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Era só mais um dia normal no escritório, o que basicamente significava chegar às 8h e sair só Deus sabe quando. Também significava que às 8h15min eu estaria em uma ligação, teria ao menos três em espera e um Seth desesperado na minha frente, precisando me falar N coisas.

Da minha 'janela' do escritório eu tinha Los Angeles aos meus pés (mentira, mas a vista era boa). Não era pequeno, todo de vidro - o que eu odiava, mas não podia reclamar. Era retangular, ao entrar você dava de cara com uma parede de vidro, a 'janela' da vista boa, e um aparador de fora a fora com algumas fotos e objetos decoradores. Do lado esquerdo se via minha longa mesa, também de vidro, e duas cadeiras para receber clientes. Do lado direito um sofá preto e duas poltronas, uma mesinha de centro e uma estante cheia de CDs e com o som ao meio.

Eu não me cansava do meu trabalho, ainda achava bem divertido apesar de ser uma loucura e viver para isso. Estava no centro do mundo e não conhecia nem metade dele.

Beth, minha secretaria, abriu uma fresta na porta e eu já adivinhei: alguém chegou sem hora marcada e precisava desesperadamente falar comigo. Tomara que seja bem importante mesmo, 8:15 da manhã? Numa segunda-feira? OK. Fiz sinal para ela entrar e encerrei minha ligação. Antes que qualquer um dos dois começassem a falar, Seth já estava tendo um filho a essa hora, mandei ficarem quietos e comecei o ritual do dia. Seria um baita dia.

Dias como esse se repetiam cada vez mais por aqui e eu sarava o problema com ele mesmo: música. Levantei, fui até a minha estante e pensei no disco do dia "Tim Maia Racional, Vol. 1", é, Uh! Uh! Uh! Que Beleza!

Quando botei o disco para tocar Seth entendeu, largou os papéis em cima da mesa e se sentou. Engraçado, nós estávamos juntos há 5 anos e o moleque me conhecia mais do que eu mesma. Nos encontramos no meu primeiro dia aqui e desde então ele tem sido meu fiel escudeiro, mais que isso, um irmão. E, bom, por me conhecer tanto ele já sabia que se eu coloquei Tim Maia para tocar a essa hora da manhã isso só podia significar uma coisa: o dia seria longo, estressante e já que não podíamos fazer nada para mudar, eu ia ao menos agitar o ambiente...

- Um de cada vez! Quem é, Beth? - Beth era minha secretaria nos últimos 2 anos.

- Ele disse para eu não falar o nome, é surpresa - ela falou com cara de quem espera um ralo.

- AH! Jura? Não marca horário, não liga antes de vir, não quer ser anunciado, tudo isso no dia anterior a C Party? Quem ele acha que é? Simon?

- Não, mas..

- Tá, depois que eu resolver o que tenho que resolver, manda esperar, serve cafezinho... Aí, eu até tenho coração bom! - eu caçoei falando pro Seth, que por sinal não estava achando graça nenhuma...

Ela saiu e me antecipei à romaria do meu assistente.

- Vai, começa, Cohen, briga comigo que eu não posso receber gente de fora da agenda, que amanhã é a C Party, tem muita coisa para fazer, que tudo nesse escritório é "Seth, Seth, Seth", que você não me aguenta mais..

- Não, não adianta brigar com você, CJ, pelo menos isso eu aprendi - Seth respondeu. - Mas não deixa de ser verdade tudo o que você disse... - Ele deu uma piscada - De qualquer forma, hoje você só fica aqui até as 15h, tem muita coisa para ser feita na rua e o Jeff vai te pegar pros ajustes finais da roupa..

- Seth, é uma C Party, eu não preciso de roupa que tenha ajuste fin

- Não é você quem decide isso. - ele falou antes que eu pudesse terminar.

- Ah, e a festa não é C justamente por minha causa?

- Você tem que ir ao estúdio às 10h - ele falou desconsiderando meu argumento, pronto, até o meu assistente me ignorava - cuidar daqueles meninos novos, Simon disse que te quer lá. Almoço com o Tate às 13h, e você tem que ser rápida, porque tem que vir para cá antes de ir para rua.

- Cancela o almoço, ué.

- Aham, não.

- Tá, mais alguma coisa, chefe? Eu tenho 3 ligações na espera e um doido sem nome querendo falar comigo..

- Eles vão montar o palco ainda hoje, você vai passar lá?

- Tenho escolha? - respondi enquanto ele saía fazendo uma cara de você é a pessoa mais dramática do mundo.

