CAPÍTULO DOIS

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                                 Noite 

Estávamos todos na mesa de jantar. Bil decidiu ficar por pedido dos meus pais. O fazendeiro que nos ajudaria com a venda das sementes viria com a esposa e o filho a qualquer momento. Fiquei um pouco preocupado com a parte do filho. Não que eu não gostasse de crianças,  mas ter uma criança barulhenta por aqui bisbilhotando tudo, não era o que eu esperava de boas vindas dos vizinhos.

- Acha que eles virão? - minha mãe perguntou nos encarando.

- Dê um tempo querida, à noite a estrada é escura.

Meu pai sempre teve o talento de achar desculpas para qualquer situação. Exceto quando - de acordo com o Caleb. - ele foi flagrado pela mamãe na lavanderia de papo com a lavadeira sem nenhuma roupa nossa lá.

- Não seria tão ruim se não viessem. - sussurrei.

Percebi que todos estavam me olhando.

- Kalel! - exclamou minha mãe.

- Me desculpe. Eu quis dizer que seria muito ruim se não viessem. - falei me desculpando.

- Amanhã iremos na cidade fazer sua matrícula na escola. - meu pai cortou o silêncio.

- A escola é de ensino religioso. Eu acho muito importante que as crianças aprendam desde cedo a seguir o caminho certo. - murmurou minha mãe.

- O caminho de Deus. - disse meu pai.

Um pequeno detalhe que deixei passar, minha família era religiosa. Minha mãe foi criada na igreja, indo todos os dias para o culto, e aos domingos fazia campanhas pelas ruas com as outras mulheres, foi onde conheceu meu pai, que também fazia essas campanhas. 

- Que sorte a minha. - falei, engolindo em seco.

Já estava imaginando a escola com um pastor sendo o professor e uma freira como diretora. Minhas expectativas não eram as melhores, mas a ansiedade pra encarar tudo estava me matando por dentro.

Um barulho de carro despertou a atenção de todos que estavam na mesa. O fazendeiro tinha chegado. Meu pai levantou e seguiu até a porta principal para recebê-los. Minha mãe estava curiosa se remexendo na cadeira. Bil não parava de comer.
De repente, um homem gorducho com cabelos grisalhos chegou até a cozinha acompanhado de uma mulher loira magra, já de idade. 

- Essa é a minha esposa Nora, meu filho Kalel e o meu grande amigo Bil. - meu pai nos apresentou enquanto puxava cadeiras pra eles sentarem. 

minha mãe levantou para cumprimentá-los, e para não ser mal educado, fiz o mesmo.

- Prazer, eu sou a Ellis e esse é o meu marido James, que vocês já devem conhecer. - disse a mulher enquanto apertava a mão da minha mãe.

- Seja bem vindo - falei ao James.

- Nosso filho tem a sua idade, vocês serão ótimos amigos. - ele respondeu. 

- Ótimo. Agora não é mais uma criança, menos mal. Cadê o garoto?

- Onde ele está? - perguntou minha mãe apertando a mão do velho.

- Ficou no carro. Ele não estava se sentindo muito bem.

- Ele não vem jantar conosco? - perguntei.

- Você quer tentar convencer ele? - disse a mulher com a expressão cansada. - vocês têm a mesma idade, vai ver é disso que ele precisa, de amigos.

- Vai lá filho. Converse com ele. Seja simpático. - falou minha mãe.

Naquele momento eu faria de tudo para sair daquela mesa cheia de adultos com conversas de adultos, até ir conversar com um garoto que nunca vi na vida e mesmo sem saber como seria a recepção.

O Girassol da Jaqueta PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora