O carro balança sobre alguma estrada ruim, como se andasse sobre cascalho, pela janela posso ver a poeira que se levanta, formando uma névoa densa. Meu corpo cansado e relutante fica cada vez mais distante do sono agradável de meia hora atrás, não sei como minha cabeça turbulenta conseguiu dormir ou talvez tenha sido as lágrimas e os meus olhos inchados, sinto-me tão instável quanto a bomba que Harry carrega no carro.
Pelo retrovisor os olhos de um verde intenso me observam, os mais fortes que já vi, eles brilhavam, era forte, não frágil como estou agora. Toda vez que olho no fundo daqueles olhos sinto que estou no fim do mundo, sozinha, como em uma praia deserta, sem nada além da imensidão do mar e da areia. Não há nada no fundo daqueles olhos e penso que quase sempre estou buscando algo para puxar de lá de dentro.
Parece que ele sabe disso. Ela sabe disso quando me olha.
Me levanto com cuidado, pressionando o ponto de dor em minha testa, bem acima dos olhos, a dor é aguda e persistente, ela vem de trás. Sentando-me no banco traseiro, noto que já está começando a entardecer e me pergunto quanto tempo ficamos na estrada.
Harry boceja e os olhos vermelhos entregam a noite também mal dormida, somos péssimos parceiros de cama. Não confiamos o suficiente para ficar vulnerável, então fingimos que dormimos enquanto observamos sorrateiramente o outro.
Estamos passando por uma estrada de barro com cascalho e uma imensidão de plantações de milho me faz perguntar onde estamos, tudo parece incerto e sinto que não possuo controle sobre quase nada e de fato não possuo.
── Melhor? ── A voz é tão rouca que ele pigarreia.
── Eu não notei que dormi, foi mal...
Ele nega, como se fosse uma bobagem. Sou a pior companhia que alguém poderia ter, ele sabe disso, é tão transparente quanto o para-brisa limpo pela fina camada de chuva. Ao menos ele não foi rude, preciso me recompor e definir uma ordem de prioridade, usar a mente e não as emoções, preciso me afastar de minhas dores antes que esta me consuma como fogo, ao menos por agora.
── Existe alguma possibilidade de eu explodir?
Passo para o banco da frente com todo cuidado que eu posso ao lembrar da bomba embaixo de mim.
── Depois de quatro anos lidando com bombas, se esta explodir é por que eu mereço morrer.
Harry reduz a velocidade à medida que entramos em uma parte esburacada e contorço o nariz com a ideia aflitante de atolar no barro molhado em um lugar como este.
O lugar é estranho e com vários caminhos que foram abertos no puro improviso, talvez seja uma das rotas usadas para tráfico, como Harry disse. Afinal, criminosos experientes não iriam trafegar livremente pelas vias principais, ao menos não em minha cabeça.
── Achei que íamos parar em algum lugar. ── Digo
Eu gostaria mesmo de descer e esticar minhas pernas, comer algo e tomar um ar que não seja o artificial do aquecedor, entretanto, claramente onde estamos não terá uma loja de conveniência.
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CHELSEA - A Ascenção De Um Narco (H.S)
RandomJurado de morte, um ex soldado filho de uma cruel chef do crime; assume os Kings Canals, uma antiga gangue que assombra as ruas de Londres. Iniciada: 10/02/2023 Capítulos escritos: 40 Capítulos Publicados: 31 Ultima atualização: 07/07/2023