Desejo infernal.

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Os dias passaram desde que Hoseok chegou ao castelo de Lúcifer. Ele não poderia afirmar que estava sentindo-se bem naquele ambiente ainda desconhecido e macabro, mas não mentia ao pensar que todos o tratavam muito bem. Sendo esta palavra "todos" referida aos servos de seu marido que, surpreendentemente, tinham muito medo de si, e do que poderia fazer ao tentar difamá-los para o rei do submundo — algo que nunca tinha ocorrido.

Hoseok não conseguia compreendê-los. Por um instante, pensou que eles eram medidos pela fúria com decisões ambiciosas e problemáticas, mas, ao contrário do que esperou, eles eram movidos pelo medo e pela indecisão. Tinham medo do que poderia acontecer e mantinham o respeito para com os seus superiores acima de tudo.

Era estranho, visto que na terra os demônios eram descritos como aberrações sem controle. E ali Hoseok era, simplesmente, o protegido de todos, nada a mais e nada a menos do que isso. Os seres viviam lhe seguindo pelos corredores, perguntavam como estava, o que queria comer, se tinha dormido bem, se precisava de alguma coisa da Terra e até mesmo se queria companhia.

Hoseok desmaiou uma ou duas vezes ao trombar com um demônio no meio do caminho, mas aos poucos foi se acostumando em vê-los e com tudo aquilo.

Caminhando pelos corredores do castelo de Lúcifer, Hoseok tinha o olhar caído e a expressão vazia. Sentia falta de sua casa na Terra, de seus gatos e de Jungkook, o seu melhor amigo. Já estava desaparecido há uma semana e ele se perguntava em como o seu chefe estaria, o que estaria pensando e se a sua carta de demissão já estava pronta.

Era um mero secretário de quinta, não faria falta.

Mantendo a cabeça baixa até chegar em seu quarto, Hoseok tocou na maçaneta e planejou abri-la, mas um barulho estranho ocorreu. O ruído era de alguém cantarolando uma melodia sem sentido dentro do cômodo. A voz era doce e fina, suave e gostosa, tanto que lhe trazia arrepios por lembrar tão bem de sua infância.

O rapaz ficou entre abrir e não abrir aquela porta de madeira, mas não tinha o que fazer e nem para onde correr. Ele começou a abrir passagem de forma lenta, não querendo chamar a atenção.

Conseguindo avistar alguém sentado no tapete vermelho e laranja perto de sua cama de casal estilo dossel enquanto parecia brincar com algo, Hoseok arranhou a garganta de forma sutil, fazendo o demônio o fitar já sabendo da sua presença. E naquele instante, o humano notou que já o conhecia.

Aquele era o primeiro demônio que viu naquele lugar, em meio aos xingamentos de Taehyung e pedidos de desculpas. Ele mantinha as mesmas vestes negras, o mesmo cabelo rosa bagunçado e o mesmo rosto sujo de carvão. Mas, diferente de antes, os seus olhos não se encontravam perdidos na escuridão e dilatados; eles estavam normais e vibravam em um tom azul marinho forte. O demônio parecia tímido.

Hoseok engoliu em seco.

— Senhor, perdoe-me por não ter avisado antes que eu vinha vê-lo — o demônio, ainda sentado, proferiu.

O humano não o respondeu.

— O senhor Lúcifer colocou-me como designado para protegê-lo, ajudá-lo, auxiliá-lo, cuidá-lo e servi-lo — ditou, ficando em pé. — Peço perdão a ti por estar sentado em seu tapete, meu senhor. É que não... é que não tinha lugar adequado para eu ficar no tempo em que lhe aguardava. Perdão.

— E-Eu sou o Hoseok — sussurrou.

— Eu sei, senhor.

— Qual... qual é o-o seu nome?

O demônio o olhou confuso.

— Eu não tenho nome, meu senhor...

— Mas... você precisa ter um nome...

Married the Lúcifer.Onde histórias criam vida. Descubra agora