1. Garoa

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Garoa
substantivo feminino

nevoeiro fino.
chuva miúda e contínua; chuvisco.

Se as pessoas fossem chuva, eu era garoa e ela um furacão.

Quem é você, Alasca?
John Green

Deixo que meus olhos percorram o teto, após ler essa citação. Meu interior se encontra vibrante, e um pouco angustiado. É exatamente assim que me sinto. Meus olhos caem para cama ao lado, e com muito pesar não a encontro. Como também não vejo sua escuridão, não sinto seu cheiro, e não encontro seu olhar opaco. E a brisa fria que me arrepia até os ossos.
Se me amasse, como eu te amo, você ficaria?
E se soubesse como te desejo, me usaria?

Infelizmente não poderia ter essa resposta, acredito que em seu coração não há espaços para o amor...E como poderia a frieza de seu coração conhecer tal emoção. Desejos são apenas momentos para ela. Como meus devaneios, eles passam. E talvez a única sensação que possa sentir por mim, seja desprezo, indiferença. Acho que essas são as únicas emoções que poderia esperar de alguém tão sombrio como Wednesday Addams.

O olhar gélido com cada centímetro de pele pálida.
Cabelos volumosos e perfeitamente trançados.
Suas roupas pretas sem qualquer amarrotado, a gola dobrada junto ao suéter quadriculado. Extremamente arrumada com passos firmes e postura rígida.
E um aroma de rosas mortas.

Como poderia eu amar tamanha psicopatia?
Eu poderia facilmente ser uma de suas vítimas...
.

..O perigo é desejar isso, apenas para sentir seus toques.
Como imagino teus lábios nos meus enquanto suas mãos sufocam todo meu ar.

Ouço o arrastar da porta ao se abrir contra o piso de  madeira. A vejo entrar com passos rápidos, e pesados com gotas vermelhas tingindo o rosto.
Suas sardas são atraentes, mas tornasse extremamente assustadoras quando se misturam com sangue.
Isso tem sido constante. O cheiro de morte.
Não quero saber quem estava em seu caminho essa noite.
Provavelmente era alguém com caráter duvidoso, assim como Dexter usava sua psicopatia para criminosos, Wednesday usava seus meios para punir homens ruins. Ou quem julgava serem pessoas ruins. Alegando assim remover uma parcela da escória na sociedade.

Vejo- a se despindo, e preenchendo um saco preto com sua capa e máscara. A nudez nunca foi um empecilho para ela. Essa é definitivamente a minha parte favorita. Sua nudez descarada.
Haviam algumas cicatrizes em suas costas subindo o pescoço, percorrendo o abdômen rígido.
Sinto meu rosto quente, creio que minhas bochechas estejam vermelhas também.
Wednesday inclina seu rosto um pouco para lado, mirando esses olhos por cima dos ombros para mim.
Seu olhar é perverso, sombrio e assustador.
Mas como todos os dias, após executar suas tarefas sombrias. O seu olhar tem uma gota de excitação.
Seus lábios se apertam, como se quisesse dizer algo.
Suspiro.
eu sou sua ponta solta.
Wednesday acena com a cabeça. E dos seus lábios ecoam um "sim".
Não se preocupe com isso, nid.
Assim ouço a porta do banheiro se fechar e o barulho do chuveiro.

[...]

[Alarme 5:30]

Ao acordar levanto-me da cama, provavelmente cheia de olheiras. Não durmo bem a alguns dias. Afinal dormir com um assassino ao lado não é nada tranquilizante. Mas o que eu poderia fazer. A não ser aceitar... suas escolhas.  Caminho até a penteadeira pegando minha nécessaire. O banheiro como sempre tem o odor forte de cloro, alvejante. Nunca tenho problemas com a limpeza do banheiro, pois ela sempre está aberta a essa função. Patética. Porque seria né? Eu literalmente afundaria seu nariz no cloro se pudesse somente para que ela saiba a agonia disso todos os dias. Sua falta de empatia com minha narina é desprezível.

sinto sua irritação daqui, o que é?
putaquepariu. Essa voz  quando acorda é maravilhosa.
Viro-me para ela, com as mãos segurando a pia.
Delícia. Você é uma delícia. Eu certamente devoraria você.
Cetim preto com rendas.
— Acordou atrasada? Não deveria estar indo para aula? - disse.
— Eu deveria mas você está a tempo demais nesse banheiro.  Suas mãos passam próximo ao meu corpo, para pegar a toalha que está no pregador ao meu lado.
— Se importa que eu tome banho primeiro?
Ela disse retirando a peça.
— Sim, pois eu também tenho aula.
— é só vir comigo. — Wednesday ligou o chuveiro deixando a água cair em seu corpo.
— use pouco cloro. O cheiro é forte demais pra mim.
Retirei a escova de dentes, passei o creme dental. Começando a minha escovação enquanto eu tentava a todo custo não olhar para o lado.
Enrolada na toalha passando por mim.
menos cloro então. É só isso que quer de mim?
— Sim. — Covarde demais respondi que "sim". Eu literalmente quero que se lambuze de mim.
Rasgue meu corpo. Cometa seus delírios comigo.
Wednesday saiu fechando a porta do banheiro.

Nos corredores de Nunca Mais.
Os alunos atravessaram os corredores entrando em sua devida sala. Yoko me esperava em frente a sala com nossos livros mas mãos. Devido meu atraso não tiver como pegar os livros no armário.

— Obrigada — disse pegando meus livros de suas mãos.
— Bom dia, pela sua cara digo que não dormiu bem, o que houve o bicho papão te perseguiu? — Yoko riu.
— Wednesday chegou daquele jeito novamente, longe de querer ofender. Mas o cheiro de sangue é muito ruim.
Você sabe como meu olfato é sensível.
— Sexy. Sangue é taaaao bom. Não seja exagerada Enid.
A aula seguiu com tranquilidade, tivemos que realizar algumas atividades sobre como funciona o sistema cardiovascular.
A sirene tocava alto, indicando o horário do intervalo.

— Estou com tanta fome... Esses dias tem sido tão exaustivos .
—  Lobos tem tanto apetite, eu me contento com apenas duas bolsas de  sangue.  A propósito o cheiro do seu é maravilhoso.
— Meu deus! Que assunto horrível.
Ambas riram.

Ao encerrar o intervalo seguindo para sala de treinamento químico, sinto o esbarrão, meus materiais caem ao chão.
Bem clássico, ela passa reto sem olhar para trás.
— Qual o problema dessa garota? — Yoko abaixou para me ajudar pegar meus livros.
— Alguns Yoko.

[...]

O tempo passou rápido quando olhei pela janela do nosso quarto o entardecer já estava no seu auge. Dando espaço para a noite. Meus cabelos estavam desgrenhados  sobre o travesseiro. Eu apenas escutava a gotas finas contra os vidros da janela. O cheiro úmido de madeira molhada  inundando o quarto. E em como meu corpo estava arrepiado com a brisa fria que entrou no quarto junto com ela. Um clarão no céu iluminou o quarto.
Porém não havia ninguém para pedir socorro.
E eu muito menos queria estar salva agora.
O que estava acontecendo com ela?
seu corpo estava rígido como rocha, e sua respiração acelerada como um vento veloz. E seus olhos comiam com fome o meu corpo. As chamas nesse olhar opaco fez com que eu desejasse ser a próxima. O turbilhão em minha mente deixava em dúvida se deveria ou não a agarrar.
Sinto um fetiche pela tortura em suas mãos.
Wednesday inclinou o corpo próximo ao meu, sentindo o cheiro de meu pescoço chegando próxima aos meus lábios, sua respiração é como bala de hortelã.
Cheira como rosas Enid.
Deixou seu dedo indicador encostar em meu rosto.
sua pele é macia, um pecado.
Wednesday prendeu a respiração engolindo toda a vontade que sentia. Tocou em minhas mechas loiras e sentia a maciez. Apertou o punho.
uma vítima tão boa. Desejável. Tão proibido.
E com outro clarão no céu o quarto havia sido novamente iluminado.
— Me pegue Wednesday.

Fria como gelo e leve como uma pena. Tão macia, seu corpo sobre o meu é como uma poesia escura. Esses dedos longos e magros apertam com força meu pescoço ao ponto do ar ir embora. Lábios macios para um beijo tão agressivo, unhas afiadas perfurando o meu abdômen enquanto seu joelho pressiona minha intimidade. Sua língua se arrasta no céu da minha boca, meus dedos percorrendo seus cabelos.

Mais um clarão no céu. E eu estou sozinha novamente.

e se eu amar uma psicopata? - wenclair [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora