quando seu ego era ferido ou quando se sentia ameaçada, fora tais momentos, era uma criatura agradável e interessante, todavia nos últimos tempos "esses momentos" estavam sendo cada vez mais raros...

Ela então continuou metralhando o rapaz num tom ameaçador:

— Quem é você? Onde esta a Carla? Será que ninguém trabalha nesse lugar?

O rapaz gaguejando e visivelmente nervoso a respondeu com uma voz embargada: — Não sei! Comecei hoje! A ultima vez que a vi, ela disse alguma coisa sobre um Professor novato que entrou na sala Nove e foi correndo para lá com o objetivo de impedir o que chamou de uma Terceira Guerra Mundial que estava prestes a acontecer. Ela falou a respeito de uma doida que não iria gostar dessa confusão de agenda.

— Doida!? Ela não viu nada. Agora sei de quem e a culpa. — Como um raio, Silvia deu meia volta e saiu respirando fundo em direção à sala Nove.

No momento que cruzou o corredor leste com uma visível indignação no semblante, teve o seu interesse despertado por algo atípico, o silêncio que reinava ali.

— O que será que estava acontecendo? — pensou ela enquanto passava observando todas as portas. Aquele corredor normalmente era mega agitado, com jovens cheios de tesão matando aula e se agarrando pelos corredores. Com um ar curioso, foi observando o silêncio até chegar na sala 9.

Quanta mais se aproximava da sala, ficava intrigada, pois só conseguia ouvir uma voz grave masculina preenchendo todo vazio.

Com o mesma delicadeza típica de um rinoceronte, empurrou a porta de uma vez. Para sua surpresa e ódio, um homem que ela nunca viu estava encantando todos os alunos ali presentes. A turma não piscava! Poucos perceberam a entrada extravagante de Silvia. O que a irritou ainda mais pela vaidade inflada. Inquieta como sempre quando era obrigada a apenas observar, tentou abrir a boca umas duas ou três vezes, mas se conteve. Foi quando um cheiro avassalador amadeirado com um toque de pimenta rosa, que pairava no ambiente atraiu sua atenção.

Na frente da turma, um jovem moreno, alto, com cabelos alguns fios grisalhos, com péssimo senso de moda, mas de certa forma elegante, falava fluentemente sobre Mitologia Grega.

O reitor que estava no fundo da turma ao se dar conta da presença de Silvia se levantou e apresentou o intruso:

— Silvia esse é o Jorge, seu novo parceiro de pesquisa. Silvia franziu o cenho imediatamente. Ela não podia aceitar aquilo, no entanto, sabia que devido ao seu comportamento encrenqueiro estava na corda bamba.
Seu rosto voltou a ficar vermelho e então ela entrou na sala. Sem disfarçar nem um pouco o seu descontentamento com toda aquela situação disparo em um tom completamente seco:

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