Olhei ao redor, vendo o tempo se fechar ainda mais. Nesse momento, até a luz da lua parecia não estar tão aparente como antes. O vento gelado bateu na pele de meu rosto quase que causando dor. Os corvos se juntaram em uma ponta de árvore qualquer e pareciam estar aguardando alguma coisa, ansiosos. O barulho que eles emitiam era praticamente ensurdecedor.
Coloquei as mãos na cabeça quando me caiu na consciência de que aquela ida ali tinha sido uma péssima ideia. Pensei em voltar pelo mesmo caminho feito anteriormente, mas minha atenção foi tomada quando os corvos ficaram em completo silêncio. Olhei em volta procurando algo incomum e, de repente, ouvi um ranger. O galho que eu tinha colocado a aliança se moveu, mas não de uma forma comum. Tentei me aproximar para pegar a aliança, mas me afastei rapidamente no momento em o vi tentar segurar a minha mão... Não era um galho, era um braço. Um braço esquelético que se movia desesperadamente, parecendo querer se soltar daquela terra. Balancei minha cabeça, rindo incrédula.
- Não, não, eu estou ficando louca! - Impossível, aquilo era impossível. Com toda certeza alguém tinha colocado algo em minha bebida e isso estava me fazendo delirar. Cocei os olhos e os foquei ali novamente. Não era delírio, era real.
O solo começou a ruir, rachaduras começaram a ser formadas. O vento se intensificou, desta vez, ainda mais gelado. Dali, começou a sair uma mulher. Uma mulher com um véu e um vestido de noiva, negros e sujos de terra. Seus cabelos eram negros e uma franja bagunçada cobria sua testa. Ela levou sua mão até seu rosto afastando sutilmente uma mecha que caía por ele.Ela abriu os olhos, tão escuros e penetrantes, e encarou-me. Dei alguns passos para trás com o olhar ainda fixado nela. Minha mente me dizia que era para eu correr, mas minhas pernas simplesmente não obedeciam. Talvez por querer acreditar que aquilo era somente uma alucinação... Talvez por saber que não era e estarem paralisadas por medo.
Saí do meu transe quando a vi esboçar um meio sorriso e dar dois passos em minha direção.
- Eu aceito.Ela balbuciou. E não importa o quão suave e simples sua voz tenha saído, tê-la ouvido foi demais para mim. Sua voz foi o combustível que eu precisava para tomar as rédeas e sair correndo dali. Foquei apenas em meu caminho de volta para que meu nervosismo não atrapalhasse o meu percurso. Mas isso era praticamente impossível. Ficar calma era impossível. Meu coração batia tão rápido que parecia que iria saltar para fora do meu corpo a qualquer momento. Seus batimentos estavam tão altos que poderiam ser ouvidos por qualquer pessoa que passasse a quilômetros de distância dali.
Tropecei algumas vezes e me desesperei muitas outras quando olhava para trás e ainda conseguia ver sua silhueta. Corri mais. Corri o máximo que pude e, quando já estava perdendo as forças, avistei de longe o velho galpão, de onde eu nunca deveria ter saído. Parei por um momento e tentei respirar fundo e controlar os batimentos. Eu não podia aparecer lá assim.O que eu diria para as meninas? O que diria para Ajax? "Eu estava na floresta ensaiando e sem querer pedi uma morta em casamento". Não, isso era ridículo. Para quem quer for que ouvisse, até para mim parecia. Não, Enid. Isso não aconteceu, tudo foi coisa da sua cabeça.
- Eu vou abrir os olhos agora e nada disso vai existir. É apenas coisa da minha cabeça!
Apertei-os bem forte, contei até dez e olhei para trás em direção a onde eu estava anteriormente. E.. nada. Não tinha nada. Sorri satisfeita sabendo que aquilo não tinha passado de um sonho ou de sei lá o que. Decidida a voltar para a festa, virei-me novamente e, ao contrário do que eu pensava, ela ainda estava lá, cara a cara comigo, e bem mais próxima dessa vez.
