Capítulo I - I just wanna talk

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Zoro estava inquieto, o que era extremamente difícil de acontecer, mas ele não conseguia não ficar. Ele se preocupava com seus companheiros - mesmo que ele raramente dissesse ou demonstrasse aquilo - e tal assunto que ele queria tratar era um tanto preocupante. Não por ele achar que seria ruim para Sanji, mas sim ruim por conta das reações das outras pessoas em volta dela, até porque, a última coisa que ele queria no mundo era que a loira sofresse por ser quem ela realmente é.

Então, Roronoa vai conversar com a cozinheira, que ele desconfiava estar escondendo seus sentimentos e até mesmo sua própria identidade.

“Ero-cook?” o esverdeado diz ao entrar na cozinha, vendo a figura loira parada em frente a pia enquanto respirava fundo e parecia bem absorta em seus pensamentos.

“Marimo, oi…” Sanji diz de forma fraca. “Olha, se for pra discutir, nem vem. Não to legal hoje.” ela continua, respirando fundo.

“Não é pra discutir, só quero… conversar.” Zoro hesita um pouco antes de falar, mas diz mesmo assim, sabendo que a outra precisava daquilo.

“Sobre o que?” a loira perguntou curiosa, sabendo que era raro o outro ter aquele tipo de atitude.

“Olha, não quero ser insensível, mas… você sabe que é um pouco difícil eu não ser.” o esverdeado coça a nuca meio sem graça, agora recebendo toda a atenção da cozinheira, que o olhava confusa. “Então, desculpa por isso, mas eu acho que você tem escondido algo de nós e, mesmo que eu seja um babaca contigo normalmente, eu quero que saiba que eu nunca te julgaria por algo assim e os outros também não. Você não foi chamada pro bando por ser de um certo gênero, você foi chamada porque é forte e cozinha bem, apenas isso. Então…” ele dizia tentando não se embolar e tentando ser o mais delicado possível, mas mesmo assim suas falas foram cortadas por si mesmo quando viu lágrimas descendo dos olhos a sua frente. “S-sanji? Me desculpa, e-eu não queria…” ele continuou, sentindo-se desesperado, mas foi interrompido pela pessoa a sua frente.

“Porra, Zoro! Você não pode falar coisas assim do nada, caralho!” Sanji dizia em meio aos soluços, tentando limpar as lágrimas de seu rosto com as costas de suas mãos.

“M-me desculpa, eu fui longe demais. Eu só estava preocupado e… e…” o mais alto tentava continuar, mas mais uma vez fora interrompido.

“Para de pedir desculpas!” a loira diz brava, fazendo Zoro travar. “Eu precisava disso, de ouvir isso, especialmente de ti…” ele continua, suspirando e tentando mais uma vez - e de forma falha - parar de chorar.

“Então, é realmente verdade? Você… é uma mulher?” Roronoa pergunta, sua voz saindo mais baixa do que ele esperava.

“Sou, Zoro. Sou uma mulher. Percebi isso nos dois anos que ficamos todos separados. Eu tentei lutar contra, tentei não pensar sobre, mas é difícil negar o que eu sou.” a - agora assumida - mulher diz, soluçando ainda mais. “Eu tava com tanto medo, tanto medo de ser deixada pra lá, do Luffy não me aceitar, de você não me aceitar, que eu não conseguia me deixar ser quem eu realmente sou.” ela continua, mas para de falar ao sentir braços fortes abraçando-a de forma apertada, seu choro apenas se intensificando com aquilo.

“Não tem porque ter vergonha de ser você mesma, Sanji. Você continua sendo incrível lutando e cozinhando sendo uma mulher. Ser mulher não te faz inferior, muito menos te faz ser indigna de estar aqui, e eu tenho certeza que o resto do pessoal concordaria comigo nisso.” o esverdeado dizia, fazendo um carinho nas costas da loira, ele mesmo se surpreendendo com o quão carinhoso estava sendo.

“Merda, marimo, nunca imaginei que você seria o que perceberia primeiro e, ainda por cima, me consolaria.” a cozinheira diz, rindo nasalado e começando a parar de chorar.

“Eu só não consigo ver ninguém desse bando sofrendo, especialmente se for alguém como você, que vive se fazendo de forte e finge não ter sentimentos quando claramente tá sofrendo.” quando o espadachim diz aquilo, Sanji solta uma risada irônica.

“Falou o que não faz o mesmo, né…” a loira diz, afastando-se um pouco de Zoro, sorrindo pequeno.

“É exatamente por também fazer isso que eu entendo como é difícil.” Roronoa diz simplista, se desvinculando de vez do abraço e dando de ombros.

“É, faz sentido…” Sanji diz. “Mas, de verdade, obrigada por isso, marimo.” ela continua com um sorriso no rosto, fazendo o pobre coração de Zoro dar uma balançada, mas ele sabia que não era hora para pensar naquilo com a mulher tão vulnerável daquele jeito, então apenas ignorou aquele sentimento e sorriu levemente para ela.

“Mas e agora… eu continuo te chamando no feminino ou quer se assumir pro bando primeiro?” o esverdeado pergunta, se sentando numa cadeira ali na cozinha, sendo acompanhado pela loira.

“Eu… preciso de um tempo pra colocar minha cabeça no lugar, não tô pronta pra sair do armário ainda. Enquanto isso, só me chama no feminino se estivermos sozinhos.” Sanji diz brincando com seus próprios dedos. “Eu preciso me aceitar primeiro, depois vou pro processo de ser aceita pelos outros.” ela continua, recebendo um aceno compreensivo de Roronoa.

“Sim, senhora.” ele diz, rindo baixinho, sendo acompanhado pela cozinheira.

“Ainda tô em choque que você pode ser um ser humano decente…” a mulher diz brincalhona.

“Ah, vai se foder, vai!” Zoro respondeu, mas seu tom não era nem um pouco agressivo, pelo contrário, ele ria de forma contida, o que arrancou uma risada de Sanji também.

Assim, eles passam o resto da noite ali, conversando sobre como estava sendo para a mulher todo aquele processo de se descobrir e se aceitar, Roronoa mais escutando do que tudo, mas aquilo sendo essencial para a loira que, pela primeira vez desde que voltou da ilha de Ivankov, se sentia acolhida.

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