Oh, você é uma crise da minha fé
Teria, poderia, deveria
Se ao menos eu tivesse sido cuidadosa

Sentei-me na cozinha, olhando para o celular e algumas mensagens pendentes para serem respondidas. Porém, no momento que virei o copo de uma vez, a porta da cozinha rangeu e o cheiro de Gaia e sua presença se instalaram pelo ar.
Gaia parecia vir na minha direção, porém    esquivou-se para a bancada da cozinha, pegando em um tabuleiro e cortando algumas frutas da cesta. _Bom dia pra você também borboleta ,caso você não não tenha me visto aqui, já que sumiu por três dias sem explicação — ela respirou profundamente, como se precisasse d todo ar do planeta mas continuei. — Desse jeito o máximo que vai conseguir e estourar uma veia da cabeça borboleta  —Ela bateu com a faca no tabuleiro, espalmando as mãos na superfície e inalando fundo. Assim que virou, os seus olhos me dissecaram em chamas. A fúria orlou as suas íris dourada e azul, porém ao invés de me proporcionarem uma comoção negativa, o cós da calça apertou. _Estamos conversados — declarei.
_Não, não estamos. — Ela tornou a girar e fez mais uma leva de cortes nas frutas. _E melhor não se intrometer na minha vida Venturelli
_Não estou me intrometendo. Você que não consegue conversar normalmente. Me ouvisse talvez fosse diferente. _ Você quer que eu te ouça ?-Ela desistiu de manter-se concentrada e, finalmente, virou seu tronco na minha direção. _Finalmente estamos chegando ao meu ponto.
_Deus, você é um otário. — A impaciência esganiçou cada sílaba do nome ofensivo. — Não entendo o motivo de estar tão empenhado em estar perto de mim, ou o interesse em onde eu estou ,já avisei pra ficar longe de mim Leon, você não faz o tipo com quem eu fodo —Deixei parte do ar escapulir dos pulmões como um aviso claro.
_Gaia...A sua linguagem corporal traduziu sensações que estavam subindo a sua temperatura em níveis escaldantes. Pra caralho. Não ia dar bola para aquela conversa. Já tinha a minha paciência esgotada por problemas pessoais e não precisava de mais um com um sorriso travesso e os orbes fumegando. _Não estou interessado — disse seco. _Você está. E muito. Mas não se preocupe, posso ser bem imperceptível quando quero _Eu sou um militar, borboleta É impossível eu não saber quem entra e saí dessa casa. _E eu sou silenciosa. Não faço escândalos na hora de uma foda. — A sua voz saiu arrastada. Destrutiva. Quente. — Sou bastante experiente no que se trata de foder sem que ninguém me note. — Mais um passo em frente. As minhas narinas abriram e o oxigênio fluiu descontroladamente pelas minhas veias. O meu peito foi apunhalado pela sua respiração oscilante _E melhor ficar longe de mim senão quiser problemas — A paciência entrou no seu nível limite e a minha voz demonstrou um tenro timbre de ódio. — Acabamos por aqui. Espero que você ande na linha — Senão o quê? — O desafio gotejou em cada sílaba. — Isso é algum tipo de intimado da sua parte? Saiba que eu não tenho medo das suas ameaças Leon _ Deveria porque eu não sou do tipo silencioso. Logo de imediato, recriminei-me pela minha resposta. Que porra. Gaia ainda demorou a reagir até que os seus lábios curvaram. Era como se ela tivesse confirmação de algo e a minha reação tivesse sido o clique que necessitava. Antes que eu pudesse me defender, Gaia encurralou-me na cadeira, pousando o seu joelho na borda e a faca balançando perigosamente em suas mãos. Não me escapou como ela também segurava o objeto de maneira treinada. O menor dos meus ossos congelou, abraçando a vibração que drenou minhas artérias. Em todas as regiões inimagináveis do meu corpo. Em pouco tempo, a lâmina iniciou a sua passagem perigosa pela minha pele, o meu estômago reagindo como se estivesse sendo um exemplar de saco de pancada. Não deveria deixá-la me colocar naquela posição vulnerável, no entanto, a sua presença, a poucos centímetros do meu corpo, era um gatilho para um descontrole desproporcional na minha consciência. A razão estava em batalha com a emoção e as duas estavam perdendo para o comando da mulher diante de mim. — Bem que alguém me disse que quem late não morde — ela disparou. — Você deve ter muita experiência, não é? Gaia levantou a cabeça, empinando o queixo e o músculo da sua pálpebra pulsou em raiva. Seus olhos profetizavam vários jeitos de me matar, porém não era capaz de levar a sério com a sua mão firme na mesa e a outra manejando a faca que percorria satisfatoriamente por regiões fatais. — Você não me intimida, Leon. Muito pelo contrário. — Tem certeza? Porque você é a única pessoa se sentindo ameaçada a ponto de ter uma faca nas mãos. Somando um mais um, o rosto de Gaia trancou, dando-se conta do que estava fazendo. Estávamos falando em um volume absurdamente baixo, mas firme para que não houvesse rastros de incertezas em nossas palavras. Tentei não admirar a sua boca e cada linha do seu rosto. Queria manter o meu cérebro ocupado pensando em assuntos aleatórios, mas o metal frio relembrava que tinha Gaia quase a ponto de sentar no meu colo. Era absurdamente quente o que externava do seu corpo. Era um calor desumano. A sede esganou a minha garganta e as vozes do meu consciente diziam que não era vontade de beber água. — Você é a única pessoa nervosa — rebateu. — Você é a única pessoa prestes a sentar no colo de quem odeia, mas a discussão não é sobre isso, é? Aquilo foi a gota d'água para Gaia rumar a faca para o centro do meu peito. Todos os meus órgãos estavam em êxtase. Cada célula minha estava doseada por uma adrenalina intolerável. — Sabe o que eu acho? — O seu olhar capturou o meu, e um dos meus botões foi arrancado. — Você ainda não entendeu quem manda aqui. — Mais outro botão arrancado. — Então, vou deixar um aviso claro. Outro botão. E mais outro. A faca arrancou o bastante para deixar o meu peito descoberto. Ela não se importou se essa camisa custaria mais do que o aluguel da casa, ou se a faca teria me ferido e atravessado minha pele. Gaia parecia ter plena noção de que conseguia ser uma destruição com corpo e alma. E eu estava gostando. — Eu não sou da sua conta. Não faço parte da sua vida e nem quero. — Querido, você é um aviãozinho de papel e eu sou o 747— continuou. — Não vá pensando que é igual a mim só por que pode voar um pouco.
A faca deslizou do meu abdômen para o topo, suportando o meu queixo e o erguendo. Assim, me limitou a encarar os seus furacões que exalavam terrores quentes. O seu semblante contraído e os seus gestos tomados pela raiva eram um adesivo na minha mente. Ela era linda. — Estamos conversados? Umidifiquei os meus lábios no instante em que Gaia repousou a faca na mesa da ilha e se afastou.

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⏰ Última atualização: Apr 25, 2023 ⏰

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