II - U.A.

906 131 53
                                    

— Todos para a sala de aula. Agora. — Aizawa mandou, encarando Tenshi. — Você me acompanha até a diretoria.

Os alunos se afastaram, Tenshi seguiu Aizawa apressadamente pelos corredores da escola até pararem em frente à uma porta, ao lado, havia uma pequena placa escrito "diretoria". O herói bateu na porta e a abriu após uma confirmação.

— Se lembra da criança dos vilões? — Aizawa saiu da frente da porta para que o diretor Nezu pudesse vê-la.

Ele, que estava sentado em uma cadeira tomando uma xícara de chá de forma calma, colocou-a sobre o pires e andou rápido até os dois.

— O que aconteceu com ela?

— Eu questionei eles. — Começando a chorar baixinho de novo, Tenshi respondeu. — T-Tentaram me matar. — Sua voz saiu falha e trêmula. — Eu faço o que vocês quiserem, só não me deixem voltar 'pra lá!

— Lutou com eles? — O diretor perguntou preocupado, vendo os ferimentos da menina.

Tenshi apenas balançou a cabeça em afirmação.

— Precisam ir! Eles ainda podem estar lá! — A garota suplicou em desespero. — Ou podem querer me pegar!

— Aizawa, avise aos alunos para que fiquem dentro das salas de aula. Vou chamar professores e heróis.

— O que faremos com ela? — O professor perguntou.

— Deixe-a com sua turma até que voltemos.

— Sim, senhor. — Estreitando os olhos, Aizawa respondeu e puxou a garota pela mão para que corressem até chegarem à porta enorme com a escrita "1-A" em vermelho. — Atenção todos vocês! — O professor disse firme. — Não irão sair da sala de aula até que nós professores voltemos! Iida, tranque a sala por dentro.

Aizawa saiu da sala, deixando todos os alunos confusos, mas obedeceram. Minutos depois, puderam ouvir nos alto-falantes a voz dele, dizendo para que todos os alunos da escola trancassem as salas e permanecessem dentro delas.

Tenshi respirou fundo, deixando-se cair de joelhos no chão, demonstrando sua exaustão.

— Espere, não desmaie! — Viu uma garota se aproximar com um semblante preocupado, seus cabelos eram pretos e estavam presos em um rabo de cavalo alto. Ela se ajoelhou à sua frente e de suas mãos surgiram coisas. — Você está tão machucada...

Tenshi a reconheceu, era Yayorozu Momo. Ela abriu um vidro de álcool em gel e passou nas mãos, depois abriu frasco e derramou um líquido em um algodão, começando a passar nas feridas, limpando o sangue seco. Aquilo ardia muito.

— O que aconteceu com você?! — Midoriya se aproximou de Tenshi, também se ajoelhou e pegou outro algodão, ajudando a outra garota.

— Himiko tentou me matar... Lutei com ela e, por pura sorte, consegui fugir. — A menina explicou.

— Ela tentou te matar?! Mas por que? Ela era tão protetora com você! — Izuku se lembrou da mudança de comportamento da vilã durante a invasão à escola, quando tentou salvar Tenshi e ela começou a chorar.

— Eu não sei! Eu comecei a questionar algumas coisas que eles faziam... Ontem eu tive uma briga com eles, e hoje de manhã, ela entrou no meu quarto com uma faca. — As lágrimas voltaram a molhar o rosto da adolescente durante a explicação.

Yaoyorozu fez alguns lenços e entregou para Tenshi, para que pudesse secar suas lágrimas. A garota aceitou entre soluços, respirando fundo e tentando se acalmar.

Os dois alunos envolveram as feridas com ataduras e depois de alguns minutos Tenshi já parecia mais calma.

— Ei, tenho uns analgésicos aqui. — Um garoto ruivo ofereceu à ela uma cartela de comprimidos. Kirishima Eijiro.

— Obrigada. — Tenshi agradeceu quase em um sussurro. Junto aos remédios, Kirishima lhe entregou uma garrafa de água. — Eu consegui me defender e fugi, mas eles devem estar atrás de mim. Eu sei de muita coisa. — Disse a última parte tristemente, encarando o chão.

— Olha, não vão conseguir te pegar aqui. — Midoriya tranquilizou. — Os heróis não vão deixar... E nós também não.

— Vocês ainda confiam em mim? Depois de tudo? Eu machuquei vocês... E eu sinto muito por isso. O que eu fiz não tem volta.

— Tem, tem volta, sim. — Tenshi levantou o olhar para Midoriya. — Você ainda pode se redimir. Era só uma criança. Você foi usada por eles.

"Usada". Aquela palavra despertou profundo ódio em Tenshi, nenhum daqueles alunos sabiam o que ela havia passado com a Liga dos Vilões, não tinham o direito de assumir que eles a estavam usando.

— Aqui, descanse um pouco. — Yaoyorozu pediu. Tenshi olhou para ela, havia criado dois edredons e um travesseiro para fazer uma cama improvisada. Momo a ajudou a se deitar.

Tenshi se virou para o lado da parede e fechou os olhos.

Tudo ficou silencioso por longos minutos.

— Tenshi? — Midoriya chamou. Sem resposta. — Ela dormiu tão rápido... — Se aproximou dela, vendo-a respirando calmamente em um sono profundo.

Um sono profundo falso.

Tenshi estava ouvindo tudo.

Midoriya se afastou, juntando-se aos outros alunos.

— Sério? — Bakugou se pronunciou pela primeira vez. — Vocês são tão burros assim?

— Bakugou, não é hora de ficar insultando os outros! Precisamos ficar alerta para o caso dos vilões conseguirem entrar na escola! — Disse Iida.

— Está insinuando que isso é uma emboscada? — Uraraka pergunta incrédula.

— Sim, cara de bolacha. E vocês deveriam desconfiar também.

— Sei que, como heróis, devemos desconfiar dos vilões, mas isso é demais, Kacchan. — Midoriya discordou do loiro. — Ela era uma criança que foi iludida por todos eles.

— É? E por que do nada ela decide contrariar eles? Ela parecia muito convicta de que nós é que éramos os maus da história.

— Porque ela foi enganada! Pelo que parece a Liga dos Vilões criou ela desde bebê, colocaram na cabeça dela um ponto de vista diferente. E agora ela está traumatizada, porque as pessoas que ela amava tentaram matar ela! Não sabemos o que ela viveu com eles, mas não deve ter sido ruim, ela os chamava de família...

— Fala sério. Essa menina tinha traços de sede de assassinato, aquele detetive disse isso. Querem mesmo acreditar que ela sentia alguma coisa por alguém?

— Você não viu o quanto ela chorou quando Dabi e Toga Himiko a levaram. Ela adorava os vilões... Vamos dar um tempo a ela. — Midoriya olhou para a garota adormecida. — Ela precisa de um tempo.

— Tsc. Essa história ainda 'tá muito mal contada. Não confio nessa daí.

— É justamente de confiança que ela precisa. As pessoas que ela mais confiou traíram ela.

O relógio marcou duas horas que se passaram. A porta da sala de aula foi aberta bruscamente. Aizawa entrou e viu que todos os alunos estavam bem.

— Professor!

— Estão todos bem? Algum vilão conseguiu entrar?

— Estamos bem. E nenhum vilão entrou. — Iida respondeu.

— As aulas estão canceladas por hoje. Todos ao dormitório, e não saiam de lá. — O professor mandou. — Cadê a menina?

— Aqui. — Uraraka apontou para a garota deitada, sequer havia se movido durante aquelas duas horas, deixando-os acreditar que estava em um sono pesado por conta do cansaço.

Aizawa se aproximou e se ajoelhou, balançando-a.

— Ei, acorde.

Tenshi apertou os olhos, acostumando-se com a luz.

— Venha, vamos. Temos uma reunião com você.

O Retorno de Tenshi - A Protegida da Liga 2ᵃ temporada!Onde histórias criam vida. Descubra agora