Capítulo 3

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Boa Leitura

Não sei quanto tempo passou desde que fiquei aqui chorando, minha barriga revela a fome, meu bebê está com fome e eu preciso comer mesmo não estando. Saiu da posição em que estava e enchugo a lágrima com o dorso das mãos, olho agora os papéis espalhado que deixei cair, me aproximo deles vendo as imagens e descrição das mortes de meus amigos. Acidente de carro, incêndio, atropelamento, acidente de viagem...todos absolutamente todos foram decretados acidentes.

Vejo as fotos dos meus amigos, e em cada foto uma imagem do acidente causado, uma prova óbvia que Andrew planejou isso, por que? por que fez isso? Eu sabia que não gostava muito dos meus amigos mas, mata-los? Não, isso é crueldade demais. Pego os documentos e termino de olhar tudo, quero saber toda a verdade, vejo as mortes de outras pessoas, a garota que fazia bullying comigo, o garoto que tentou me estuprar, aquele garoto que eu gostava, a menina que tentou me avisar sobre meu marido, todos...todos mortos!

Vejo que chegou no final das folhas, pego os documentos e o reorganizou mas ao invés de guardar no devido lugar eu levo eles comigo, saindo daquele lugar que me trouxe a tona toda a verdade. Chegando no meu quarto, me sento na cama ainda processando tudo, e não resta dúvidas de que o homem que amo é um assassino que planejou tudo, tudo isso...para o que? Fica comigo? - sorriu fraco, me sentindo um idiota, a verdade sempre esteve lá contudo eu me negava, me neguei durante todos esses anos e o pior, eu...ainda...quero me negar.

Todas as mortes foi para um motivo, ficar com ele? me senti acolhida e ter ele como porto seguro? como se depois de todas essas barbaridades ele quisesse que eu virasse dependente e sendo assim, me apaixonasse por sua bondade e carinho comigo? Isso é a única resposta que consigo pensar.
Não consigo parar de pensar em tudo que construimos, tudo o que ele fez...me fez ama-lo e desejar ficar com ele para o resto de nossas vidas, me fez casar com ele e construir uma família. Me fez acreditar em uma pintura, em um conto de fadas, em uma farsa!

Diante dos meus pensamentos conturbados, olho para a escrivaninha do lado da cama e vejo uma foto minha e dele juntos, o mesmo me abraçando por trás colocando a cabeça em meu pescoço e beijando o local, enquanto eu sorria feliz por esse ato dele.

- Seu, seu, seu... MENTIROSOOO!!! - grito irritada com todos meus pulmões, jogo o quadro no chão que se despedaça em vários pedaços para tudo que é lado, sobrando apenas a nossa foto.

Com tal barulho, noto a governante Dila abrir a porta assustada, eu grito com ela para ir embora e ela vai, não sei se ela estava envolvida com isso ou não mas nesse exato momento eu quero gritar de raiva, irritação, frustração, tristeza, culpa e principalmente por minha inocência, se eu fosse mais esperta, se eu questionasse mais ao invés de aceitar tudo.

- Se eu...eu...se eu....Ahh, Argh, AHHH!!! - caiu de joelhos no chão sentindo meu mundo acabar, eu vivi uma mentira, um ilusão criada por ele. Pessoas inocentes morta por minha culpa.

Começo a socar o chão, não me importando com nada só conseguia descontar meus sentimentos em qualquer coisa. Desejei por um momento que qualquer coisa me falasse que é tudo mentira, que alguém desse uma explicação coerente que é tudo coisa da minha cabeça, que...fosse um pesadelo tudo que estou passando agora.

Quando percebo que nada disso vai acontecer que é a realidade, que tudo finalmente se encaixava, suas mentiras, os dias que se atrasava para nossos encontros com um ou outro machucado, as pequenas machas vermelhas que encontrei de sua roupa no dia que dormimos juntos, o jeito frio dele no funeral de todos meus amigos... tudo se encaixava.

Me levanto e começo a quebrar tudo, absolutamente tudo na minha frente. Estava prestes a atirar um vaso na direção da porta quando noto Liam e Josh entrando no quarto com Dila tentando impedir eles. Ambos me olharam chocados.

- Desculpe senhora, eles não me obedeceram - disse ela se desculpando tentando tirar eles do quarto.

