Sintonizados

Friends to lovers

Quando nos tornamos amigos (amigos de trocar mensagens com frequência, de fazer piadas com as situações ruins e de boas recomendações de viagens) a sensação de desconforto foi diminuindo e sumiu. Eu me sentia muito a vontade com Lewis, pelo menos através das mensagens. Porque quando era chamada de vídeo, nos riamos tanto que as vezes eu o pegava me olhando com um brilho diferente. Eu costumava fingir que era coisa da minha cabeça e ignorava. Apesar da mera menção de me relacionar com ele fizesse meu coração palpitar, eu preferia não me iludir. Então, deixava para lá. Se fosse para acontecer, já teria acontecido. 

         * 

Lewis sabia do meu amor por fotos de paisagens da natureza e uma vez,  me ligou de madrugada para mostrar a visão do nascer do sol no deserto. Ele se desculpou por ter me acordado mas se divertiu com meu encantamento e disse que um dia eu poderia veria isso pessoalmente. Conversamos brevemente até que eu comecei a bocejar e o ouvi dizer para que iria desligar para eu voltar a dormir. Por mais maravilhoso que seja conversar com ele e ver uma paisagem magnífica, eu não podia lutar contra o sono às 2 da manhã de uma terça feira. Assim que ele desligou, eu voltei a sonhar de olhos fechados. 

Quando acordei novamente, vi que ele havia enviado um vídeo do exato momento em que a noite se esvai dando lugar ao amanhecer no deserto. Seguido de diversas fotos do céu, das dunas e do hotel luxuoso ao ar livre. Obviamente, tive a única reação possível: respondi com um áudio gritando de felicidade com tanta foto linda. 

                        * 

Em outro momento, tive a oportunidade de viajar para assistir uma das corridas e me diverti muito nas áreas privadas que eu podia circular. Eu tinha algumas pulseiras de acesso no braço e um passe livre para a maioria dos espaços. Nessa minha vontade de conhecer tudo, eu acabei na cabine que balança a bandeira na linha de chegada. 

 A corrida teve um bom resultado, mesmo ele tendo ficado no pódio. Não nos vimos após acabar a corrida porque ele tinha algumas reuniões com a equipe e outros afazeres. Mesmo assim, Lewis teve a gentileza de organizar a logística do motorista para me levar ao hotel e ciente de que eu estava no caminho, só se despediu quando avisei que já estava dentro do quarto. Também larguei o celular depois de responder sua última pergunta: "onde você estava durante a corrida? Ninguém te encontrava em lugar algum". Eu respondi com uma foto minha na área onde balança a bandeira na linha de chegada, sinalizando o fim da corrida. "Estava esperando por você". Pensei em escrever mas não o fiz.

Com os poucos dias de folga entre as corridas, aproveitamos o tempo juntos dentro do hotel. Na verdade, Lewis ainda tinha muitos afazeres e não poderia me acompanhar em atividades externas. Mas eu pude passear pela cidade com um motorista em uma tuor montada com sugeridos do Hamilton. 

Nossos momentos eram bem divertidos mas eu já tinha percebido olhares, toques e abraços diferentes. Numa das ocasiões quase nós beijamos, sem querer. Eu não negaria mas também não queria tomar o primeiro passo. 

Na ocasião, estávamos assistimos filme juntos. Eu estava falando algo muito entretida e notei o olhar profundo do Lewis em mim. Perguntei o que era e ele disse que só estava atento. Fingi que acreditei porque não queria piorar o clima. Tentei prestar atenção no filme mas o celular dele começou a apitar constantemente. Hamilton pediu licença e saiu para atender. Ele ficou um bom tempo tentando resolver a emergência, e quando retornou o filme havia acabado. Ponderei se deveria falar com ele mas decidi não incomodar. Eu já havia organizado o sofá, desligado a Tv e limpado nossa bagunça. Então, era hora de ir embora.