Capítulo 26

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🍂🌻🍂 O SONHO

Novamente deitada em sua cama, agora pronta para dormir depois de escovar os dentes e fazer sua oração, Lia pensava nas palavras de Matteo.

" Porque já estou apaixonado por você"

Lia sabia de seus sentimentos pelo garoto a muitos dias, e se perguntava se seria recíproco. Ela não era tão inocente ao ponto de não perceber os olhares que Matteo lhe lançava, ou como ele se comportava perto dela. Lia já havia notado, mas ainda assim, se perguntava o que o garoto sentia por ela.

Agora ele tinha se declarado, acabando com suas inseguranças. E ela havia feito o mesmo.

Lia se perguntou como seria dali em diante, e ao se recordar mais uma vez da voz de Matteo, adormeceu com um sorriso bobo nos lábios.

🍂

Lia olhou para o campo a sua frente.

Uma vasta plantação de milho, de perder de vista, estava do outro lado da rua asfaltada. Uma leve brisa passou por ela, bagunçando seus cabelos e chacoalhando as folhas dos pés.

Ela engoliu em seco, sentindo seu coração arritmico no peito e sua cabeça zunir, começando a doer. Uma fina camada de suor se formou sob sua pele, e ela tentava controlar sua respiração acelerada.

Antes mesmo de se virar para a enorme construção atrás dela, Lia já sabia aonde estava.

E tremeu.

🍂

Lia abriu os olhos, sentando-se abruptamente na cama. Ela respirou fundo algumas vezes, tentando se recompor daquele sonho.

Por favor, Deus. Por favor...

Lia sempre se pegava clamando, pedindo a Deus que lhe desse forças ou tirasse aquela missão dela.

Seu corpo dava leve espasmos, e abraçando-se, Lia se lembrou da primeira vez que teve aquele sonho.

Ele havia começado como o que acabara de tiver. Lia havia contemplado a bonita plantação a sua frente, respirado fundo ao sentir o vento batendo em seu rosto. Ela então ouviu algo atrás dela, e se virando, se deparou com um enorme prédio cinza queimado, feio, contrastando com a beleza que via no milharal. A construção era rodeada por quatro torres, e por muitos arames farpados. Lia passava os olhos pela enorme placa em cima de um portão de metal, constatando que estava de frente para um presídio. Ela então acordou, e se sentou na cama, sem sono.

Lia havia pensado em voltar a deitar e tentar dormir aquela noite, mas sabia que não conseguiria. A visão do presídio a sua frente estava estampada em sua mente. Portanto, ela se levantou, sentou-se em sua escrivaninha, ligou o notebook e abriu o Google.

Ela colocou o nome na barra de pesquisa, o nome do presídio que havia lido na placa desgastada, e inúmeras imagens do mesmo que apareceu em seu sonho começaram também a aparecer na tela.

Lia não compreendeu de primeira.

Por que ela estaria sonhando com aquele lugar? Ela não conhecia ninguém que estivesse ali.

Lia segurou a respiração.

Não. Não podia ser. Não podia.

Sentindo sua mão tremendo, abriu outra aba, e pesquisou sobre as notícias do dia em que o motorista do ônibus quase a abusou. Passando os olhos inquietos pelas linhas de cada matéria feita sobre o ocorrido, sentia um bolo de emoções começar a se formar em sua garganta.

Lia parou de ler quando seus olhos estagnaram em cima do presídio para qual o motorista havia sido mandado após a audiência.

- Mas o que...- Lia não terminou a pergunta, se reencostando na cadeira, e engoliu em seco.

- Perdoa-o.- Uma voz ecoou no quarto de Lia. Uma voz humana.

O que isso significa? Lia se perguntou, mesmo no fundo já sabendo a resposta.

A garota começou a chorar, derrubando lágrimas grossas.

- Perdoa-o. - Mais uma vez a voz disse.

Lia enfiou o rosto nas mãos, balançando a cabeça afirmativamente, compreendendo.

Desde então ela vinha tendo aquele sonho. Sempre o mesmo sonho.

Aquele sonho era um lembrete do que ela tinha que fazer. Da missão que Deus havia dado a ela no primeiro dia, falando com Lia em voz humana.

A garota levou a mão até o peito, onde seu coração havia se desacelerado e agora se apertava, angustiado. 

" Perdoa-o" ecoou em sua mente.

Lia queria dizer a Deus que não estava preparada ainda. Ela dizia que o ocorrido havia lhe deixado uma cicatriz em sua alma, mas temia que fosse muito mais que isso.

Temia que ainda fosse uma ferida aberta, que aos poucos voltava a sangrar.

Ela tentava não pensar no homem pesado em cima dela, no pavor que sentiu ao achar que sua vida acabaria ali. Estava sempre empurrando as memórias e os sentimentos horríveis que aquele dia trazia para o fundo de sua mente.

Ela tentava só se lembrar da parte boa.

Lia não conseguia se imaginar encarando o homem a sua frente, e ainda mais o desculpando por tudo.

Ela não entendia o porquê Deus estava mandando aquele sonho, pedindo para que ela fizesse aquilo, mas não havia dúvidas.

Novamente, ela sentiu seu coração se apertar no peito, e soube que seu tempo estava acabando.

***

Precious Decision- CristãOnde histórias criam vida. Descubra agora