Capítulo 3 Reveses

209 41 164
                                    

A manhã fria de outono trazia os sinais de que o inverno seria rigoroso. As famílias na Vila estavam empenhadas em juntar a maior quantidade possível de lenha, carvão e mantimentos para enfrentarem a estação mais hostil do ano.

Árvores perdiam suas folhas que jaziam ao chão. As que lutavam bravamente contra a gravidade permanecendo nas copas davam tons alaranjados ao ambiente.

O prefeito do local ficava da varanda observando o movimento dos ocupantes do vilarejo que perambulavam por todas as ruas e vielas.

Os Crowford, no entanto, enfrentavam há alguns anos dificuldades, desde que o pulmão de Harry, o chefe da família, foi acometido do mal muito comum em trabalhadores de minas de carvão. O temido "pulmão negro".

Isso era muito suscetível aos homens que desde muito novos se expunham a perigos em trabalhos tão insalubres.

A vida cotidiana para os trabalhadores das minas era muito penosa e desgastante. A jornada diária chegava a dezesseis horas, às vezes mais. O cansaço junto com as condições precárias nos locais aumentavam ainda mais os riscos.

As perfurações eram feitas com dinamites, com riscos de desmoronamento das estruturas internas eram reais. Ao abrir os caminhos até o mineral, eles desciam ainda mais nos tortuosos caminhos escuros nas montanhas perfuradas. À medida que desciam, o calor na mina se tornava mais intenso. A liberação de gases tóxicos e a fuligem de carvão tornava o ambiente realmente venenoso.

Muitos trabalhadores dessas mineradoras desenvolviam doenças crônicas pulmonares e casos mais sérios, pneumoconiose, fibrose que endurecem os alvéolos pulmonares incapacitando uma respiração normal, a doença avançava até que o sujeito não teria mais passagem de ar pelos pulmões. A exposição de muitos anos que Harry Crowford teve desde criança nos ambientes insalubres das minas fez com que desenvolvesse tal mal. Não havia cura. Assim a família convivia com essa triste fatalidade. Compartilhavam essa tragédia com muitas famílias no entorno das minas.

Harry Crowford se esforçou como pode para que seu único filho não tivesse tal destino cruel. O menino foi à escola da vila, aprendeu as letras e os números. O mineiro tinha orgulho do caráter de seu menino. Sabia que ele iria muito longe na vida, precisava ter as oportunidades certas.

Na vila o cotidiano seguia lento como sempre Lydia cuidava de Harry, enquanto a doença do homem avançava, o casal preferia que o garoto tivesse uma vida mais normal que pudessem oferecer, deixavam o filho viver a sua infância na medida do possível, mesmo sendo tão sério para a idade desejava que ele tivesse alguma distração.

Benjamin em toda a sua curta vida nunca ficou tanto tempo afastado de sua amiga. Caminhava pelos lugares que comumente andavam juntos aprontando suas peraltices, no entanto, o passeio já não tinha o mesmo brilho.

Decidiu retornar a sua casa, tinha ciência que sua mãe com certeza necessitaria de seu apoio. Ao cruzar a praça da vila um senhor de casacos aquecidos o abordou.

— Você, — o garoto se voltou para a voz que o chamou — é o filho de Harry Crowford? — Ele hesitou por um momento em responder, então respondeu.

— Sou sim, senhor.

— Ótimo, então me leve até os seus pais.

— Quem é o senhor? — Mostrava zelo por sua família. O homem sorriu despenteando Benjamin.

— Meu nome é Gregory Crane. Sou o gerente da mina onde seu pai trabalhou.

Nesse momento o menino entendeu a seriedade da visita, levando até a sua humilde casa.

A casa estava fria como o costumeiro, sempre poupavam a lenha para aquecer onde seu pai ficava.

Lydia veio ao encontro do gerente da mineradora. Limpava suas mãos cansadas num avental puído. Estendeu um convite cordial ao sujeito que aceitou de pronto. Não retirou o casaco.

Além do Tempo ( Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora