Parte III- Heróis, Princesas e Fewawi.

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⚠️Avisos:  Angustia( Charles muito triste falando sobre perder quem ama), menção a abandono materno, problemas com os pais, depressão pós parto, entre outros gatilhos. Mas também temos a interação mais fofa com Vincenzo pela primeira vez então isso já é um avanço.

Aproveitem a leitura!

Ps: Essa parte é toda baseada pelo ponto de vista do Charles.

Quantidade de Palavras: 4.332.
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19 de Abril de 2019- Monte Carlo, Mônaco.

Quando meu pai morreu há alguns anos, eu pensei que estaria preparado para qualquer perda que eu teria que passar posteriormente. Iria doer perder outras pessoas, disso eu não tinha dúvidas, mas eu jurava que nada poderia me abalar tanto quanto perder meu herói.

Quando eu menti para ele que tinha conseguido o contrato da Ferrari, porque era um sonho dele e eu queria que ele pudesse descansar em paz  sabendo que tínhamos conseguido, que todo o esforço que ele tinha feito pelo meu futuro, havia válido a pena, eu achei que nada mais poderia doer tanto quanto saber que ele nunca teria a oportunidade de me ver vestindo um macacão vermelho e dirigindo um carro da Scuderia.

Quando me deram autorização para que eu dirigisse o carro que levava o caixão com o corpo dele, e eu rodei pela cidade para que meu pai pudesse dar o último adeus para o lugar em que viveu e amou por tanto tempo, antes de levá-lo ao cemitério, eu achei que nada poderia destruir meu coração e queimar cada célula do meu corpo tanto quanto aquilo fez. 

Eu achei.

Mas eu deveria ter sabido melhor. Deveria ter entendido que nenhuma dor seria o suficiente para calejar a alma de alguém.

A notícia chegou para mim na segunda-feira, quando eu ainda estava em Shangai após a corrida, há dois dias.  Marie, minha ex namorada, me ligou no meio da noite, eu não entendia o porquê dela estar me ligando, sendo que após o término, há 6 meses, nós não havíamos nos falado.

O meu coração havia acelerado antes de atender o telefone e milhares de pensamentos passaram na minha cabeça, tais quais se ela estaria bêbada e com saudade, ou se ligou sem querer. Se queria apenas conversar por ter tido um dia ruim e Jules não havia atendido quando ela ligou. Eu poderia esperar tudo, poderia pensar em qualquer possibilidade, mas nunca, jamais naquelas palavras. "Jules está morto." Foi o que ela disse logo após o meu alô. Não houve choro, nem pausas. Apenas uma voz quebrada e sem vida. Uma voz morta e gelada.

Marie não havia ligado porque estava bêbada, ou porque tinha tido um dia ruim e não havia mais ninguém com quem ela pudesse conversar. Não era a saudade por termos ficado 6 meses separados. Não era para dizer que me amava, como sonhei tantas vezes antes.

Marie ligou porque nosso melhor amigo, meu padrinho, estava morto. Sem lágrimas, sem pausas. Apenas o choque. Foi direto. Foi assustador.

Eu perguntei sobre o que ela estava falando, pois Jules havia saído logo após a corrida, e ele estava bem. Estava feliz pela posição e queria voltar para Nice para comemorar com a família. Ela não me respondeu. E eu perguntei se ela tinha bebido, ou se aquilo era um jeito fúnebre de tentar dar início a uma conversa com o ex namorado. Mas ela não riu como eu sabia que ela faria se estivesse brincando. Então eu senti. O silêncio que dizia a verdade. Eu havia perdido Jules também.

Então eu  gritei no telefone, disse que aquilo não tinha graça, que já era tarde e que eu não queria  participar daquele jogo lôbrego. Negação. "Venha para Mônaco, Charles." Ela disse e desligou.

Uma Família de Três (CL 16)Onde histórias criam vida. Descubra agora