Capítulo 2 - Sherwood's House

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É impressionante como tudo pode ter um duplo sentido, ou mesmo um significado oculto. Nada é apenas aquilo. Um abraço pode ser carregado de falso carinho; o "eu te amo" dito com tanta facilidade por alguém que sequer sabe o que significam aquelas palavras; assim como algumas rosquinhas podem simbolizar a prisão da sua liberdade.

Sentia o vento bater em meu rosto, soprando meus cabelos e o sol cegar-me os olhos. Tudo ali era utopia, principalmente o amor. Não era como um falso sentimento arrebatando a carência um do outro. Não era um amor fraco e feliz, que um dia teria seu fim, pois, como é fato na matemática: alguns infinitos são maiores do que outros. E não falo romantizando como "A Culpa é das Estrelas" fez. O amor entre duas pessoas ali era puro, verdadeiro e, o mais importante, inabalável. Você não pode tirar o coração de um homem sem que ele morra, assim como não pode separá-los.

Não obstante, o sonho nem sempre é real, são apenas desejos de sua mente, guardados no fundo do seu inconsciente que vêm à tona quando você descansa seu corpo. Em verdade, eu sequer imaginava o que me esperava do outro lado do sono e, se soubesse, teria ficado com meus olhos fechados um pouco mais.
Todavia, assim que senti o ar mudar, a umidade penetrar meus poros com um cheiro inconfundível de poeira, eu levantei. Estava escuro, e conseguia sentir o chão impregnado de algo viscoso e molhado sob meu corpo. Olhei para todos os cantos da sala misteriosa com os olhos cerrados, tentando enxergar além da escuridão. Percebi, porém, que não estava sozinha. Jace estava em um canto deitado, sua respiração calma subindo e descendo sem cessar, parecia um montinho de caixas jogadas em um depósito. Jade estava em outro canto mais afastado, encostada em algo que eu não conseguia ver. Perto dela, havia mais três montes deitados, sendo um deles, dava para ver, um menininho menor que Jace. Entretanto, o que me chamou atenção foi Jungkook, no lado oposto de todos, encostado na parede com seus óculos redondos pendurados no nariz enrugado. Ele era o único acordado ali, além de mim. Perguntei-me por quanto tempo estava assim.

Sentindo o cheiro de fezes preencher minhas narinas, caminhei até Jeon e me sentei ao seu lado. Meu coração batia forte; eu estava com medo.

— Onde estamos? – foi a primeira coisa que eu disse.

Ele não respondeu. Ficou quieto no lugar. Sentia sua respiração ofegante e a batida dos nossos corações. Jeon também estava com medo.
Seus olhos, depois de certo tempo, vasculhavam o recinto detalhadamente, como se quisessem memorizar ou encontrar algo que não tivessem visto antes. Seu nariz franzia cada vez que olhava para o monte de pessoas na parede oposta.

— Suponho que seja um porão. – falou, por fim.
Não era nada parecido com um porão, muito menos com o porão de casa.

Olhei para ele, esperando que fizesse o mesmo.

— Eu estou com medo. – disse quando seus olhos chegaram em meu rosto.

E era verdade, mas, como papai uma vez me dissera: você nunca deve mostrar suas fraquezas, nem mesmo quando estiver com medo. Papai sempre dizia que para ser uma mulher forte, não deveria sentir medo de nada, nem mesmo do bicho-papão debaixo da cama ou do escuro. No entanto, ser calma era algo que aprendi com Jeon, assim como falar quando estou sentindo alguma coisa, mesmo que seja só frio; ele sempre me pedia para lhe contar.

Jeon, porém, não me respondeu, apenas continuou me olhando, parecendo aturdido. Ele levou uma de suas mãos até minha boca, tocando de leve ali, limpando. Empurrei sua mão e comecei a limpar-me sozinha.

— É leite em pó, – estava constrangida, pareço tão infantil para ele. — das rosquinhas.

Todavia, Jungkook ficou sério de repente, empurrando minhas mãos do meu rosto e espanando um pouco da sujeira dali para sua outra mão. Logo em seguida, ele cheirou, fazendo careta assim que terminou.

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⏰ Última atualização: Apr 03, 2023 ⏰

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Traumas - O Labirinto das Sombras (Jeon JungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora