O começo de um novo ciclo

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No momento em que a cena foi vista, a mãe do garoto acaba derrubando o bolo no chão. Lágrimas caíam de seus olhos lavando consigo toda alegria que havia no ser daquela mulher.

O menino, que via a situação em silêncio, começou a chorar também. Por mais que não soubesse o motivo certo daquilo, chorava pelo fato de ver sua mãe, que sempre foi sorridente e nunca se permitia chorar em frente a ele, desabar em gotas salgadas de choro.

A jovem mulher fecha a porta do quarto com tanta força que a trinca quebra. O braço de seu filho quase foi pego pela porta, mas a loira pouco se importou; sua mente já não pensava em mais nada.

Mãe e filho saíram do apartamento e mesmo com o elevador disponível, desceram pela escada. Foram dez lances com mais de vinte degraus cada, correndo. Coitado do garotinho.

Chegaram no estacionamento onde estava o carro. A mulher segurava o pulso do menino com força, algo que ficaria a marca, mas o menino não reclamava, pois, também estava anestesiado pela adrenalina que sentia no momento. Embora nada fizesse sentido, suas emoções também estavam se confrontando. Talvez fosse uma nova aventura.

Mesmo que não fizesse a mínima noção do que viu, a mínima noção do que sua mãe estava sentindo, vendo as lágrimas que estavam saindo do rosto da mesma, seu coração apertava, algo que nem ele sabia o porquê. Com tudo que acontecia, pensava que a única coisa que podia ser feita para ajudar a mãe, seria chorar com ela.

Ao acharem o Audi, que parecia invisível por aquela vista embaçada que os dois compartilhavam, a mãe do menino coloca-o no seu lugar e parte para o banco da frente, deixando que o próprio garoto se arrumasse atrás.

Quando sentou no banco do motorista, ligou o carro e parou. Aquela paralisia repentina que levantava todos os pelos de seu corpo, aquele calor misturado com o frio. A mulher soltou um grito junto a vários socos no volante do carro, disparando a buzina várias vezes.

Todas as suas lembranças, todos os momentos felizes, todo carinho, afeto, toda risada, briga, brincadeira.

Todo o casamento.

O que passava na cabeça daquele monstro ao estragar tudo aquilo que uma simples mãe sempre sonhou em ter? Aquela atrocidade de ser, havia jogado todos os planos de uma vida no lixo.

A partida do carro é finalmente dada, a mãe acelerou, fazendo aquele A3 cantar pneus e ao tomar a velocidade desejada, arrebentou o portão do condomínio. Um enorme amontoado de ferros soldados caía no chão. O vidro do carro foi quebrado, porém, continuou no lugar, deixando com que os estilhaços ficassem estáticos e tampassem toda e qualquer visão.

A mãe do garoto seguia com o pouco que se via, pois além de chorar, o vidro estava quebrado e como se fosse tudo feito para dar errado, uma espessa chuva começava a cair com ventos e relâmpagos.

Sem visão de nada, a única coisa que a mulher podia fazer era acelerar. Claro que o freio existia, mas a raiva e tristeza que aquela mulher sentia no momento precisavam ser gastas. Então foi isso que ela fez, acelerou... acelerou... terceira, quarta, quinta marcha...

𝕆 𝔾𝕒𝕣𝕠𝕥𝕠

O som da sirene da ambulância era quase ensurdecedor, mas não tirava a multidão que rodeava aquele lugar.

Pingos de chuva ainda caíam e duas mortes já podiam ser confirmadas com certeza, pois um dos carros havia pegado fogo, por sorte, o outro não foi incendiado também, pelo fato da chuva não ter deixado o fogo se alastrar.

Um jornal local já estava com a notícia no ar: “em cruzamento, temos duas mortes, uma vítima gravemente ferida e uma pessoa ilesa. Por enquanto não temos os nomes de todos, mas sabemos que as pessoas que morreram eram um casal que havia se casado há pouco; Juliana Marques de Araújo e Ruan Marques Gimenez . No outro carro uma mãe gravemente ferida e um filho que por mais que esteja ileso, se fara uma marca em sua memória sobre esse dia”.

Diante de toda a confusão que se formou, o garoto ficou sentado no banco traseiro, o choro já havia parado de cair, afinal, nem ele mesmo sabia o porquê das lágrimas. Secou com uma das mãos o que ainda restava abaixo de seus olhos e esperou o socorro vir.

Depois de ser checado e passar por todos os procedimentos, foi avisado de que sua mãe não estaria em condições de velo; havia fraturado uma das pernas e uma das costelas. Ficaria no hospital por volta de um mês.

Por fim, sem mesmo poder ver o rosto de sua mãe, o menino foi levado à casa dos avós, onde passaria o tempo de recuperação da mulher que lhe gerou. Ali, começaria um novo ciclo.

O GarotoOnde histórias criam vida. Descubra agora