Se assumem

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  O dia amanhece e elas vão direto pro senado, chegando lá está cheio de repórter na porta esperando as duas passarem. Mas antes Simone recebe uma ligação.

— Alô, Simone?

— Eu mesma Janja.

— Eu ia te ligar ontem, más tava muito tarde então deixei pra ligar hoje. Quem que espalhou a notícia de vocês duas?

— Eu não sei, provavelmente alguém que queria nos atrapalha né!?

— Foi bem isso mesmo. Tem um monte de repórter lá na porta do senado, parece formiga em cima de doce.

— A gente vai entrar pela garagem.

—  Se assumem logo Simone.

— Não é tão fácil assim Janja. Eu tenho medo do que eles podem tentar fazer com a Soraya. Eu tenho medo não por mim, mas sim por ela, as palavras Janja... As palavras podem machucar mais do que um tapa, se assumir num país tão homofóbico assim não é fácil. Tá bom se for só palavras, mas se eles se revoltarem e quiserem mexer com ela, Janja, o que eu faço? Sabe qual vai ser o sentido da minha vida sem a Soraya nem um porque a minha vida é ela. Eu tento mim mostrar forte pra ela, mas por dentro tudo isso tá doendo demais, a gente ia se assumir sim, mas primeiro a gente tava preparando o povo pra reação deles não serem assim. E se um dia qualquer a gente saí na rua e leva um tiro? O povo é tão cruel que não sabem respeita as escolhas da gente! E depois dizem "Lutamos por liberdade de expressão", "Por um mundo melhor" mas quando tem alguém diferente eles batem, matam, xinga e tudo mais.

  Janja apenas ouvia tudo do outro lado da linha, chorando o desabafo da morena.

-Simone continua.— As pessoas lutam por igualdade, mas se somos diferentes sofremos, que igualdade é essa? Não é porque somos lésbicas que não somos mais humanas. Nós queremos respeito sim, nós merecemos respeito. Quantas pessoas aí Janja, que não se assumem por medo, medo de morrer, medo de não ser aceitos, medo do que a família vai pensar, medo... Medo de sair na rua. A pior coisa que tem nesse mundo é você ter medo de ser quem você é, porque você não sabe o quanto o outro é hipócrita, e o que ele vai fazer quando você ser você mesmo. No mundo de hoje temos que ser o que os outros querem se não... Aaaaa se não você não tem direito de fazer parte da sociedade, você não tem direito de ser humano. Eu vou pegar na mão da Soraya sim, vou falar com aqueles repórter, vou nos assumir hoje, e pela Soraya... Por ela eu doou até a vida se for necessário. - Simone termina com a voz embargada.

— Você tem certeza que vai ser agora? Faça no seu tempo Simone sem pressa, sem pressão. Quando você achar que é necessário, quando você achar que é a hora. - diz Janja ainda chorosa.

— A gente não pode se esconder pra sempre. Então que seja logo, vou falar do meu amor por ela. Eles aceitando ou não, eu amo ela!

— Quanto a segurança Simone não se preocupe, nós já cuidamos de tudo, a parti de hoje vão ter seguranças com vocês, eles já estão aí em baixo, assim que vocês saírem eles vão atrás.

— Tá bom Janja, muito obrigada por tudo. Vou vê se a Soraya já terminou pra gente ir pro senado, um abraço.

— Abraço querida.

  Casa de Yara

— Deu certo João. O plano A deu certo, agora é só entrar com o plano B, que já tava pensando.

— Como assim deu certo? Você viu o tanto de apoio que elas têm? Você viu o tanto de gente que amou saber que elas estão juntas?

— Vi sim, claro que vi, mas também vi o povo espraguejando elas. Você acha que eu já não tinha pensado. E pensei direitinho, se a Soraya morrer, sabe quem vai ser os suspeitos? As pessoas que ameaçaram elas nas redes. Depois disso, ahh, Simone vai ser minha, ela não vai nem desconfiar que vai ser eu. Como eu sumi pode ser qualquer um desses trouxas aí.

—Yar...

— Shiuuu, se for pra atrapalhar nem se atreva a falar, fica de boa na sua.

— Tá bom, tá bom...

— Vai ser logo, não vai demorar, essa tal de Soraya vai ter o que merece. Ela vai se arrepender de ter entrado na minha vida, ou melhor na vida da MINHA SIMONE.- a última frase ela fez questão de destacar, com um tom de voz superior.

  De volta no senado

  — Olá, bom dia, eu sei que são muitas perguntas, mas um de cada vez. - Simone fala segurando a mão de Soraya.

— Como as pessoas estão lhe dando com essa revelação? Estão aceitando de boa?

— Como já esperado tem umas pessoas contra, mas por outro lado, estamos recebendo muito apoio, muitas mensagens de carinho, que superam o ódio.

— E suas filhas Simone Tebet, aceitaram de boa?

— Sim, sim minhas Marias nos deu todo apoio do mundo. Né amor.

— Sim, o problema maior é as pessoas que não sabem respeitar a vida pessoal das outras pessoas.

   Quando Soraya acabava de falar, um casal aparece xingando as duas, dos piores nomes que têm. Ofendendo e querendo chegar perto, mas foram impedidos, pelos seguranças que estavam no local.

— É sobre isso que estávamos falando. Enfim é isso tchau, tchau, muito obrigada!- pontua Simone.

  Ao entrarem no senado, Simone e Soraya recebiam alguns olhares atravessados, algumas pessoas lhes desejando felicidades. Essas coisas já esperadas. Mas que mesmo esperadas eram ruim, desconfortável. Elas também já não estavam ligando pros mexericos, nem pras caras feias, elas estavam feliz com tantas pessoas, com tanto carinho e palavras de apoio.

— Simone, Soraya, desejo tudo de bom pra vocês, que vocês sejam muito felizes e construam uma família muito linda. Eu já shippava vocês desde antes de eu descobri que vocês estavam juntas, eu curtia vídeo, já até li uma fanfic, pra vê do que se tratava e não é que o trem é bom mesmo, tem até umas minhas lá.- Leila fala rindo.

— Obrigada Leilinha. - agradece Simone.

— Obrigada querida. - Soraya agradece também.

  O dia foi basicamente isso, algumas pessoas indo até as duas, depois das sessões. Algumas fãs mandaram flores, chocolates, presentes, mimos, pra alegrar elas, e pra mostrar apoio, que por sinal elas ficaram bastante feliz.


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