Capítulo 81 - Cura

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"Vamos lá novamente, você poderia me repassar a informação? Confesso que ontem estava meio sonolenta quando você me ligou" 
"Claro, aliás, me perdoe por aquilo Lynn, espero que a Mel não tenha ficado brava comigo" 
"Não, na real ela achou que você tinha ligado pra falar com ela… Ela ficou meio enciumada depois quando soube que você queria falar comigo na verdade, mas enfim, o que eu posso fazer pra ajudar o caso de vocês?" 
"Bom, primeiramente eu gostaria de pedir desculpas por uma completa falta de percepção, eu deveria ter incluído você na equipe desde o começo, estamos tratando uma criança, a presença de uma pediatra especialista era essencial" 
"Ah, tá tudo bem, não se preocupe, se a minha própria esposa não lembrou de me incluir na equipe…" Lynn falou casualmente, mas Takina imaginou se a amiga estava realmente frustrada com a esposa ou não. 
"Enfim… eu estive pensando toda a noite sobre esse caso em especial de uma nova ótica, não sei se a Mel estava contando sobre os detalhes, mas condição de saúde de Kaori estava se deteriorando de forma que não conseguíamos estabelecer um padrão, mas talvez estivéssemos procurando em locais errados" Takina pontuou enquanto abria o computador em vários arquivos e mostrava para Lynn "Esses são os primeiros exames e testes feitos quando a Kaori nasceu, deu um trabalho para a galera do hospital central de Osaka achá-los" 
"São bem detalhados até, ainda que seja um padrão nacional a realização de exames assim em bebês" disse Lynn olhando os documentos. 
"Consegue perceber alguma alteração significativa?" perguntou Takina. 
"Hummm olhando bem rapidamente acho que somente essa enzima aqui" Lynn apontou pra tela "É razoavelmente comum para alguns bebês nascerem sem ela, com algum tempo o organismo se regula e a enzima começa a ser produzida o suficiente para balancear as demais células do corpo, se não acontece a gente trata com remédios até que tudo se estabilize, não é nada muito anormal"
"Exato… eu imaginei que fosse isso mesmo" Takina então abriu mais arquivos de outras pessoas, e Lynn começou a lê-los também. "Está vendo alguma semelhança?" 
"Sim, a mesma condição de alteração na enzima" Lynn respondeu prontamente. 
"Sim, exames de algumas pessoas que tiveram a mesma condição que Chisato e Kaori" 
"Então você quer dizer que…" 
"... As duas circunstâncias estejam conectadas? É cedo e preliminar demais afirmar com certeza mas eu tenho uma forte convicção de que sim" 
"Que… Impressionante! Ninguém nunca chegou a se atentar para isso?" perguntou Lynn intrigada. 
"Eu creio que não, são poucos estudiosos que tiveram a chance de analisar tão a fundo essa condição clínica, e eu mesma que passei anos nisso jamais tive acesso a dados tão detalhados de exames pós nascimento dos pacientes" 
"E se tratando de algo tão simplório como análise sanguínea básica, coisas como essas acabam passando despercebidas… Doutora Takina, a senhora é genial" 
"Não, quero dizer, nesse caso nem foi tanto… Eu deveria agradecer às minhas filhas" 
"Como assim?" perguntou Lynn confusa. 
"Ontem a noite, minha caçula Chika disse suas primeiras palavras, e foi justamente chamando sua irmã" 
"Que coisa mais linda" 
"Foi nesse momento que eu pensei o quanto eu estava contente que minhas meninas estavam seguras e saudáveis, que eu faria de tudo pelo bem estar delas… esse foi o instante que lembrei de todos aqueles exames que fizemos em Chika, que tudo parecia saudável que lembrei que era exatamente essa única agulha do palheiro que nunca tinha mexido em anos de estudos da doença."
"E foi justamente aí que você encontrou" 
"Exatamente" Takina confirmou a teoria de Lynn "Ainda preciso cruzar mais dados e pra isso que gostaria da sua ajuda, de toda ajuda possível, pra confirmar essa minha análise teórica, porque se for verdade mesmo…" 
"Podemos tratar Kaori!" 
"Você também acha possível né?" Takina se animou. 
"Sim, quer dizer, é uma chance, um tiro no escuro, mas acredito que sim" 
"Você falou de uma medicação que ajudava a estabilizar a enzima e regularizar a condição final, correto?" perguntou Takina. 
"Sim, um coquetel de medicamentos pode funcionar se aplicarmos em tempo hábil e claro, se o coração dela aguentar" 
"Então mais do que nunca, temos uma corrida contra o tempo"
"Temos" disse com motivação Lynn "Vou avisar a Mel que vou chegar pra janta hoje" 
"Algo me diz que ela vai querer se juntar a nós no final das contas" falou Takina, já sabendo que Lynn também acharia isso. 
 
"Bom cara Família da Kaori, eu gostaria de informar os últimos estudos médicos que obtivemos com o Centro acadêmico japonês e até mesmo algumas amostras internacionais" 
"Internacionais?" perguntou a sempre curiosa Kaori, interrompendo a Takina. 
"Sim, eu faço parte de um comitê Internacional de estudos que analisa os casos semelhantes ao seu, e por mais chique que pareça, infelizmente se resume a pouco mais de uma dúzia de médicos, mas enfim, eu gostaria de dizer antes de mais nada que graças a condição médica da Kaori nós pudemos ter em primeira mão acesso a uma informação que pode alterar como trataremos o caso a partir de agora"
"Como assim?" perguntou a mãe de Kaori. 
"Até então sempre analisamos as condições clínicas dos pacientes com pouco tempo de antecedência que levavam eles à ocorrência antes da internação, e no máximos condições clínicas na infância, nunca desde bebês" 
"Você quer dizer que eu já nasci mesmo com isso?" analisou bem inteligentemente Kaori. 
"Exato, gostaria de mostrar nessa imagem o primeiro exame que Kaori teve, reparem nessa enzima que chamarei de enzima X, ela tem uma decaimento que foi se estabilizando ao longo dos meses seguintes ao nascimento e ficando completamente normal no decorrer da infância. Isso infelizmente é algo que pode ocorrer em várias crianças então sempre passou despercebido em vários estudos médicos. Acontece que em raríssimos casos, como esse da Kaori, que para estabilizar a ausência da Enzima X, o corpo acaba drenando outras coisas com similaridade em sua constituição, entre elas a enzima que trabalha no funcionamento do coração, debilitando o órgão até fazê-lo parar de funcionar como deveria e bom, vocês já sabem."
"Então se isso acontece com outras crianças, por que é tão raro e eu fui a sorteada?" Kaori sempre fazendo as perguntas certas. 
"Bom, essa é a pergunta que vamos nos debruçar em estudar ao longos dos anos, mas é uma condição genética bem particular, boa parte das crianças que apresentam essa variação na infância e o corpo não auto regulariza a produção da Enzima X, é tratada com um medicamento que acaba fazendo isso por elas e em pouquíssimo tempo o corpo já está novamente balanceado" Takina então se levantou da cadeira e ficou mais séria ainda "É justamente por causa disso que eu gostaria de propor algo aqui: nossa junta médica, mais o grupo de médicos que falei que fazem parte do grupo de estudos internacionais elaboramos um coquetel médico que deve funcionar com alta taxa de sucesso para restabelecer a condição cardíaca da Kaori"
"Sério? Sem precisar de cirurgia?" Kaori pulou na própria cama animada. 
"Em teoria sim, mas é por isso que estou falando aqui com vocês. É um tratamento inédito no mundo, os prognósticos são bem positivos mas quero que saibam dos riscos e das possibilidades, é um ineditismo da maneira como trataremos essa doença, só podemos prosseguir com a anuência da família"
"Eu topo!" Kaori disse sem nem pestanejar. 
"O que? Minha filha, calma, apenas que…" 
"Calma que nada, eu confio plenamente na doutora Takina" 
"Kaori, a sua mãe tem razão, essa é uma decisão muito importante que vocês…" 
"Doutora?" 
"Sim?" 
"Se esse negócio todo der certo, milhares de pessoas no mundo vão se beneficiar disso né?" 
"Sim, com certeza" 
"Então ótimo, manda ver! Eu quero ser útil nisso… Sem falar que eu imagino que eu mesma não tenha muito tempo" 
"É, tempo conta muito agora e…" 
"...e meu coração novo tem poucas chances de aparecer tão cedo né? Então por mim manda ver" 
"Kaori, eu…" Takina ficou até sem palavras com tanta comoção da garota. Foi então que a mãe da menina tomou a vez de falar. 
"Olha, se a minha filha está tão comovida e motivada em ser assim, eu não tenho objeção alguma, apoiaremos a decisão da nossa garota, doutora Takina" 
"Então está certo, traremos os documentos necessários e começaremos ainda hoje a ministrar os medicamentos" disse Takina arrancando mais um sorriso de Kaori.
 
 
"Doutora Erika, já temos o relatório semanal?" 
"Sim, aqui na minha mão" Erika balançava os papéis na frente de todas as médicas da sala tão logo tinha entrado. 
"E o que diz aí?" perguntou Lynn angustiada. 
"Mais uma vez, erramos os prognósticos… E mais uma vez, erramos para menos, a taxa de regeneração está 13% maior do que Takina preveu" 
"Droga, perdi a aposta" Mel sorrindo amassou um papel qualquer na sua frente. 
"A Takina errou, mas foi a quem teve os cálculos que chegou mais perto" disse Erika dando de ombros "Ela nunca erra na verdade… Aliás, cadê ela?" 
"Ela saiu direto do boletim diário com a família da Kaori para uma vídeo chamada com o grupo de estudos internacional dela" disse Yamagishi. 
"E ela sequer pensou em levar com ela os dados de uma semana de tratamento pra contar na reunião dela?" perguntou Erika inconformada.
"Pelo visto não, mas convenhamos que os dados preliminares de ontem já eram bastantes animadores para apresentar ao conselho… E falando na pessoa" Mel se freou assim que viu Takina retornar. 
"Vocês estavam falando de mim?" perguntou Takina. 
"Basicamente, mas mais exatamente de como você foi quem chegou mais próxima da taxa de aumento da recuperação celular de Kaori: treze porcento!" 
"Oba, hoje ganho um almoço grátis" 
"Outro almoço grátis" lembrou Mel "Mas e aí, como foram suas reuniões?" 
"Ah, as três foram bem proveitosas" 
"Três?" 
"Sim, a família segue muito animada e Kaori cheia de planos, ela já sabe até a escola de música que pretende frequentar quando receber alta" 
"Que fofa" disse Lynn. 
"Depois o grupo norte americano que participou da conferência acredita que já podemos considerar um sucesso o tratamento e recomendar esse procedimento nos próximos casos que aparecerem como padrão" 
"Uau, isso sim é incrível" disse Yamagishi surpresa. 
"Claro que mais estudos seguirão sendo feitos por toda comunidade médica, mas em casos como o de Kaori, já temos essa possibilidade de atuação clínica" 
"Isso é incrível Takina, de verdade… E tudo graças a você!" disse Erika emocionada. 
"Não é nada, eu não teria feito nada sem a ajuda de vocês" disse Takina para suas colegas. 
"Pode ser, fizemos um trabalho braçal, ou melhor mental, mas quem teve a ideia inicial foi você" Mel deu o braço a torcer. 
"Aliás, falando nisso, eu tive uma ideia a mais e fui conversar com a diretora do hospital na saída da videoconferência" 
"A diretora do hospital? Ah, você mencionou uma terceira reunião mesmo" 
"Ela já ciente de toda a nossa operação especial quis saber dos avanços e decidi repassar uma ideia que tive por impulso: uma campanha nacional de prevenção" 
"O que?" todas as médicas falaram ao mesmo tempo. 
"Legal que tenhamos uma espécie de tratamento agora, mas tudo isso não deixa de ser uma experiência terrivelmente complexa e pesada para todos, paciência, família, médicos, além claro dos custos… Então se nós achamos a solução disso em exames feitos logo após o nascimento, por que não atuar logo ali?" Takina disse e as colegas médicas logo seguiram seu raciocínio. 
"Faria todo sentido, se a gente já diagnosticar os bebês com sofrem da ausência da Enzima X, já podemos começar o tratamento para o balanceamento da condição de saúde dele e em menos de um mês ele já estará livre de qualquer chance de desenvolver a condição rara no coração" Lynn falou surpresa. 
"Exato! Foi o que falei para a diretora do hospital, já sabendo que ela faz parte do comitê de hospitais do Japão e do ministério saúde nacional japonês" 
"E o que ela falou?" perguntou Erika. 
"Ela disse que era uma excelente ideia, especialmente depois que apresentei os dados que iríamos economizar em tratamentos, é claro" 
"Ah, é claro" Yamagishi completou. 
"Ela perguntou se eu estaria disposta a apresentar essa proposta para mais pessoas se fosse possível, e eu disse que sim, sem problemas" 
"Fabuloso Takina" disse Erika a mais empolgada da sala "anos atrás, no colégio quando te conheci, sabia que iria chegar um dia que você iria fazer diferença para o mundo, com todo seu intelecto, e aqui você está" 
"E aqui nós estamos, todas nós, cinco mulheres" disse Takina completando a amiga. 
"E pensar que eu vi vocês crescerem, ensinei vocês…" Mel fingiu emoção na voz. 
"Hey, não vem com essa de ver crescer, eu já estava bem crescida quando você me conheceu" corrigiu Lynn. 
"É verdade querida, mas não pode fingir que por pelo menos um curto espaço de tempo fui a professora de vocês?" 
"Ok, isso é verdade" e então o clima festivo e divertido estava implantado na sala médica. 
 

Lycoris Recoil High SchoolOnde histórias criam vida. Descubra agora