Capítulo Três: I Am The Problem.

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[Oito anos atrás, Seoul, Coréia do Sul]

Uma, duas, três gotas. Todas ali, no rosto cansado e inchado de tanto dormir de Lisa. Remexeu-se impaciente quando sentiu a quarta gota cair, coisa que fora o estopim para ocasionar uma longa jornada em busca da coberta – essa que estava no chão, pois havia sido chutada por si para fora da cama durante a noite – desistiu quando não conseguira agarrar o tecido, decidindo ser hora de se levantar.

O teto branco e o bolor ainda em seu início foram as primeiras coisas que observou ao abrir os olhos. Já havia perdido as contas de quantas vezes pediu a sua mãe para que desse um jeito na infiltração presente em seu quarto, mas não era surpresa que ela tenha a ignorado. De novo. Era frustrante.

Sentou-se e levou o braço direito para trás do pescoço, como era de costume. Não conseguia ter um bom dia caso não se alongasse. Calçou as pantufas de coelho que estavam sob a cama e respirou fundo antes de caminhar até as cortinas que mantinham o quarto parcialmente escuro.  Estava ensolarado. Muito Sol para o horário rotineiro que costumava acordar. Foi então que se deu conta de que ainda era uma quinta-feira.

O dia anterior havia amanhecido completamente diferente, estava chuvoso e com isso o clima se tornara exatamente como Lisa adorava: frio. Era ótimo para hibernar, como gostava de chamar suas sonecas.  Acabou pegando no sono enquanto assistia televisão na sala e ao menos se lembrava de como havia chegado ao seu quarto. A noite havia sido longa e tão boa, que não recordava o seu nome nessa manhã.

Pegou o celular no móvel ao lado da cama e ao observar o visor arregalou tanto os olhos que cogitou que seus glóbulos oculares pudessem realmente saltar dali.

– Sete e quarenta? Não, não, não, não! – exclamou enquanto corria em direção ao banheiro – Calma, são só quarenta minutos de atraso – soltou numa tentativa falha de se acalmar, pois logo se lembrou de que ainda seriam necessários dois ônibus para que chegasse à escola – O que mais pode dar errado?

Não tinha uma resposta concreta para isso. Se algo poderia dar errado consigo, então daria. Qualquer mínima coisa, e não é exagero quando se diz que o mundo parece contra si. Havia se tornado uma regra clara do destino que em algum momento fora traçada e, observando bem, claramente esqueceram-se de perguntar sua opinião sobre ou sua autorização para com isso. Lisa cogitava isso como a teoria do caos, e o acontecimento que claramente ocasionou todo o problema fora seu nascimento, por isso levava o que acontecia apenas como consequência.

– Mas que droga de franja! – soltou contra o reflexo no espelho ao observar a franja deslocada e posicionada para cima – Qual é, por favor! – passou o pente pela quinta vez seguida, mas de nada adiantou. Foi então que juntou as mãos em forma de concha e pegou o máximo de água possível e a levou em direção aos fios – Voilá!

Satisfeita com o que vira, pôs-se em direção ao quarto, a procura de qualquer uniforme limpo que pudesse utilizar. Recentemente havia conseguido uma bolsa de estudos em uma escola particular da cidade, com isso, o uniforme era rigidamente obrigatório. Não encontrou nenhuma camisa limpa.  Sua mãe gostava de dizer que não era sua obrigação lavar roupa de – como já estava acostumada a ouvir toda vez que perguntava sobre uma peça – adolescente folgada. Essa era uma das várias coisas que discordava de sua mãe. Não acreditava que a roupa fosse sua obrigação, literalmente, mas a responsabilidade de criar uma filha sim e isso exige alguns desses pequenos cuidados e necessidades. Mas Lisa não dependia dela, para nada além de uma casa e comida. Quatorze anos e era responsável por si própria, era óbvio que falharia em diversas das vezes.

Avistou uma camisa jogada no canto do quarto. Lisa nunca fora do tipo desorganizada, mas quando chegava cansada, acabava jogando algumas roupas e livros pela casa. Pegou a peça com as pontas dos dedos, evitando tocá-la de forma direta e a levou até o nariz.

You're My Cure - ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora