Cap.3

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Encaro o escuro, um véu que não se dissipava. Aquele grunido da criatura andando ferozmente pelos corredores em volta. Meus olhos passam a procurar, e a encontrar, as figuras de rostos feios e contorcidos pela raiva, ódio, dor, agonia e tristeza. Meus olhos passam a se acostumar. Ando cada vez mais em meio àqueles que nunca poderiam descansar, o tempo se passando em uma eternidade.

De longe observo a névoa no fim do corredor, que, quanto mais próxima, mais se aquieta, me permitindo enxergar algo. Algo que gostaria de não enxergar.
Meus pés parecem andar em campos elétricos até aquela salinha escura, onde um homem, vestido em sangue, encaixa um parafuso no equipamento, se virando para a moça com o corpo amarrado à maca. Fecho meus olhos com força quando o barulho de máquina e gritos toma conta do minúsculo lugar. Meu corpo não aguenta quando tomo o lugar daquela mulher. Isso dói.
Abro os olhos, e dessa vez, eu que estou confinada à maca, meu pescoço atado e sufocado, o parafuso escavando e entrando em minha pele. O som de músculos, pele e ossos sendo dilacerados faz minha garganta queimar de tantos gritos e vômitos abafados. Será que seria aqui onde ficaria pela eternidade? Talvez, na verdade, eu SEMPRE estive aqui, desde, o começo...
Minha visão desaparece.

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