- Mamãe - disse Josh e eu fraquejo por um momento, pensando na hipótese de fingir que nada aconteceu, ignorar o fato desse documentos e me fingir de desentendida. Contudo logo a ideia caiu no esquecimento, não poderia fazer isso, não conseguirei continuar ainda mais uma vida de mentira.

- Saiam - digo baixinho o suficiente para todos daqui escutarem.

- Mamãe o que está acontece–

- EU DISSE PARA SAÍREM!!! - grito atirando o vaso para uma parede, longe dele mas o suficiente para assusta-los.

Dila com toda sua força tirou os meninos de dentro e fechou a porta, ouvi gritos deles tentando a todo custo entrar no quarto mas tranquei a porta, eles bateram e gritaram meu nome. Tambei os ouvidos com força, tentando ignorar e não fraquejar agora. Com força o suficiente para ignora-los, peguei uns quadros nossos e dos nossos filho por volta do quarto e ataquei no chão quebrando tudo, rasguei as fotos sem me importar com minha mão sendo cortada pelos cacos de vidros, peguei as almofadas e rasguei, qualquer roupa que eu vis rasgava. Eu estava fora de mim, precisava descontar toda a raiva, todo o sentimento que notei que guardava a muito, muito tempo dentro de mim.

Foi como uma bomba e eu só parei depois que cansei e senti vários chutes na barriga, meu bebê. Me encolhi no cantinho da varanda, cansada e me deixo chorar ainda mais, estou com fome mas fraca e sem nem pingo de força para levantar e comer.
Quero dormir, dormir por muito tempo e depois acordar e ver que foi apenas um pesadelo muito ruim, muito ruim.

Em questão de minutos ou horas ouço o barulho da porta sendo aberta, não faço questão de levantar a cabeça para saber quem é, eu sei quem é, os passos e o jeito calmo e cauteloso de andar é nada mais e nada menos que meu querido marido.
Sinto o mesmo vir em minha direção, me encolho ainda mais com medo do que ele possa fazer, nunca senti medo dele tanto como estou hoje, é claro que existiu situações em que me assustei com seu jeito mas essas é a primeira que sinto tanto medo, mais medo do que de muitas pessoas acumuladas.

- Olá, meu amor - sua voz me causou suspiro de medo por pequenos segundos. Não o respondo e sei que ele ficou com raiva, detesta quando não o respondo com palavras.

- Mentiroso - murmuro sem me conter.

- Não ouvi, repita meu anjo - diz sério, sei que ouviu mas quer ter certeza.

- Seu mentiroso! -gritou por fim olhando no fundo de seus olhos, não sei onde arranjei tamanha coragem e vejo seu espanto - nunca levantei a voz pra ele, sempre fui extremamente calma. Ele por alguns minutos analisa meu estado, estado esse que ele causou por suas mentiras e ações, contudo logo seu rosto se tranquiliza, certeza que ele se encantou por minha beleza novamente, sempre é assim, não importa o meu estado ou situação ele sempre me acha a criatura mais lindo do mundo. Eu acharia fofo mas vejo que fui uma idiota.

- Por que sou mentiroso? - pergunta voltando a si, parecia mais calmo depois de me olhar, e devido a suas palavras não consigo me segurar e fiz uma cara zombadeira, sorrindo e ao mesmo tempo tendo nojo e irritação por sua pergunta besta. Eu me levanto com tudo do cantinho em que me encontrava e saiu da varanda.

- Você é um mentiroso, Andrew, você mentiu para mim! Você é um louco assassino! - grito em sua direção, pegando os documentos que estavam na cama e atirei em sua direção, espalhando no chão todas as fotos

Vejo-o ainda de costas para mim, na mesma posição que o deixei. Ele se levanta devagar e se vira para mim, olha para o chão e observa os documentos quando seu olhar volta para mim...eu me arrependo das palavras que disse, os olhos, os olhos daquele dia, os olhos do meu filho estão estampado em seu rosto mas dessa vez é pior, mil vezes pior. Os olhos azuis escuros estão quase negros, os olhos de águia está pior, e sinto minha alma temer. Uma expressão perturbadora dele com um pequeno sorriso nasce de seus lábios.
Noto ele se dirigir lentamente para perto de mim, apenas analisando de forma minúscula o meu pequeno corpo tremendo, direcionando sua atenção exclusivamente para minha barriga. E trato de proteger meu bebê ao colocar minhas mãos envolta.

- Sim, eu sou, Lilian - sussurrou para apenas nos dois ouvirmos.

Então, é verdade.

Lilian - Obsessão e MentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora