Dois

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O trajeto de volta pra casa durava cinco minutos apenas, então, mesmo eufórica e louca para espalhar a notícia do meu casamento aos quatro ventos, permaneci calma, observando a avenida do bairro de onde eu morava toda enfeitada com pisca-pisca, enfeites do senhor Noel e árvores de natal.

Era impossível não reparar no mar de pessoas liderando as calçadas, apressadas e desesperadas, revelando o verdadeiro caráter da sociedade que decide adquirir o presente de natal de última hora. Nada contra, ainda faço parte desse grupo, então...

Como eu vou encontrar um vestido de casamento às vésperas do Natal?

O relógio preso em meu pulso esquerdo marcava dez e quinze, mas o meu estômago já parecia ter vida própria.

Estava quase no horário de almoço, e eu ainda parecia desacreditar no que tinha acontecido, intercalando pensamentos amorosos, pratos escandalosamente deliciosos e jinglebells.

Assim que cheguei em casa, a primeira coisa que os meus pais me perguntaram foi se eu estava me sentindo bem. Já que minha expressão pálida, preocupada, e ao mesmo tempo perdida no tempo, eram de se notar a quilômetros de distância.

— Vocês não vão acreditar, mas... — Eu coloquei a mão sobre o peito, ainda em choque. — O Felipe me pediu em casamento. NÓS VAMOS NOS CASAR.

O pulo que a minha mãe deu, seguido da abertura dos lábios do meu pai em um formato estranho da letra "O", não eram capazes de expressar tamanha felicidade que eu estava sentindo dentro do peito.

— AAAAAAAAAAAA, EU NÃO ACREDITO. — Mamãe gritou como se tivesse ganhado um bilhão de reais na loteria. — MINHA FILHA VAI SE CASAR. MINHA FILHA VAI... SE CASAR.

Finalmente! — Meu pai agradeceu. Ao menos ele havia conseguido dizer alguma coisa que não fosse a letra "O".

— Quando será o grande dia? — Mamãe quis saber, segurando minha mão esquerda e me arrastando para o sofá, onde fui obrigada a me sentar.

Quase furei as nádegas com toda essa pressa, mas mamãe foi mais rápida e retirou seus dois novelos de linha no segundo seguinte. Ela acabara de entrar no curso de costura e por isso nossa casa acabou se tornando um depósito de linhas, botões e agulhas.

— É mesmo, — papai veio também, curioso — casamento é muito lindo e essas coisas, mas dá muito trabalho e despesa. Principalmente para o paizão aqui.

Mamãe olhou feio para ele, colocando os novelos sobre a mesa de centro, voltando a me encarar toda curiosa pela resposta.

Fiquei encarando os dois por alguns segundos, pensando em como será mágico poder finalmente dividir um apartamento com o Felipe (recebendo meu café da manhã na cama, fazendo sexo logo depois do café e... tudo que tivermos direito, é claro), e então tive forças.

Amanhã. Vamos nos casar amanhã.

Os olhares de ambos se arregalaram, espantados com a notícia, passeando de mim para eles.



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Casa Comigo Nesse Natal? (Degustação)Where stories live. Discover now