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Rio de Janeiro, Brasil
17/01/2025


As pessoas tem o costume dizer que para um relacionamento dar certo, o homem sempre tem que amar mais.

Eu achava que isso era a maior idiotice de todas, afinal os dois tem que se amar igualmente se não alguma parte sempre vai acabar cedendo, e no final sofrendo.

Quantas rachaduras um coração aguenta até tudo começar a desmoronar?

O meu antigo relacionamento nunca foi um conto de fadas, embora para uma jovem garota de 15 anos aquele era o seu relacionamento perfeito. Um cara mais velho, um futuro jogador de futebol e o meu melhor amigo de infância.

A projeção de como ele fosse o meu príncipe encantado, vindo com uma armadura brilhante e um cavalo branco para me salvar. Da minha família, da pobreza e do país fodido em que vivemos.

Eu sempre soube que ele era bom demais para ficar apenas do futebol brasileiro. E aos 16 ele já estava comprado por um clube da Europa.

Porém eu nunca achei que realmente merecesse algo de bom na minha vida, porra, eu sou filha de uma traição. Meu progenitor nunca fez questão de me conhecer, e mesmo tendo dinheiro ele não me reconhecia como filha.

Ele evaporizou o meu coração que uma vez fora despedaçado. E as rachaduras que ele havia colado, se quebraram ainda mais, até restar apenas pó. E mesmo assim, eu quase implorei para ele não me deixar, mas claramente não funcionou.

O coração dele já não era mais meu, talvez nunca tenha sido, mas o meu possivelmente sempre será dele.

Eu me arrependo de muitas coisas, porém não dele. Porquê apesar de tudo, ele me deu o amor mais puro que eu já experimentei em minha vida inteira. O meu filho.

O que antes era um peito vazio, sem a vida que ali existia, se transformou e reinventou com o amor daquele serzinho. Que nem tinha chegado ainda e já virou a minha vida de ponta cabeça.

Estar grávida aos 16 foi o meu maior pesadelo, e teria sido muito pior se o meu progenitor não tivesse querendo dar uma de bom moço. Mas depois de fica viúvo e ele conheceu uma nova mulher que o convenceu de me conhecer. Eu devia muita coisa para a Sarah, por causa dela eu tive o suporte para ser quem eu sou hoje.

E o Davi pode escolher o que quiser ser por causa dela. Para a minha infelicidade, ele amava jogar futebol, e modesta parte ele é muito bom nisso.

— MÃE! Ô mãe! — Davi grita por mim, me tirando de dentro dos meus pensamentos — Cadê a minha chuteira?!

— Você já olhou de baixo da cama? — Grito de volta saindo do meu quarto.

Tínhamos cinco minutos para sair de casa, já que o jogo treino seria no centro de treinamento Moacyr Barbosa, onde o profissional treina.

Alguns segundos depois vejo o cacheado descer as escadas correndo, ignorando os meus protestos sobre uma possível queda. E me puxando para fora do apartamento, apressado para chegar logo.

[...]

Eu sorria orgulhosa enquanto observava o meu filho driblar os zagueiros do time adversário e tocar a bola para deixar o centroavante na cara do gol.

Davi corre pelo gramado como se o gol tivesse sido dele, levando a camisa até os lábios e beijando a cruz de malta. Como uma boa mãe babona, dava todos os créditos ao meia pela criação da jogada.

Era estranho para mim ver o quão parecido ele era do pai — em absolutamente tudo, e tento não sentir a culpa por não ter contado nada. Mas eu era uma adolescente idiota e magoada, ver seu ex se mudar para a Europa com a nova namorada foi difícil. Sabia o que teria acontecido se tivesse contado sobre a gravidez e não viveria um casamento infeliz apenas por que as pessoas achariam que aquilo era o certo.

KAIRÓS | Philippe Coutinho Onde histórias criam vida. Descubra agora