"Das profundezas do tempo, você se arrasta em silêncio como uma cobra faminta, ansiosa por desvendar os mistérios que o seu sangue esconde"
Aline Marques
Rússia - 1997
Lilian Davis caminhava apressadamente pela sala vazia do laboratório, seus passos ecoavam pelo ambiente enquanto ela analisava constantemente o progresso do computador em sua frente. Ela estava visivelmente ansiosa, roendo as unhas nervosamente, assim como sua falecida filha, Anabel, costumava fazer. Lilian repreendia imediatamente sua filha quando ela roía as unhas, mas agora ela se via fazendo o mesmo, completamente alheia ao mundo externo.
O comportamento fez a mente de Lilian ser assombrada pelo fantasma de sua filha. Ela sentiu um incômodo insistente na boca do estômago e uma dor esmagadora no peito. Lilian era uma mulher brilhante e líder de um projeto revolucionário. Ela havia participado de um grupo da União Soviética durante a Guerra Fria e foi uma das primeiras cientistas a desenvolver o estudo de uma arma biológica mortal que prometia ser indetectável no organismo. Anos mais tarde, ela foi convocada pelo comitê internacional para criar uma parceria com outros cientistas e desenvolver estudos sobre clonagem. Infelizmente, ela não recebeu os devidos créditos e foi obrigada a voltar para a Rússia, mas ela trouxe consigo todo o conhecimento adquirido na viagem.
Lilian se casou jovem e teve uma filha um ano após o casamento, Anabel, o mesmo nome de sua falecida avó. Ela não podia dizer que não estava apaixonada por Shepherd na época, pois ele foi um dos responsáveis por sua escolta até os Estados Unidos, eles viveram o que poderia ser considerado um romance da época pois, em meio ao caos e a guerra, encontraram refúgio um no outro.
O bip do computador atraiu sua atenção, trazendo-a de volta para o presente. Ela estava focada demais em sua pesquisa para se prender às memórias de sua filha falecida ou de seu marido ausente. Ela chegou a pensar que a Anabel que havia morrido não era sua filha de fato, mas sim aquele pequeno amontoado de células dentro daquele tubo de ensaio.
Lilian estava determinada a reviver sua filha. Ela murmurou com os olhos cheios de lágrimas: "Bem-vinda ao mundo, Anne", um brilho de mãe quando olha para o filho pela primeira vez, mas se você olhasse com atenção, veria o brilho da insanidade vagando pelos seus olhos trêmulos.
Ela ignorou o olhar espantado de Shepherd quando a viu saindo daquele laboratório com aquela criança nos braços meses mais tarde, ela ignorou as perguntas e olhares curiosos, te arrastando para uma vida isolada, perdida nas próprias loucuras.Tudo o que ela queria era você.
Lilian te acompanhou todos os 10 anos em que esteve presente em sua vida, acompanhando cada passo seu, recriando cada memória que ela se lembrava de ter com Anabel. Mesmo quando você, em sua inocência, a corrigia quando ela te chamava de Anabel, ela sempre esteve presente, lhe observando com amor e cuidado, até com um pouco de obsessão e paranoia.
Poderíamos classificar Lilian como um verdadeiro paradoxo, afinal como uma pessoa tão sã e inteligente conseguia ser uma criatura tão insensata e tola.
Em um determinado momento, ela não sabia mais o que era real ou não, ela só conseguia ficar parada naquela cozinha, lavando aquele mesmo prato incessantemente enquanto cantarolava, parando para pensar agora. Você era inocente demais para perceber e sua mente, numa tentativa falha de te proteger transformou essa em uma das mais doces memórias que você tinha de sua mãe.
Você era inocente demais para notar que sua mãe não acordaria mais tarde naquele dia, quando você fosse ao quarto dela devido ao medo da chuva, ela não olhou para você, não. Os olhos dela estavam presos no teto, fitando um horizonte invisível, segurando um frasco de remédio, agora vazio em mãos, a boca semi aberta. Você ainda se lembrava da textura de sua pele fria, rígida, como se tivesse se tornado uma boneca. A mais assustadora de todas.
Tempos atuais.
"Eu quero o paradeiro deles AGORA!" Graves gritou para a equipe, enquanto estavam a caminho do Irã, a aproximação dos soldados o obrigou a sair da base com o General e, quando ele não te encontrou naquele quarto, a raiva o consumiu como nunca antes.
Se não fosse por Shepherd, Graves te caçaria naquele mesmo momento e mataria com as próprias mãos quem estivesse em seu caminho mas, seu medo respeito por Shepherd era maior que qualquer coisa, talvez até mesmo maior que aquela louca obsessão que ele tinha por você.
Os dois embarcaram rumo ao Irã, o objetivo era encontrar com o comprador das armas que aguardava ansiosamente para pôr seus planos em prática. Claro que em algum momento eles voltariam atrás de você, afinal, para Shepherd você poderia se tornar um objeto de estudos e para Graves você era a fonte que alimentava suas ideias infundadas.
Falando em você... Onde estava você nesse momento?
Saindo dos olhos perdidos de Graves que observava a paisagem arenosa do Irã e indo para os Estados Unidos, para ser mais precisa, no Texas.
Você olhava confusa para a casa de madeira à sua frente, tentando absorver os detalhes da paisagem do Texas ao redor. Os campos de grama amarela se estendiam até o horizonte, pontilhados por árvores solitárias e cactos retorcidos. O céu era um azul profundo, sem nuvens, e o sol quente batia em seu rosto. A casa em si parecia antiga e um pouco decrépita, com tábuas de madeira que pareciam prestes a cair a qualquer momento. As janelas eram pequenas e escuras, e a porta da frente parecia pesada e imponente. Price estava ao seu lado, observando sua expressão confusa enquanto você olhava para a casa de madeira à frente. Tentando te tranquilizar, ele disse: "Ele trabalhou conosco há algum tempo atrás, e quanto mais pessoas tivermos ao nosso lado, melhor." Ele mantinha as mãos apoiadas no colete, removendo uma delas para pousar gentilmente em seu ombro.
A equipe havia se dividido, você e Price, Ghost e Soap, Gaz e Alejandro. Durante a viagem, Price se tornou um grande amigo, diferente de Ghost, que era mais reservado, Price falava bastante (fumava bastante também) e durante os dois dias no carro, você ouviu piadas que pareciam ter sido tiradas de um livro.
"As piores piadas para contar a alguém cansado", era o título que vinha a sua mente quando você pensava nisso.
Você perguntou receosa se Roach era confiável, já que trabalhar em equipe não estava nos seus planos. Mesmo sem ter argumentos suficientes para rebater os outros cinco homens, um deles até soltou várias palavras em espanhol durante a discussão, te vencendo não com argumentos, mas com a confusão que lhe causou. Acrescentar mais um membro à equipe não parecia uma boa ideia no seu ponto de vista, mas você era apenas uma pessoa e eles eram cinco. Os cinco decidiram que seria bom sim acrescentar mais alguém no time.
Price respondeu com um sorriso amigável: "Ele é um dos melhores". Com essa afirmação, você decidiu confiar no capitão e ele liderou o caminho até a entrada da casa. Enquanto subiam a escada, você perguntou o nome de Roach. Price parou por um momento, rindo consigo mesmo antes de virar para você e responder: "Roach". Você olhou incrédula, questionando silenciosamente como aqueles homens escolhiam seus codinomes. Seriam eles criativos demais? Teriam alguma dívida de jogo? Talvez.
No entanto, seu erro foi subestimar Roach pelo seu codinome. Assim que a porta se abriu, a primeira coisa que caiu em seu campo de visão foi a espingarda apontada bem no meio da sua testa.
Porra, começamos bem.
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Ghost's Shadow
RomanceNesta sequência direta de Ghost's Shape, você embarcará numa nova jornada buscando respostas sobre o passado e tentando resolver os problemas do futuro. As perguntas que ficam é: Você está procurando no lugar certo? Seus esforços para derrotar a nov...