Rubenny: Costumeiro

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— Cheque.

— Tá me zoando? O cavalo não faz isso não — comentou Johnny, estava bravo pela derrota tão fácil, a voz saía um pouco esganiçada.

Rubens olhou as peças por uns momentos e apontou o indicador de onde tinha saído o seu cavalo vermelho, refazendo a trajetória que havia feito.

— Um L.

— Droga, é mesmo um L — o homem maior se convenceu, cruzou os braços e fez a expressão mais convencida possível — Só perdi porque eu estava com o branco.

Naluti abriu o sorriso aos poucos, tentando contê-lo. Johnny era invariavelmente engraçado e era um de seus maiores charmes, o menor poderia listar vários e aquele senso de humor com certeza ficaria entre os maiores. Não que Johnny se esforçasse para isso, pelo contrário, sempre tentava passar a impressão de ser mais sério e habilidoso do que era de verdade. Rubens só tinha para si que ser engraçado não se dava pela quantidade de piadinhas que uma pessoa fazia e sim pela forma cômica que isso era dito. Nessa definição, Johnny Tabasco superava qualquer um que ousasse desafiá-lo, não era o que ele dizia, era a forma, os trejeitos, a pose teatral de "Tá tudo sob controle", mas que absolutamente não, não tinha nada sob controle. Ele era a pessoa que mais fazia o mais novo rir de bobagens.

— Suco?

— Mas é claro, meu nobre — o homem grande ergueu o copo de vidro para que o outro enchesse.

A jarra de suco era de Johnny. O xadrez era de Rubens. Um dia fora. Mas esse tipo de divisão se tornava inútil quando duas pessoas compartilhavam o mesmo teto. Com cuidado, o líquido laranja encheu os dois copos de vidro, a jarra logo foi posta ao lado, como se fosse parte da decoração da mesa, junto com a toalha estampada que o trazia o conforto de um lar.

— Às peças vermelhas, sempre melhores — Tabasco ergueu o copo na frente do corpo, o outro o acompanhou com um tilintar sutil.

— Dizem que os nórdicos brindavam forte porque se tivesse veneno, as bebidas respingavam uma na outra e todos morreriam.

— Você quer dizer algo? — o maior o olhava de forma acusadora após parar de beber, mas divertida — Devo me preocupar porque não compartilhamos a bebida?

— Claro, era tudo um plano.

— Sempre soube que você queria as toalhas de mesa que herdei da minha mãezinha

Rubens quase falou sobre a função das toalhas de mesa em absorver sons na antiguidade, mas não era o momento para aquelas curiosidades inúteis que pesquisava quando estava sozinho. Desde que o conheceu, fazia um tempo que não estava completamente sozinho. Ao fechar os olhos, sempre vinha em suas lembranças o beijo quente de Johnny e as mãos ásperas o fazendo aquele carinho no rosto que era apaixonado, era tão costumeiro que sentia que nunca seria capaz de viver sem aquilo.

Era tão costumeiro, que às vezes esperava que aquela mão o acariciasse mesmo com os motivos mais simplórios.

Era tão costumeiro.

Não tinha palavras para expressar aquela dor ao escutar ao longe a voz de Carina Leone invadindo seus pensamentos.

Sim, era costumeiro.

Era.

Rubens respirou fundo. Tocou o tecido verde que se enrolava em sua cintura e que um dia estava vestido em torno do corpo forte de seu homem. Piscou, um pouco incomodado por ter sido atrapalhado em seu pensamento, mas realmente precisava trabalhar.

Trabalhar sem ele.

Nunca mais eles teriam aqueles momentos sozinhos de novo, tomando um suquinho após um jogo que provavelmente Tabasco perderia. Estar sem ele o doía no peito, não em sentidos metafóricos que costumavam usar, embora eles também fossem muito presentes, mas sim porque mesmo que quisesse muito esquecer, tinha uma cicatriz ali, que sempre o cumprimentava com a sua própria falha ao salvar o companheiro de equipe. Sempre o lembrava que Johnny não era mais a sua dupla e que talvez aqueles tempos nunca voltariam.

Por mais costumeiros que eles fossem um dia.

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