Na sala de reuniões da reitoria já estavam quase todos a postos para o início daquela tortura. Mesmo com todos os olhares voltados para a Drª Silvia, ela não tinha cabeça nem tempo para ficar encarando ou vagando de rosto em rosto para analisar o que se passava naquelas cabeças inexplicavelmente limitadas, ela só precisava saber do relatório o quanto foi perdido? O quanto de tempo e dedicação ficou debaixo do gesso? Afinal são anos de pesquisa, anos de dedicação total, anos de abstenção de família, colegas, amigos, mesmo que pouco, e outros. O quanto de amostras a chuva levou? O quanto de tempo vou demorar para recuperar tudo aquilo. Com tantas perguntas na cabeça, Silvia permaneceu sentada, com seu notebook aberto e uma caderneta do lado. Rabiscando freneticamente uma página da caderneta afim de colocar os pensamentos em ordem, mas cada traço feito, marcava ainda mais as palavras que não poderiam ser ditas, de quem é a culpa? Riscava a palavra culpa como se quisesse eliminar da face da terra, quem não cuidava da manutenção predial? Quem? Quem irei odiar pelo resto da minha vida? E assim, foi escrevendo a palavra ódio, quem, predial, manutenção, com muito ódio, cada palavrinha, que pretendia engolir e tentar segurar a língua afiada, para não surtar com o resultado daquela reunião. Como a médica disse ela não poderia se estressar. A língua ela iria engolir, o problema era segurar suas expressões faciais. Respirava fundo para tentar passar tranquilidade. A cada inspiração, sentia o ar gelado entrar na narina e sair pesado e o pelo de sua pele arrepiar como se estivesse pronta para se defender de um bote ou dar um bote caso fosse necessário.
A temida reunião, falou um pouco alto rindo ela não estava conseguindo se controlar, com se estivesse sozinha nos seus pensamentos e ninguém estivesse ali, afinal ela sempre estava sozinha nos seus pensamentos. Passou de novo alguns segundos, pensou com obstinação: "a temida reunião", riu alto da própria sorte, sozinha, uma risada leve, olhou para cima e viu os burburinhos da equipe se intensificarem, abaixou a cabeça, mas não deixava de pensar, que dependendo do valor do prejuízo, Silvia sabia que teria que se desfazer de alguns membros de sua equipe.
A primeira equipe que entregava resultados, que não atrasava nas entregas, a primeira equipe dedicada. Mas por pura prática ou praticidade, Silvia se concentra novamente, abaixando mais ainda a cabeça, como se quisesse entrar na caderneta, falando sozinha e vagando nos seus pensamentos, vira a página toda rabiscada e rasgada, começa a escreve na página em branco uma lista em ordem de quem realizaria a dispensa primeiro, quem iria ser desligado ou não! Claro se fosse realmente necessário. Medindo bem conforme os seus critérios e listando os prós e contras de cada colaborador, Silvia começa o seu rascunho: - Marina (lenta para entrega de relatórios, vive de atestado médico, já perdeu amostras, não faz hora extra quando preciso e etc), e segue assim para o próximo, os prós e contras de cada colaborador, Carla, Jonas, Thiago, a dupla Mathias e Mateus, Vitor. Parou por um instante quando estava finalizando a letra "R", e agora? O que seria se tivesse que dispensar o Vitor? Desceu um certo pânico para o estomago de Silvia e as borboletas que se formaram na noite anterior, morreram, um amargor subiu com o impacto do pânico, ficando preso no fundo de sua garganta, mas como seria? Ele não era o primeiro da lista mas não era o ultimo, analisando bem, voltou o lápis na letra "V" e escreveu novamente por cima, "Vitor", com um grande ponto no final, não escreveu nenhum pró e nenhum contra somente o nome, se ele gostasse dela, iria entender o motivo de o dispensar, afinal negócios são negócios e o prazer ficou na cama dela. Nunca planejou perder tempo e a carreira com pessoas que não entende esse seu lado prático. Essa era uma boa chance para ver o que iria dar esse caso com o Vitor, claro se fosse realmente necessário, afinal ele não era o primeiro da lista mas deveria deixar bem claro essa regra do jogo para ele. Independente do que acontecer ou aconteceu no quarto de Silvia, ali o laboratório era uma zona neutra, imparcial e em busca de resultados. Apresentou resultados, permanece na equipe, não apresentou, pula fora e coloca outro no lugar, afinal Rei morto e Rei posto! E isso não iria mudar nunca.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Vício
RomantikSilva é uma jovem pesquisadora focada nos seus projetos, não tinha tempo há perder, até que o seu mais novo vício a tira do eixo exigindo novas descobertas.