You're My Cure - Chaelisa

Capítulo Cinco: Chance Speaks Louder Than Plans

[Oito anos atrás, Seoul, Coréia do Sul]

Lisa estava ali, sentada na pequena, velha e desconfortável cadeira da biblioteca de seu colégio. Odiava tudo no local – não é exagero descrever o sentimento dessa forma – odiava desde a decoração mal feita até as pessoas que o frequentava. E odiava principalmente o fato de não ter a opção de estudar em sua casa. Como poderia trocar o silêncio por cobranças de obrigações justamente na semana de provas?

Se pensasse no fato de que o lugar era composto com os melhores equipamentos de estudos, poderia fingir que a visita estava agradável. Mas ali, em frente a sua mesa, atrás somente de seu monitor, estava Mark. Lisa engolia em seco toda vez que em sua mente, por alguns milésimos de segundos, passava a ideia de que ele iria vê-la. Respirou fundo antes de encarar o livro em sua mão, esse qual havia pegado apenas para se distrair durante os intervalos de uma matéria para outra. “O banquete” escrito por Platão havia chamado atenção de Lisa, já que um dos principais temas abordados era o Amor. Lisa não conhecia nada dele.

– “Afirmo eu então que todo homem que ama, se fosse descoberto a fazer um ato vergonhoso, ou a sofrê-lo de outrem sem se defender por covardia, visto pelo pai não se envergonharia tanto, nem pelos amigos nem por ninguém mais, como se fosse visto pelo bem-amado” – Lisa sussurrou o parágrafo enquanto sentia a textura grossa do papel coberto por pequenos grãos de poeira por tanto tempo na estante em seus dedos – “E isso mesmo é o que também no amado nós notamos, que é sobretudo diante dos amantes que ele se envergonha”. – Tentou absorver o que havia acabado de ler. Nunca fora tão boa com interpretações. Releu mais algumas vezes, até desistir e se voltar para os exercícios de matemática que a aguardavam.

Quando terminou todos os seus deveres, juntou suas coisas e as guardou na mochila surrada. Colocou o livro novamente na estante e desligou o computador que estava utilizando. E então observou Lee Mark, mordendo a tampa da caneta azul, concentrado. Achou estúpido como ele parecia inocente naquela posição, e era ridículo pensar como enganava a todos os professores e funcionários da escola só tendo um rosto bonito e muito dinheiro.

– Hey, bolsista! – O garoto gritou, naquele momento, todos já haviam ido embora – Tá’ olhando o que? Por acaso minha cara está suja? – Foi ai que Lisa percebeu que havia encarado por tempo demais.

– Só estava me certificando de que não estou esquecendo nada na biblioteca, Lee. – Lisa andou rapidamente enquanto ignorava o olhar fulminante do garoto em sua direção. Estava indo até a saída, mas ao passar ao lado da mesa de Mark, sentiu sua mão em seu pulso. Então o encarou. Estava disposta a revidar hoje.

– Tem a resposta da quatro? – O rapaz apontou para o caderno a sua frente.

– E por que eu te passaria? – Perguntou, sinceramente, seu coração estava coberto de mágoas e rancor.

– Qual foi, bolsista? – O garoto suspirou – Te encho o saco, mas não custa ajudar, nem nada.

– Primeiramente – Lisa puxou seu braço, soltando a mão que ainda prendia seu pulso – Meu nome é Lalisa. – Abriu a mochila, se arrependendo no mesmo momento. Mas o quê poderia fazer? Não conseguiria ser ruim nem com a pior pessoa do planeta. – Tira uma foto, eu preciso mesmo voltar pra casa agora.

– Deixa teu caderno comigo. Eu te devolvo amanhã.

– Não.

– Lalisa, é sério.  – A encarou, pela primeira vez, sem parecer irritado – Amanhã, sem falta. Eu não tenho a resposta de nenhum e não faço a mínima ideia de como fazer. Não custa, não é?

– Ok.

Foi ao chegar em casa que percebeu as consequências de suas ações. Sua ansiedade chegou ao ápice quando pensou no que o garoto poderia fazer com teu caderno. Todas as suas anotações estavam ali, não tinha os computadores ou celulares avançados para fazer como os outros faziam. E se ficasse sem o caderno, não teria como estudar. Sem estudos iria mal na prova. E se tirasse notas baixas, poderia perder sua bolsa. Naquela noite não dormiu nada.