Moleque, amanhã — sexta-feira — será o dia em que mais venho aguardando de junho. Irei apresentar o melhor trabalho que já fiz na faculdade, vou ao shopping comemorar o aniversário do meu irmão e de noite haverá o encontro na casa da minha amiga para a famosa reunião de jogos. Na verdade, minhas expectativas podem estragar tudo, ou farei tudo muito corrido, e não quero isso.
Tudo começou pelo início da manhã, meu celular estava posicionado na escrivaninha pronto para despertar a qualquer momento. Eu parecia estar fingindo dormir durante a madrugada, ansioso e ao mesmo tempo feliz. A questão do sono foi que eu apaguei próximo das sete horas, faltando os gloriosos trinta minutos para seguir o cronograma planejado, o que acabou dando um pouco errado em relação ao alarme. Já que minha mãe e meus tios estavam gritando que nem loucos por conta do único banheiro que havia na casa. Irmão, era exatamente oito horas e quinze minutos da manhã, infelizmente tive a proeza de atrasar logo no dia da apresentação.
Mas como era o dia perfeito, minha carona por coincidência também atrasou e consegui me encontrar com minha vizinha linda, essa que não parecia muito bem emocionalmente. Ela estava acabada — morrendo de sono com o cabelo todo assanhado — nem sei se tomou banho. Como ninguém lá em casa pode me deixar na universidade, restava-me ir junto com Leonor, o que era extraordinário pelos seus pais serem super gentis logo pela manhã, minha melhor carona.
— Bom dia, Leonor! — Cheguei dançando ao lhe encontrar em frente ao portão de casa, parando imediatamente após notar a cara da derrota.
— Bom dia, Mikael! — Ela olha pra mim, respira fundo e solta — Adivinha...
— Atrasou também? Tem problema não, amiga, fique tranquila.
— Amigo, o carro do meu pai deu ruim, portanto, iremos de ônibus, tem problema?
Não estava acreditando, logo hoje que eu não poderia me atrasar. Boy, mentalizei pensamentos positivos, aquele dia era perfeito, sabem por quê? Bem na esquina da nossa rua tinha uma parada, "aquilo estava destinado a acontecer!". Rapaz, todos, TODOS os ônibus que passaram estavam lotados e nem pararam uma vez, mas a paciência divina que desceu na gente, foi surreal para aguardar um que fosse possível enfiar uma Leonor e um Mika ali dentro.
Naquele momento, estávamos em um ambiente abafado acompanhado de outros jovens, adultos, idosos, se brincar tinha até bebê na mesma situação. Já estava irritado por perder a oportunidade de apresentar o melhor trabalho individual já feito, ainda menos contente ao perceber o temporal se formando rapidamente. Sério, a macumba foi pesada.
Não demorou nem dez minutos para o ônibus parar por problemas técnicos do veículo, retirando todos os passageiros na parada mais próxima, onde não tinha espaço suficiente para o pessoal se proteger da chuva. Já estava nervoso por perceber que o destino não queria me ver feliz.
Estava eu ali, lutando contra uma multidão para não me molhar e me cagar mais ainda. Mas aí, eu me distraio olhando para o lado e percebo Leonor super calma distante da multidão, tomando um banho de chuva bem gostoso. Ela ficou apenas encarando o povo gritando uns com os outros, xingando os ônibus da cidade e a incompetência do governo no requisito de investimento público, um descaso total com a população.
No meio daquele monte de alvoraçados, uma mãe brotou atrás de mim e me empurrou numa poça de lama que ali se formava, apenas porque ela estava fora de controle por perder o horário. Aquilo foi a gota d'água.
— Criatura abençoada, ficou louca? — Levantei irritado, jogando lama na atrevida — Não está vendo que todo mundo aqui está na mesma situação?
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O dia perfeito - Conto
Historia CortaCom tudo planejado, acompanhado de sua amiga Leonor, o estudante Mika perceberá o quanto a imperfeição faz parte da perfeição. #1 Pressa