Homens são frios

6 0 0
                                    

— Você está bem?
Perguntou o homem desconhecido depois que Valter some de vista. Estou um pouco desnorteado com tudo que aconteceu, mas mesmo assim me recupero para dar a ele uma resposta positiva.
— Sim, estou bem, obrigada por me ajudar acho que não conseguiria sozinha.
  Dou uma pausa quando termino a frase, pensamentos do que podia ter acontecido invadem minha mente e me perturbam um pouco, sinto meu corpo tremer por um momento.
— Quer que te acompanhe até me casa?
Suas palavras quebram meus pensamentos sóbrios.
— Sim, acho que seria bom.
Em outro contexto eu recusaria sem pensar duas vezes, mas agora ir até minha casa com um desconhecido parece a opção mais segura.
— Vamos.
Começo á andar até minha casa e ele me acompanha em silencio por um tempo, até ele começar a falar.
— Meu nome é Levi e o seu?
— Margaret.
— Aaah Pérola!
Essa frase aleatória me faz esquecer um pouco a tensão do que acabou de acontecer e até me faz rir.
— Olha, ja erraram meu nome de muitas vezes, mas PÉROLA é nova.
— Não, não, não eu ouvir bem é que o significado do nome Margaret é "Pérola" vendo do Latim e do Grego, desculpa é que eu gosto dessas coisas, eu acho um nome muito bonito.
— É! Bonito pode até ser, mas quando eu era crianças eu odiava, era um terror na época de escola para meus amigos acertarem, até os professores erravam! Já me chamaram de Margarida, Margarete, Margete, Magda e por ai vai.
Ele rir quando começo a listar os nomes.
— Margete foi tiração mesmo!
— Com certeza! Mas o que eu podia esperar? Eu moro em Recife no nordeste e meus pais me colocaram esse nome, não sei como meu pai não impediu minha mãe, ele nunca gostou que colocar nomes gringos nas coisas.
— Não dizem que o amor é cego? Pode ser surdo também.
— Acho que deve ser mesmo!
O resto do caminho foi silencio, mas não durou muito tempo porque já estávamos perto da minha casa.
— É essa aqui!
— Nossa, essa casa é muito bonita!
— Obrigada! Meus pais ganharam um pouco depois que se casaram.
Eu moro em uma casa histórica de recife, com arquitetura expirada no neoclássissismo, minha família nunca teria condições de ter essa, meus pais ganharam essa casa do governo na época que Amorim de Andrade era Prefeito, ele conseguiu sancionar um projeto de lei que consistia em pegar imóveis históricos abandonados de ricos que só tinham esses imóveis por serem descentes de escravocratas e redirecionar essas casas para famílias de baixa renda que comprovassem de alguma forma que eram descendentes de escravizados, foram poucas as pessoas que realmente conseguiram ter pose dessas casas já que tinham que provar sua descendência, meus pais só conseguiram a casa pois além de serem recém casados e baixa renda na época, a família de minha mãe tinha guardado uma carta de Alforria do meu tataravô que tinha comprado sua liberdade a muitos anos atrás, a família da minha mãe sempre valorizou muito a sua história, então guardou esse documento por muito anos. Amo muito essa casa, claro que o fato dela ser muito bonita é um dos motivos, mas o que gosto mais nela são as memorias, brincar na frente de casa, ver os blocos de carnaval passando na rua, os livros que minha mãe lia pra mim antes de dormir, realmente minha infância foi muito boa, sinto falta daquela época.
Começo a reparar mais em Levi agora que estou mais calma já que estou na frente da minha casa, ele é um homem alto, talvez 1.80, negro, estava usando um terno que não tinha como não ser de outro lugar.
— Você trabalha na livraria?
— Ah sim! Acho que o terno me entregou né?
— Vejo meu amigo William sempre com ele, não tinha como não reconhecer.
— Ah o William! Fofoqueiro do jeito que ele é deve ter falado de mim né?
— Ele não é fofoqueiro! Mas ele me conta sobre as pessoas que trabalham com ele sim, só não me fala os nomes.
— Qual das pessoas sem nomes você acha que sou eu?
— Bem, ele falou de um menina loiro jovem que é muito estressado e que tem mania de limpeza, então acho que não seja você.
— Esse é o Sereno!
— Mentira que o nome dele é esse!
— Pior que é o nome dele mesmo.
A gente rir da ironia.
— Então tem algo que o William falou que pareça comigo?
Me lembro que William falou de um homem alto que tinha o maior número de vendas da livraria, mas que era porque ele tinha um sorriso muito bonito e a maioria das clientes dele eram mulheres, então claro que ele venderia bastante.
— Ah ele disse que tinha um sorriso bonito.
— Então você acha que tenho um sorriso bonito?
Ele sorrir de canto.
Eu não acredito que acabei de dar uma cantada sem perceber, estou começando a duvidar da minha formação em letras.
— Eu acho que já vou entrando, muito obrigada por me ajudar.
Tento fugir da situação, mas alguém abre a porta da casa antes de mim.
— Filha, ouvi sua voz.
Meu pai fala quando me ver, mas perde totalmemente o interesse em mim quando percebe que estou acompanhada.
— Boa noite Senhor, me chamo Levi.
Se apresenta estendendo a mão para meu Pai, que retribui.
— Boa noite, Alberto! pai da Margaret, vocês são amigos? Pode entrar se quiser.
Nesse momento me sinto em uma guerra e minha base acaba de ser atacada, por duas tropas simutaneamente.
— Não precisa Pai, já estavamos nos despedindo e estou muito cansada e acredito que Levi tambem esteja.
Tento me esquivar desse ataque duplo contra mim.
— É verdade, mas aceitarei na proxima.
O inimigo prepara o ataque.
— Pode vim qualquer dia, Margaret só traz Amelia e as vezes William pra cá, seria bom conhecer mais amigos dela.
E o ataque foi um sucesso e acabam de levar metade de minha torre.
— Vamos Pai, estou muito cansada, obrigada por me acompalhar Levi.
Levo meu pai pra dentro tão rápido que ele só tem tempo de dizer um rapido tchau antes que eu feche a porta.
— Seu amigo?
Ele pergunta curioso.
Claro que meu pai bom curioso que é, não iria deixar isso para lá, será que sou secada por fofoqueiros?
— Não, conheci hoje.
— Precisou de uns 9 meses pra você trazer William aqui em casa, então pensei que fossem amigos.
— Mas não somos e o Senhor pode tirar esse sorriso do rosto
— Só estou perguntando! Porque ficar nervosa?
— Não estou, ele é amigo do William, só me acompanhou porque ele insistiu que estava tarde para eu vim sozinha e eu aceitei, só isso.
Minto, não quero preocupar meu pai com Valter, pelo menos não por enquanto.
— Ele é bonito, parece eu quando era jovem.
Fala ajeitando a gola da camisa de botam branca que nem o zé bonitinho.
— Que mentira, Mainha falava que só te deu uma chance porque o Senhor era engraçadinho!
Falo rindo.
— Sua mãe sempre foi muito orgulhosa para admitir que nunca conseguiu a rescistir ao meu charme, quando eu passava na rua as mulheres cantavam aquela da alcione! "Você é um negão de tirar o chapel nananana rouba o meu coração."
– Tão mentiroso que não lembra nem a letra.
Meu pai era um homem medio, tenha 1.70, magro, com o tempo que seu cabelo foi caindo criou o abto de usar chapeu, mas mesmo assim ele chamava atenção das mulheres do bairro, não sei se era realmente pela aparencia como ele dizia (acredito que não) ou pelo fato dele ser realmente muito engraçado e ter esse jeito animado, que fazia as mulheres esquecerem que ele não era exatamente um padrão de beleza. Meus pais eram muito apaixonados, tanto que meu pai nunca quis mais ninguém depois que minha mãe morreu, claro, ele sempre gostou de flertar, era uma pessoa muito extrovertida, mas nunca saiu disso, chegou até deixar alguns corações partidos por essas ruas, meus pais eram o casal perfeito, lembro de quando eles botavam musica e dançavam na sala, dava pra ver o amor que tinham um pelo outro pelos detalhes, o jeito de olhar, os sorrisos, os toques, lembro de quando criança querer isso pra minha vida, querer que um dia alguém olhasse pra mim como meu pai olhava pra minha mãe e um dia olhar para alguém com a felicidade que minha mãe olhava para meu pai, mas na vida a gente cresce e percebe que nem tudo que queremos quando criança acontece.
— Filha, não deixe de viver a felicidade por medo de algo.
Ele fica serio derepente, sinto até um pouco de tristeza no seu olhar.
— Pai, eu sou muito feliz, não se preocupe.
Dou um abraço nele e completo.
— Como posso ser inferliz se tenho o melhor pai do mundo?
— Mas um dia não estarei mais aqui.
— Mas eu ainda terei o melhor pai do mundo, ele só estará passando um tempo longe.
Nos abraçamos novamente e finjo não me sentir triste em pensar na futura morte do meu pai, sei que ele se preocupa comigo, tem medo que fique sozinha, mas eu sei que ficarei bem, mesmo que seja dificil.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Apr 14, 2023 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Um Homem De VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora