2. Hot Damn

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Tudo começou quando a minha família se mudou para um novo bairro. Coincidência ou acaso do destino, a família Kirishima também se mudou no mesmo dia. Duas casas, uma em frente a outra, a menos de sete carros – um ao lado do outro – de distância. Para mim, esse era o início de um novo ano, a chegada de novas oportunidades para muitas coisas. Uma nova oportunidade para me esforçar para conseguir amigos, porque eu nunca fui bom nisso e não tinha nenhum amigo no meu antigo bairro. Meus pais também estavam animados com a mudança, amores, tudo era novo e empolgante demais.

Porém, infelizmente, tudo deu errado. Graças a um idiota que sempre pareceu gostar de me tornar um colecionador de curativos e machucados novos toda semana.

Kirishima Eijiro, o filho mais velho dos Kirishima. Uma pedra no meu sapato desde que eu me entendo por gente e a primeira pessoa que eu odiei verdadeiramente. Além, é claro, de ser o alfa mais grosseiro e mal educado que eu já vi em toda a minha vida.

A família dele e a minha são vizinhas, e nunca houve nada de errado quanto a relação dos nossos pais, muito pelo contrário. Eles devem ser as únicas pessoas do mundo que ainda torcem para que aquele ridículo e eu nos tornemos amigos. O que, é claro, nunca vai acontecer.

Meu problema com Kirishima Eijiro é que ele tentou fazer amizade do pior jeito possível. Se ele tivesse chegado em mim e dito "Ei, eu sou seu novo vizinho da frente, prazer em conhecê-lo", teria ficado tudo bem! Mas ele não fez isso, e eu lembro muito bem do olhar de pena que ele me deu porque concluiu que eu era um fracote que não sabe se virar sozinho.

Foi totalmente o oposto de apresentação gentil, estava mais para apresentação prepotente. Eu lembro do sorriso ridículo dele quando me abordou, esticou os braços e disse "Oi! Você parece um ômega como a minha irmãzinha, se quiser eu te protejo em troca de jujubas!".

Sabe, na época eu pensei que ele era maluco e irritante. Onde diabos ele havia aprendido que essa maneira de abordar um ômega poderia, em uma hipótese absurda, funcionar? Em algum livro da idade média?

Meu motivo para não ter tido amigos no outro bairro não tinha nada a ver com ser um fraco, muito pelo contrário. Eu não tinha amigos porque tenho o temperamento que herdei da minha mãe, uma alfa, e ela não é lá a pessoa mais calma e passiva do mundo. Meus pais são alfas, mas meu pai é o oposto dela. E assim como ela, eu fico tranquilo quando me esforço e quero. Mas ouvir um desconhecido supor que eu era fraco, sem nem ao menos me conhecer, foi frustrante. E como ômega, foi totalmente irritante. Então, eu acabei chutando a perna de Kirishima Eijiro e o chamando de "alfa ridículo".

A propósito, ele saiu correndo como um animal assustado. Foi revigorante. No final, eu senti que era ele o fraco querendo se fazer de forte, e não eu. A parte chata é que a partir desse evento, vários outros aconteceram entre nós dois. E nenhum deles foi bom.

Mais ou menos dois meses depois, quando toda a loucura da mudança passou para ambas as famílias, meus pais me incentivaram a ir atrás de Kirishima. Eu queria amigos e não sabia exatamente por onde começar, então meus pais sugeriram que eu fosse me resolver com aquela miniatura de alfa para que, assim, uma amizade pudesse surgir a partir do perdão.

Não precisei reunir coragem ou algo do tipo. Eu reconheço que sempre tive um ego nas alturas, então não passou pela minha cabeça que as coisas poderiam dar errado. Eu estava confiante apesar de ter que passar por cima do meu orgulho — e isso não era algo que eu gostasse de fazer.

Então, achei meu vizinho na limpeza depois da última aula. E decidi pedir desculpas por ter chutado ele. Mas Kirishima Eijiro tinha o hábito irritante de apressar as pessoas a falarem logo, e isso nada era nada bom para mim que estava nervoso e me esforçando para falar qualquer coisa. No final das contas, aquele idiota resmungou algo sobre ser muito ocupado e me deixou sozinho na sala de aula. Eu fui atrás dele, é claro, mas ele praticamente gritou para que eu parasse de lhe seguir. Disse que não me queria por perto nem se eu oferecesse um caminhão de jujubas. Ah... e me chamou de loiro estúpido.

 ★ Entre Saltos e Enterradas ╏⁠ KiriBakuOnde histórias criam vida. Descubra agora