03.

247 33 21
                                    


Rio de Janeiro
22/01/2025

Assopro o líquido quente da xícara em minhas mãos e experimento sentindo o gosto amargo do café queimar a ponta da minha língua, me fazendo soltar um ruído de dor.

  — Porra. — Reclamo pondo a língua para fora da boca e escuto a risada da Renata. — Não ri, filha da puta, doeu.

Me levanto do sofá em que estamos sentadas e vou até o filtro para encher um copo de água gelada. Renata veio até o meu ateliê para provar o vestido, mas nada melhor do que colocar as fofocas em dia enquanto toma um cafezinho quente. Mas as vezes nem tão quente assim.

  — Você que é ansiosa e não sabe esperar o café esfriar. — Me responde enquanto utiliza calmamente uma colher para mexer na sua bebida — Então, vai me contar como tá a sua cabecinha com a vinda dele ou eu vou ter que descobrir?

  — Ah, Renata, sem bancar a psicóloga comigo hein. — Corto a conversa antes mesmo que comece, não dormi a madrugada inteira pensando em todas as possibilidades do que pode acontecer domingo quando a verdade, possivelmente e inevitavelmente, vier à tona. — Sem falar sobre Philippe Coutinho hoje, o seu casamento é mês que vem e deveríamos estar falando sobre você. Você é o centros das atenções, não eu.

  — Bom, você falou o nome dele e isso já é um avanço significativo. — Comenta a cacheada dando um gole em seu café e franzo o nariz — Eu pensei em aproveitar que hoje o Davi larga mais tarde por causa da preparação para o jogo e ir fazer coisas de madrinha.

Solto um riso com sua fala e bebo um gole da água gelada, tão fria que uma dor irradia todos os meus dentes, e caminho até a poltrona creme me sentando com as pernas apoiadas na mesa de centro.

  — Coisas de madrinha? — Questiono divertida e a mesma ri piscando um de seus olhos castanhos escuros de maneira dramática.

  — É, ajudar a comprar a lingerie, coisas da casa nova, terminar os detalhes do vestido e mudar o cabelo. — Renata diz a última parte passando a mão nos seus cachos volumosos num tom loiro escuro — Tô pensando em iluminar ele, uma vibe mais praiana, sabe?

  — Você nem gosta do mar. — Aponto, e sorrio com uma lembrança da nossa adolescência, com uma Renata bêbada rolando na areia feito um frango empanado — Embora, se eu me lembre bem você gosta muito da areia.

  — Eu gosto de torrar no sol. — A loira me corrige, então solta um sorriso irônico — Fala de mim, mas quem estava quase engolindo o namorado era você.

Fecho a cara pela lembrança daquele dia em pleno dezembro de 2009, éramos adolescentes inconsequentes no último dia de aula do ano, uma garrafa de vodka, algumas cervejas e dois baseados — Que em minha defesa, nem cheguei perto. Tenho amor ao meu pulmão. Já uma Renata Saraiva asmática não pode dizer o mesmo.

  — Gosto nem de lembrar, tempos tenebrosos. — Falo e tremo o meu corpo como demonstração da agonia, fazendo Renata rir.

Ela se levanta do sofá e põe a xícara na mesa do centro, se virando para mim com a sua famosa cara de deboche.

  — Até parece, Nandinha, até parece. — Nega com a cabeça, utilizando o meu apelido da adolescência — O que ocorreu depois não muda o fato de que foram ótimos tempos.

KAIRÓS | Philippe Coutinho Onde histórias criam vida. Descubra agora