Não quero também singrar ao futuro. Não é prudenteAh, sim, o futuro vale a pena ser visitado. Pode-se mudar o que não foi escrito. Aperfeiçoa-se o script antes de atuar na cena. Testemunhar aquilo que seremos, sonhos que realizaremos, construções que edificaremos. Vermos nossos pequenos encomendados a seus destinos. Assombrarmo-nos com todas as incríveis descobertas e alcances que a humanidade experimentará. Ah sim, o futuro é uma empolgante viagem. Mas assustadora.
Lá nos aguarda as incógnitas e surpresas nem sempre agradáveis. Ali estará o inesperado de largos braços abertos. Com a boa nova em uma mão e uma possível desventura em outra. No tempo vindouro repousa a dúvida. A interrogação espreita. Ali estará crescentes cabelos brancos. Ali nos encontrarão nossos muitos anos. Ali nos aguarda persistentes rumores de nosso fim de vida. Nova desistência.
Não quero também singrar ao futuro. Não é prudente. Recolhi minha mão. Meu dedo pronto para premir o botão contraiu-se. Respirei mais fundo. Tal como um Janos confuso volto meus dois rostos para o passado e futuro. Aqui onde encontro-me, no rasgo dos dois tempos, é mais seguro. Mantenho-me inflexível e inabalavelmente ancorado ao tempo.
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Minha máquina do tempo
Short StoryQuem jamais não desejou com toda intensidade da alma verter ao passado ou singrar velozmente ao futuro?