UM

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— Como todos já sabem, o homossexualismo é crime em Grande Sunshine — Christian Alvarez Leal discursou em pleno auditório. Suas palavras eram como música aos meus ouvidos. — A pena para um beijo é prisão perpétua, já para aqueles que cometem o ato sexual em si, é pena de morte quando se há provas. Sem direito a julgamento.

Quase fiquei de pé apenas para aplaudir a sensatez do nosso presidente, a verdade é que não havia nada mais repulsivo do que dois marmanjos se pegando. Criminalizar tal comportamento era o mínimo. Pena que nem todos os países tinham uma visão sensata a respeito do óbvio.

— Isso é um absurdo! — Felipe Tramontini se levantou e tive que me controlar para não revirar os olhos.

Meu primo intrometido tinha essa mania de defender essas anomalias. Talvez porque ele fazia parte dessa parcela doente, quer dizer, quem em sã consciência iria para a faculdade com uma echarpe rosa em volta do pescoço? Todo mundo sabia que era cor de mariquinha. Aquela coca era fanta, todos sabiam.

— Primeiramente, se fala homossexualidade e não homossexualismo. — Jogou sua franja loira para o lado com um movimento de cabeça, seu jeito afetado me dava ranço. Isso porque eu nem mencionei suas unhas pintadas. Ele precisava levar muita porrada para virar macho. — Homossexualismo vem de doença e a única doença aqui é o seu preconceito.

— Quem você pensa que é para bater boca com o presidente? — perguntei.

Acabei me levantando, ajeitei minha echarpe preta e encarei meu primo com tanto ódio que fiquei surpreso por ele não retrair. Essas bichas geralmente tinham medo de machos de verdade.

— Homossexualismo é doença. Não é à toa que estão legalizando a cura gay, tem como reverter isso e se você fosse esperto, iria atrás da cura.

— E se você fosse esperto, teria notado que não converso com lixos feito você, Victor. — Seus olhos azuis se semicerraram.

— Ainda assim, nosso governo segue de braços abertos para todos que têm ciência de sua condição e estão dispostos a mudar antes que seja tarde — Christian prosseguiu como se não tivesse sido interrompido.

Era uma das vantagens de ser sempre impecável, ele nunca se exaltava, mostrando o tipo de pessoa inspiradora que era. Eu tinha certeza absoluta de que Grande Sunshine só era o melhor lugar do mundo porque era liderado por alguém como ele.

Respirei fundo, voltando a me sentar, incapaz de entender como alguns gays criticavam as atitudes de Christian quando só estava fornecendo todo o suporte possível para reverter a situação e curar a doença que eles carregavam. Não era como se ele fosse uma espécie de Hitler que matava todas as minorias. Christian tentava ajudar e essas bichas cuspiam em cima dessa ajuda, não passavam de pessoas ingratas e mesquinhas!

— Existe uma cura e se quiser nos ajudar a encontrá-la, aconselho que liguem para o CCH (Centro de Cura Homossexual). Iremos ouvi-lo, ajudá-lo. Não julgamos quem está perdido e quer apenas se encontrar — prosseguiu com seu discurso impecável. Podia ver meu melhor amigo, Daniel, assentindo com a cabeça. — Se unirmos nossas forças, conseguiremos vencer essa doença que corrompe certas almas, arrastando nossos jovens para a perdição.

— A cura é tão real que você precisa de ajuda para encontrá-la. — Lipe tirou sarro na maior cara de pau.

Algo borbulhou dentro de mim. Por isso aquele garoto era sempre criticado nas reuniões de família. Nunca seria feliz porque se continuasse com esse pensamento, ninguém com o mínimo de bom senso iria querer construir uma família com ele.

Ah, tinha isso também, gays não podiam construir famílias. Seriam para sempre pessoas quebradas por dentro. A cura gay nada mais era do que uma ajuda para fazer com que alcançassem a felicidade.

Não sou heterofóbico [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora