𝗩𝗜𝗘𝗡𝗗𝗢 𝗘𝗟 𝗧𝗘𝗖𝗛𝗢 ᴘᴇᴅʀɪ

- fogo e gasolina.

FOGO E GASOLINA

Fala pra mim o que cê pensa de nós, amor
Fala pra mim que eu sou teu e sou único

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"Acontecem certos encontros com pessoas que desconhecemos inteiramente com quem começamos a nos interessar à primeira vista, como que de repente, súbito, antes que articulemos uma palavra." Fiodór Dostoiévski

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Camille suspirou ao ouvir o som extravagante de seu despertador. Ela se sentia indisposta, cansada..., mas não havia por quê. Sua noite fora de sono proveitoso, entretanto, algo em seu âmago a incomodava. Demorou alguns minutos - que mais lhe pareceram anos - para criar coragem e levantar-se do abraço caloroso do amado, mas não podia se atrasar. O estágio a aguardava. Infelizmente, pensou ela.

As mãos pesadas que cercavam a cintura da mulher foram cautelosamente retirados, não estava disposta a arriscar olhar novamente nos olhos castanhos de Pedri e ceder a seus sentimentos. Céus, ela estava se sentindo uma adolescente fugindo dos pais. Assim que separou seu corpo do dele, Camille juntou suas roupas e foi em direção ao banheiro. Uma risada abafada foi disparada por seus lábios rosados quando lembrou de sua quase foda de reconciliação - ou algo parecido.

O som proveniente das gotas de água foram suficientes para que Gonzalez acordasse, procurando pela jovem. Ele se direcionou até o banheiro da suíte presumindo que ela estivesse lá e, de fato, estava, porém, o Camisa oito não era e não pretendia ser invasivo. Enquanto a Gutierrez se banhava, Pedri decidiu planejar a singela conversa que os dois deveriam ter. O nervosismo que se instalara no quarto poderia se comparar com bombas atômicas.

Os suspiros do homem haviam se intensificado de maneira questionável, e só cessaram quando o moreno pôs os olhos em sua musa. A mesma já estava vestida com seu uniforme de trabalho, visivelmente pensativa. Ele não sabia o que atordoava a mente alegre de Camille naquele momento. Nem ela própria conseguia distinguir o que a prejudicara. Apenas a consumia mentalmente. Era algo sem forma, sem massa, ou talvez, alguém.

- Mille, você está bem? - o espanhol perguntara preocupado. - Nós precisamos conversar. Não temos como adiar isso. Eu preciso que você me explique o que somos ou, quem sabe, o que seremos.

Tudo estava se perdendo; as mãos gélidas da morena encontraram sua delicada face em tentativa de produzir alguma resposta. Nada.

- Pedri, eu não sei. Apenas não sei. Nós fomos algo no passado, mas há muitos fatores que nos impedem no presente. Eu poderia dizer que "estou disposta a largar tudo por algo incerto", mas você sabe que eu detesto fingir e mentir. Vale mais a pena a gente se explicar francamente... (Crime e Castigo) Eu não quero que você me machuque de novo. Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar (Clarice Lispector), já basta de tentativas e esforços que nunca vão levar nos levar a lugar nenhum. Ontem foi um deslize, uma carência passageira. Agora, ambos vamos seguir nossas rotinas e esquecer essa bobagem. Preciso ir, tchau Pedro. - Falou por fim, partindo em cacos o coração de quem já foi sua motivação para viver.

A esperança e o coração do jovem partiram junto a ela. Mais nenhum sussuro foi escutado na casa de alto padrão durante aquela manhã. Os fones de ouvido reproduziam as mesmas músicas há horas: Viendo El Techo e Bésame Mucho. As emoções estavam dominando friamente a alma pura de Pedri. Ele nunca imaginou que seu término com Camille fosse chegar nesse ponto. Se amaldiçoou mentalmente mais do que pode contar. Ele a machucou, ele a deprimiu, então sua única certeza era que ele merecia isso.

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E quando você partiu, olhei no vazio de cada cômodo do meu coração.

- Pedro Miranda