- Agora, você já pode beijar a noiva...
Ouvi sua voz novamente e, no mesmo instante, senti minha cabeça girar. Tentei fugir, mas estava tonta demais para isso. Com a visão já turva, olhei novamente para seu rosto e, depois disso, só lembro de tudo ficando preto.
***
Desperto sentindo uma mão fazendo carinho em meu rosto. A empurro rapidamente.
- Ahh, me deixa dormir! - peço ainda sonolenta, deve ser o Ajax, será se ele não consegue dormir mais um pouco e deixar os outros dormir em paz não? Ainda é noite, pelo menos eu acho...
Me aconchego mais no meu travesseiro que estranhamente me parece muito mais confortável do que de costume. Tentei me entregar ao sono, mas, ao parece que Ajax não estava muito disposto a me deixar dormir. Logo senti suas mãos em meus cabelos fazendo um carinho leve, e é bem estranho, ele nunca faz isso..
- Mãozinha, será que ela vai demorar a acordar? - ouço uma voz suave, um pouco distante, não era a do Ajax, era fina e suave demais, parecia ser de uma mulher. Mas... o quê? Será que eu traí o Ajax? Não... não, impossível! - Estou ficando preocupada, ela está assim já faz uma hora. - a voz agora parecia apreensiva, mais nítida e de perto agora.
E então, eu lembrei do que houve... do meu sonho, nele eu tinha pedido um cadáver em casamento. A floresta, eu ensaiando os votos, colocando a aliança em um galho que se transformou em um braço... A mulher que saiu da terra, vestida de noiva dizendo que aceitava. Devia ser um sonho, e um sonho bem louco por sinal, daria até um filme... de terror, é claro!
E mais uma vez Ajax começou a fazer um carinho leve em meu rosto, realmente ele não vai me deixar dormir em paz! Com esse pensamento, decidi acordar, e assim que eu abri os olhos, piscando várias vezes, encontrei um rosto, mas, não era do Ajax, era o mesmo que eu vi no meu sonho... A mulher com um véu na cabeça, ela me encarava de uma forma um tanto... preocupada?! Seu braço esquerdo estava só o esqueleto, e eu estava deitada em seu colo, assim que me dei conta, arregalei os olhos e me levantei de supetão, me afastando um pouco e tentando raciocinar.
Eu estava de costas para ela, me recuso a olhar em sua direção, é loucura. Olhei ao redor, tentando entender o que estava acontecendo.
- O-o qu-ê? - questiono em um fio de voz, confusa, ainda está noite, tudo escuro, e estamos no meio da floresta novamente, a lua novamente era a única coisa que iluminava ali.Sinto sua mão gelada tocando meu braço, fazendo meu corpo se arrepiar no mesmo instante, puxei meu braço rapidamente. Me viro devagar, observando sua mão parada no ar em minha direção, ela me olhando atentamente, era como se estivesse tentando decifrar o que eu pensava.
Um ponto de interrogação bem no meio do seu rosto demonstrava a sua confusão.
- Você está bem, docinho? - ela perguntou, aproximando sua mão do meu rosto, de repente o que me chamou atenção foi uma mão decepada subindo em seu ombro, arregalo os olhos assustada e encarei a mulher novamente, seu rosto era pálido, seus cabelos eram lisos e ela estava suja de terra, e... em sua mão estava a aliança. - Está ouvindo? - ela balançou a mão em frente ao meu rosto.
E foi nesse momento que eu senti meu corpo mole e a visão turva.
Apaguei novamente.
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Qualquer dúvida estou a disposição!
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A noiva cadáver - Wenclair
FanfictionEnid e Ajax eram um casal perfeito! Mesmo com apenas um ano de namoro, a garota decidiu que já era hora de partir para o próximo passo... O casamento. E diferente dos costumes da sociedade, era ela que queria pedir o rapaz em noivado, achava justo...