Respondi as ligações e resolvi o que tinha para resolver em 15 minutos, mas decidi deixar o Sem Nome me esperar mais um pouco, ele não pode chegar na porta da Coordenadora de Relacionamentos da Cond e ser atendido em menos de 30 minutos. Pff. Cond é o nome do braço direito da Syco aqui nos USA, na verdade as pessoas não costumam saber que a Cond é da Syco, o que ajuda. Mas todos sabem que o Simon está por trás dela, afinal, ele nunca se cansa de falar. Nós basicamente apagamos incêndios, na hora de gravar discos, divulgá-los, mandar artistas para talk-shows, turnês e etc, bom, nós fazemos de tudo e para todos, não tem grande gravadora que ainda não precisou de nós. E eu tinha o trabalho mais complicado dentro desse Corpo de Bombeiros: Coordenadora de Relacionamentos (Eu sei o que você está pensando, e sim Coordenadora de Relacionamentos é um nome pobre, e parece que eu coordeno as crianças no recreio, o que tem lá sua verdade). Eu tinha que lidar com os egos, de artistas, imagina só, controlar tudo e fazer o trabalho acontecer. Eu vivia zoando todo mundo que o meu trabalho era maior do que o do Carl, o presidente da Cond USA.

Temos dois escritórios, aqui em LA e outro em NY, Carl vivia indo e vindo deixando o comando nas mãos do nosso vice-presidente Tate, e isso significava que: 1) ele fazia as festas e recebia os prêmios; 2) eu juntava minha equipe e ia as ruas apagar o fogo. Mas eu não posso nem reclamar, amo isso tudo.

- C, posso mandar entrar? - uma Beth impaciente soou no telefone.

- Vai, pode, mas em 20 minutos me chama, que daqui 40 eu tenho que sair.

Comecei aqui com 18 anos, como assistente da assistente da assistente que era assistente do Simon, na época em que o Escritório veio do UK para USA e o chefe veio junto para ajeitar as coisas. O povo fala mal, briga, cria inimizade eterna com ele, mas eu não estaria aqui se não fosse por sua causa. Ok, na verdade eu o salvei, então foi por mim, ok, whatever hahaha

Eu morava em Toronto fazia uns 2 anos, fui passar as férias e acabei ficando para estudar, na república da prima da minha mãe, Gina. Só saia do quarto para comer ou ir estudar. O pessoal que morava comigo já estava de saco cheio e um belo dia decidiu me carregar para fora de casa... Um show, ok.

Tudo tranquilo e eu assistiria o show de uma banda incrível, mas de repente a luz começou a falhar e surgiu um problema técnico. Eletricidade só. O show estava para ser cancelado quando fui atrás de um produtor e sugeri uma solução. Colocaram alguns roadies para me ajudar e eu consegui ajeitar as coisas a tempo, pelo menos para o show.

Uma moça loira veio correndo e me agradeceu desesperadamente por ter "salvo o dia" e acabou convidando eu e minha turma para assistir o show do backstage e conhecer a banda. Preciso descrever o quão incrível? E para me surpreender mais quem estava lá? Mr. Cowell! Um Mr. Cowell muito gentil por sinal (acho que nunca mais tive contato com esse alter ego do Simon, mas detalhe) que veio me agradecer pela ajuda.

No final da bagunça Lena (a moça loira) me entregou um cartão e disse que se eu precisasse de algo nos USA ou em UK, era só ir atrás dela com ele. Ela não devia ter me dado a ideia.

Meses depois nós da república juntamos um dinheiro e fomos para a nossa primeira viagem para os States. Em um dia livre corri para sede da SyCo com o cartãozinho na mão e resumindo: virei assistente da assistente da assistente da assistente que era assistente de alguém.

Fui passando de função em função até que fui parar na Cond. Nunca trabalhei tanto na minha vida como trabalho aqui. No começo eu entrava as 6:30h e só terminava depois das 21h, mesmo que meu serviço acabasse eu ia até outro departamento fazer alguma coisa. Trabalho, trabalho E trabalho. Não adianta, o segredo é esse.

Seis anos depois eu tinha subido mais do que a maioria das assistentes e estava aqui, nessa loucura.

Acordei do transe do passado quando o vi bater na porta e levantei na mesma hora, quase correndo para encontrá-lo, meu Deus, já faziam meses!

- Eu não acredito que é você! - Falei abraçando-o - Desde quando você tem que esperar alguma coisa nesse escritório? Porque a Beth não me falou? Gente!

- Ah CJ, eu queria que fosse surpresa... - ele respondeu sorrindo.

Our SongOnde histórias criam vida. Descubra agora