Apagado - Hiatus

Capítulo I: Encontro

É curioso como as pessoas podem odiar o que elas não entendem ao invés de buscarem se educar e ter a mente aberta para aceitar tais coisas. E ele sabe que se o amado quarto hokage estivesse vivo, se ele apenas tivesse sobrevivido ao ataque da raposa, as coisas seriam muito diferentes para o seu querido filho. Filho esse que a população de Konoha abusa dia após dia com xingamentos, com o ostracismo, com a ameaça de espancamento e, essa situação somente piora, que vive num lugar péssimo; pichado, sujo e come mal. Isso, claro, quando ele tem dinheiro para comer. Ele se surpreende que o garoto dessa idade ainda consegue sorrir e seguir em frente, ele é tão novo e tão forte. Tão diferente dele.

Durante a guerra, era comum ver cada vez mais crianças se criando sozinhas sem o apoio de ninguém. Se adaptar naquela época te daria mais tempo para viver, afinal. Mas aqueles tempos ficaram para trás, enterrados nos livros de histórias e memórias dos mais velhos, e os orfanatos passaram a existir para a proteção das crianças, para ensiná-las e colocá-las no caminho certo para uma vida de sucesso. E ainda assim, nenhum dos orfanatos quis abrigar o jovem garoto por saberem o que estava preso dentro dele, por o temerem e odiarem. Nem o hokage se preocupou com isso e ele havia feito uma promessa.

Ele se lembra de ouvir como se fosse ontem. Prometo cuidar de Naruto, Minato, eu prometo. Ele disse ao quarto hokage em seu leito de morte, mas aparentemente ele mentiu. Como sempre.

Seus olhos amarelados seguiram a pequena figura retornando para casa logo no cair da noite, segurando um dos braços como de estivesse em dor aguda. E um bico crescia em seus lábios por não saber o porquê dele se importar tanto com o garoto se nunca antes eles haviam interagido diretamente. Mas uma parte irritante de sua mente o dizia que era porque eles eram iguais. Ambos não tinham um lar, não tinham pais e nem pessoas com quem pudessem contar. E isso fazia seu coração doer de uma forma inexplicável, ainda mais quando ele o viu cair de joelhos no chão, chorando.

Tomado por um ímpeto Orochimaru abandonou as sombras. O vento levantou seus longos cabelos enquanto ele deixava com que o seu tolo coração falasse mais alto, mas apenas porque dessa vez ele queria que alguém olhasse para ele de um jeito diferente, que não gritasse ou fugisse porque ele os atacou, somente por uma vez ele queria ajudar alguém sem ter nenhuma segunda intenção. E adorando o som egocêntrico de galhos se partindo e pedras rolando para fora de seu caminho, o sannin das cobras se agachou ao lado da criança com um pequeno sorriso.

"Eu não fiz nada!" O jovem Uzumaki gritou com lágrimas nos olhos, tentando se arrastar para longe do estranho antes mesmo que ele pudesse dizer uma única palavra. E o medo cru que brilhava em seus olhos fez com que o outro sentisse o estômago revirar. "Então me deixe em paz, dattebayo!"

Orochimaru piscou, incerto de como agir pela primeira vez no que pareceu uma eternidade. E conforme o silêncio se alongava ele notou os hematomas no rostinho do menor, vergões altos passavam a se formar sobre suas bochechas feridas e um de seus olhos se escurecia num roxo vibrante. Mais uma vez, aquele garoto traumatizado a sua frente fora espancado. "Quem fez isso?"

Ele tentou soar impessoal, insensível, mas sua voz tremeu e ele tocou a bochecha da criança com cuidado redobrado agora. No entanto, Naruto o estudou como se ele fosse uma ameaça em potencial, como se ele também fosse zombar de sua dor e o fosse enganar, esmurrar e o matar finalmente. Havia um medo especial escondido por trás daqueles vívidos olhos azuis como o céu matutino.

"E por que você se importa?" Ele retrucou teimosamente, estapeando a mão do homem para longe de seu rosto. Se forçou a levantar e encostou-se a uma das árvores como se não quisesse entregar ao outro que já não tinha forças para correr - uma pena que os olhos experientes do sannin conseguiram captar tudo, cada fraqueza, cada tremor, cada dor. "Eu nem te conheço... Você pode ser um deles..."