Mãe

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Os dias foram se passando com mais rapidez a medida que o garoto e Sarah foram se tornando mais amigos. Do lado do menino, era um escape total de todos os seus sentimentos escondidos sobre tudo o que havia acontecido em sua vida. Sarah começou a ser a pessoa para quem ele contava os sonhos, os pensamentos aleatórios do dia a dia, o que havia comido, se estava bem, se estava mal. E em compensação, Sarah retribuía com sorrisos sinceros a todos comentários felizes e chegava a chorar se o menino contasse algo mais triste ou acabasse se machucando.

A garota nunca chegou a falar nada sobre seus pais, sempre que algo era perguntado sobre ambos, fugia da conversa. O pequeno não sabia se era intencional ou não, mas nunca se preocupou em obter mais informações.

Logo, horas já não tinham tempo suficiente para que os dois pudessem colocar todos seus planos para serem executados. Dias inteiros não eram o bastante para cessar a vontade que tinham de ficar juntos. Com isso, meses passaram voando, deixando lembranças cada vez mais preciosas de ambos os lados.

Era dia trinta e um de dezembro. Sarah corria animada pela sala de estar da casa do garoto. A vó estava sentada, enquanto assistia mais um capítulo de sua novela.

— Você deixa ele vir comigo ver os fogos, vó? — os dias que a menina havia passado na casa de seu amigo já acumulavam de tal forma, que a menina acabara começando a chamar a mulher como se fosse da família também.

— Eu não sou mãe dele para ter que o permitir de fazer algo — falou de forma calma.

— Então vou falar com ele — Sarah, com suas pequenas perninhas, voltou a correr, agora até o quarto do garoto. Quando abriu a porta, o viu deitado, dormindo — por que você tá dormindo seis horas da tarde?

A menina foi ignorada. Então, começou a empurrá-lo de um lado para o outro da cama, mas mesmo de tal forma, nada aconteceu.

Quando a menina virou para sair do quarto e ir falar com a vó do garoto, em menos de segundos, o pequeno se levantou e a acertou com os dedos indicador e médio na lateral da barriga de Sarah, acima da cintura. A menina foi ao chão de imediato.

— Ai... — a voz da garota saía manhosa — doeu. Pra que fazer isso?

O menino abaixou para ver se Sarah chorava, mas no mesmo momento foi pego pelas orelhas. Sarah olhou nos olhos do outro e mostrou a língua. Por fim, saiu correndo da casa, rindo.

O menino, logo que entendeu que havia sido enganado, tapou as orelhas e as massageou até que a leve dor passasse, levantou e correu atrás da pessoa que seria alvo de sua vingança.

Quando saiu pela porta da sala, percebeu que a menina estava no outro lado da cerca, sentada na frente da porta da sua casa; sua cabeça estava entre os joelhos, com as costas na tábua de madeira que servia de entrada para o interior do imóvel.

— Sarah, agora você me paga — o garoto já se encontrava na frente da menina.

Entretando, Sarah levantou a cabeça e deixou que o menino visse suas lágrimas molhando seu rosto.

— Meu pai trancou a porta e o carro dele não tá na garagem — essas poucas palavras foram suficientes para que o menino percebece que não estavam mais brincando.

O garoto sentou ao lado de Sarah, desistindo e esquecendo do que faria. Colocou seu corpo na mesma posição que a menina e ficaram olhando os carros passarem pela rua sem dizerem coisa alguma.

O tempo foi passando, o sol terminando de se esconder, pequenas nuvens começaram a surgir no céu, junto a estrelas tímidas que polvilhavam o azul que cada vez mais escurecia.

O sol já havia deixado de participar do teatro, quando um pequeno risco brilhante fatiou o céu na diagonal.

— Você viu, Sarah? Uma estrela cadente — o menino levantou rapidamente e começou a se alongar.

— E o que é que tem?

— Faça um pedido. Minha mãe falou que eles se realizam antes que a gente se esqueça.

— Eu desejo que a gente sempre esteja junto.

— Não sei se isso vale.

— E o que você pediu?

— Queria que minha mãe voltasse.

No mesmo momento que a frase foi finalizada, um Gol branco estacionou na rua à frente da casa. O primeiro a sair foi o senhor Vieira, pai de Sarah e da porta dos passageiros, uma mulher alta, com pele morena e cabelos negros.

Sarah saiu correndo no exato momento em que viu a mulher, ambas esbanjavam felcidade. Depois de um longo abraço, a dúvida do menino foi tirada.

— Onde você tava, mamãe?

A mulher colocou a pequena no chão e enquanto caminhavam em direção à casa, respondeu.

— Muita história pra te contar, pode ser amanhã?

Por um momento o menino foi deixado de lado, tanto o pai, quanto a mãe de Sarah entraram com a garota, mas não demorou muito para que logo que fechassem a porta, ela abrisse novamente.

— Mamãe falou que quer te conhecer —  somente o rostinho de Sarah podia ser visto pela fresta da porta.

— Okay.

O GarotoOnde histórias criam vida. Descubra agora