Capítulo 1

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      - Era uma vez em uma terra distante... - disse o velho.

      - É sério que você vai começar com era uma vez? - o jovem retrucou.

      - A história é minha ou é sua hein? Esses jovens, sempre acabando com a magia das pequenas coisas. - o velho respondeu.

      Era uma vez em uma terra distante ao norte, domínio do grande Império Bapushi, as terras sombrias, um lugar caótico e sem regras onde o simples fato de estar vivo morando alí já o colocava em desvantagem contra os vários seres malígnos, personificações do mal, sendo os Magubbus, aqueles que carregavam a maior energia malígna, portanto os mais perigosos, somente aqueles abençoados de poder conseguiriam enfrentá-los sem acabar provando uma morte dolorosa, de todas as formas possíveis. Naquele mesmo lugar haviam outras criaturas menos hostis e que por vezes, conviviam em certa trégua desde que fosse um morador daquele lugar, esses eram os vivos, em sua maioria eram seres bípedes como os trolls negros, os goblins, os ogros, seres licantropos, gigantes, entre outros.

      Naquele mesmo lugar existia um corvo, não somente mais um entre os vários comedores de corpos, aquele era diferente, não porque ele era forte ou possuía grande quantidade de magia, sua coragem que lhe garantia inteligência e até certa nobreza, essa era sua diferença. Corvos não possuiam um bom status como criatura, nem mesmo nas terras sombrias, eram vistos como empregados ou escravos da natureza, além de sua magia ser quase zero, eram exilados pelos deuses à morar no pior lugar dos quatro cantos do mundo.

      Seu nome era Kirp, apesar de seu significado ser pulga, possuía uma boa altura dentre os demais de sua espécie. Entre os seres daquele lugar, alguns poucos faziam amizade ou laços de confiança, dado que a sobrevivência vinha em primeiro lugar, ser amigável poderia causar sua morte. Kirp se encaixava nesses poucos, com seus dois amigos, Calibios e Tarita, um corvo e uma doninha que por ironia do destino quando Kirp nascia, Calibios rolou para perto dele também em um ovo, não existem muitos lugares para se fazer um ninho naquele fim de mundo, e certamente não era novidade o que veio depois. Uma doninha tentou devorá-los mas foi comida por uma cobra, aconteceu que ela tinha um filhote recém-nascido e para o bem ou para o mal, acabou naquele ninho maluco. Foi assim que se conheceram e cresceram juntos, lutando por suas vidas com uma pitada de aventura.

      Certo dia Kirp foi até a borda de Bulgaléi, oeste das terras mortas, voou em busca de grãos especiais, digamos assim, ele os chamava bolotas mas sabia que se tratavam dos Cunjos De Betulim, suas propriedades traziam um grande revigoramento para o corpo e deixava o usuário satisfeito por dois dias, podia ser usado como remédio para ferimentos graves e até como afrodizíaco, outros corvos só sabiam que era de comer ou acabavam saudando os deuses quando sentiam-se cheios de energia.

      - Peraí, peraí... os corvo fala? - o garoto perguntou.

      - Meu jovem, se eu quiser que o corvo fale, ele fala, oxe... mas continuemos. - o velho respondeu.

      Voou por quatro noites até chegar no local, levou seu bisaco na ponta do bico para trazer uma maior quantidade de grãos, utensílio que aprendeu a reproduzir observando alguns guerreiros goblins o fazendo para carregar a caça. Quando se aproximou do seu destino ele decidiu voar com mais cautela, aquela era uma área de dragões e aves bem maiores que um corvo, um deslize poderia causar sua morte, além do que, seu amigo Calibios não pudera vir naquela ocasião, pois estava buscando um novo lugar provisório para eles ficarem, não era viável morar no mesmo lugar por mais de duas semanas.

      Chegando ao final do destino já podia-se ver os enormes rochedos, uma cadeia de montanhas tão altas quanto o céu, suas formas íngremes garantiam a predominância daqueles que comandavam os ares, passando por elas, haviam cinco grandes vales, Tambir do Sul, Beluti, Gabuzam, Tambir do Norte e o Vale dos Reis, todos esses primeiros possuíam seus protetores, somente o último nunca havia, dizem que em sua terra estão os ossos dos muitos que lutaram para reivindicar seu domínio, rugidos estridentes ecoam até para fora daquele lugar. Kirp jamais se atreveu à ir lá, sabia exatamente que encontraria sua morte dentro daquelas paredes de rocha, sua melhor opção era Beluti, já que ficava em um local menor, com uma boa iluminação e rotas para fugir, então, partiu para lá.

Por AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora