Capítulo 4 - Yuu

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Mal havia começado minha seção matinal de treinos, quando ouvi Tetsu berrando é algo quebrando.

— ZEN COMO VOCÊ SE ATREVE DIZER ISSO?

Não pensei duas vezes e sai correndo em direção da estufa, o que será que aquele Kitsune fez para deixar Tetsu, o pai da paciência, tão descontrolado?

Em menos de um minuto avisto Zen na porta da estufa, desviando de um maço de terra.

— KITSUNE MALDITO! O que você fez com o Tetsu!? — disse em tom acusatório, nunca em toda a minha vida, ouvi Tetsu gritar.

Zen apenas riu da minha reação, e com suas caudas segurou as mãos de Tetsu e me puxou pela cintura com outro.

— Se acalme querido samurai, fiz uma brincadeirinha que nosso curandeiro não gostou muito — disse Zen, enquanto pegava seu kiseru.

— Ele disse que iria comer a Ran! — acusou Tetsu — ela é só uma criança!

— Quem é Ran? — perguntei confuso.

Reparando melhor na estufa, percebi uma pequena criança sentada na bancada de Tetsu, ela não aparentava ter mais de quatro anos, sua aparência era desleixada,  reparei que sua pele possuía escamas, deveria ser um yokai. Ela estava segurando a barra do haori de Tetsu.

— Ran é essa criança que encontrei quando fui buscar flores de Yue no pântano — apontou Tetsu — ela estava com fome, por isso trouxe aqui.

— Tetsu, você não pode simplesmente trazer uma criança que você encontra na rua — comecei a sentir o início de uma dor de cabeça, belo jeito para começar o dia — A família dela deve estar desesperada!

Antes que Tetsu pudesse responder, Zen replicou de forma calma, como se fosse a coisa mais casual da vida:

— Então você trouxe ela para engordar e fazer um belo caldo?

— ZEN! — eu e Tetsu gritamos e a raposa estava com seu usual sorrisinho torto.

— Já disse que ela não é comida Zen! E Yuu-chan a família dela não se importa, ela foi abandonada! — replicou Tetsu — Dei café da manhã pra ela e agora ela estava me ajudando a guardar as pétalas e raízes que coletei hoje na madrugada.

— Espera um momento – comecei a raciocinar — o que você vai fazer com essa criança, se ela não tem onde ficar?

A cada segundo que passava minha cabeça começava a latejar intensamente, e conhecendo Tetsu, já sabia o que o curandeiro faria.

— B-bem, e-eu pensei em adotar ela — falou nervosamente Tetsu — como não posso deixar ela sozinha no meio de um pântano, decidi que seria a melhor opção, mas o que vocês acham?

Tetsu olhou para mim e o Zen com seus olhos, que gosto de chamar de olhinhos de cachorro abandonado, que simplesmente nos desarmou, não tínhamos como ressurtir.

— Eu não vou cuidar dela — por fim falei, suspirando.

— Eu apoio criar a criança, e quando ela estiver de bom tamanho assamos ela — complementou Zen.

A última coisa que vi foi um vaso vindo em minha direção.

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