Mysteries

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Natasha POV

- Olá, tudo bem? Poderia me informar se o senhor Paul Bettany trabalha nesta empresa?

- Me desculpe, mas antes preciso saber com quem estou falando.

- Me chamo Natasha Romanoff, sou terapeuta do senhor Paul. Me desculpe estar ligando mas se eu tivesse outra opção não estaria fazendo isso. - Me sentei na poltrona do meu consultório. - Paul não costuma faltar as sessões e isso vem acontecendo frequentemente, ele não atende minhas ligações e não tenho contato com parentes próximos a ele. Meu trabalho é só conferir se algo de errado ou estranho aconteceu.


- Entendo. Bom, a única coisa que posso dizer é que Paul está vindo para o trabalho todos os dias como de costume, fora isso eu não posso ajudar mais se não serei prejudicado, moça. - A voz no telefone parecia de um senhor bondoso que realmente só queria ajudar.

- Já ajudou muito, muito obrigada pela atenção. - Nos despedimos e eu me encostei na poltrona.

Paul realmente desistiu das sessões... Eu já esperava por isso, na verdade. Já fazia um tempo que ele não estava disposto a fazer terapia por não estar recebendo o resultado desejado. Mas ainda assim fico pensando se realmente consegui não transparecer o meu envolvimento com Wanda durante as consultas. Consciência pesada é foda.

Nesse caso, prefiro pensar apenas que Paul se cansou de tentar esquecer Wanda na terapia e está focado em seu trabalho. Não é incomum, muitos pacientes não se adaptam a terapia e acabam deixando de vir de repente. Mas como eu disse para o moço bondoso no telefone, meu trabalho me obriga a insistir a entrar em contato com o paciente caso ele suma, porque pode haver um caso mais sério por trás do sumiço.

O problema é que procurando nos relatórios e na ficha do caso do Paul, o homem não parecia ter ninguém além de Wanda em sua vida. Vez ou outra eu insistia para que Paul falasse um pouco de sua família, sobre sua infância, mas ele sempre voltava ao mesmo assunto: Wanda. Então eu não tinha contatos para perguntar sobre ele e o endereço da ficha estava desatualizado, ele se mudou e ficou de me passar seu novo endereço, mas isso nunca aconteceu.

Suspirei e olhei para o pequeno relógio que deixo num ponto estratégico da sala, para saber quando as sessões estão acabando sem que o paciente se sinta desconfortável com um despertador tocando do nada no meio da conversa. Faltavam 15 minutos para Gaby entrar na sala e eu precisava focar apenas na garotinha de 12 anos naquele momento.

Gaby é super tímida e muito inteligente, e quando eu digo isso não estou exagerando. Ao mesmo tempo que Gaby tem uma dificuldade gigantesca para fazer amigos, ela monta vários quebra-cabeças e resolve enigmas que muitas pessoas nem chegam perto de resolver. Ela é uma menina extraordinária e por isso sofreu muito bullying e racismo na infância, ao ponto de desenvolver traumas depois de vários episódios de torturas psicológicas e físicas feitas por um grupinho de adolescentes da antiga escola. Gaby apanhou tanto um dia que chegou a desmaiar.

A doce menina desenvolveu crises de pânico e fobia social. Ela está comigo há um ano e já fez um progresso gigantesco, a evolução dela é visível. A mãe dela chorou na última sessão dizendo para mim que pela primeira vez a filha chamou uma amiga para dormir em casa, Gaby nunca faria isso antes. Casos como esse me aliviam e me fazem perceber que posso sim não progredir com alguns pacientes, mas eu não devo focar somente nisso.

Eu sou uma ótima psicóloga apesar de tudo e se eu estiver ajudando a maioria deles, eu já vou estar feliz.

(...)

Vício (Wantasha) Onde histórias criam vida. Descubra agora